Sinto muita dificuldade em me aceitar e sofro demais. E agora?

Por Patricia Gebrim

Penso que muito do sofrimento humano vem da nossa imensa dificuldade em aceitar a nós mesmos e ao mundo com todas as suas nuances, a beleza e a feiura, as virtudes e os defeitos, a luz e a sombra, o bem e o mal.

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Como crianças, preferimos recorrer à imaginação a encarar a verdade nua e crua da vida, do mundo e das pessoas. Inventamos cenários que não existem, distorcemos cenas que vivenciamos, criamos falsos personagens e assim temos de lidar com as pessoas não como elas são de verdade, mas com a imagem que fazemos delas. Todos os dias acordamos e nos enfiamos naquela roupa inventada que achamos bacana e que tem por objetivo esconder nossas imperfeições e nos ajudar a acreditar que somos alguém que gostaríamos de ser.

Eu sei… Tanto temos ainda para crescer. Em nossa imaturidade, parece tão mais fácil mentir, enganar, distorcer e ocultar do que permitir que o outro nos veja, inocentemente, nus e desarmados, como viemos ao mundo. Ser inteiro e verdadeiro é tarefa de tal monta que escapa à limitada capacidade dos covardes.

Admiro com toda a minha alma aqueles que bancam seus valores, mesmo quando são discordantes dos valores da maioria. Admiro os que são capazes de expor suas chagas e feridas, que desfilam sua feiura, seus medos e vulnerabilidades, de peito aberto, corajosamente, sem máscaras.
 
Ninguém é verdadeiro "pelo outro". Nesse caso a mentira sempre parecerá mais conveniente. Aqueles seres raros e lindos que são capazes de sustentar a verdade o fazem por si, pela pessoa que decidem ser, pelos valores que passaram a fazer parte de seu ser.

Verdade não é uma atitude que escolhemos ou não. Verdade é o que se é. Ou não… E nesse caso, não importa o quanto seja polida, a máscara sempre será apenas uma máscara, uma pretensão, um desejo de se ser o que não é, o sorriso triste do palhaço.

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A mentira traz em sua bagagem a ausência de dignidade, a falta de paz, o medo constante, a morte da espontaneidade, a separatividade (de nós mesmos) e uma vergonha que, mesmo que sejamos capazes de ocultar do mundo, nunca deixará de nos queimar em brasas, marcando nossa pele como fazem os fazendeiros com o gado.

Não sou eu quem vai dizer a ninguém que caminho seguir ou escolher. Prezo imensamente a liberdade de escolha de cada Ser e acredito no livre-arbítrio. Mas não deixo de desejar, em meu íntimo, que sejamos capazes de fazer o nosso melhor para mantermos nossa pele longe dos ferros ardentes que inevitavelmente marcam aqueles que se contentam em fazer parte dos rebanhos.

 

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