Sinto vontade de mastigar ferro e metal. O que fazer?

Por Danilo Baltieri

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“Eu tenho vontade de mastigar ferro e metal. Desde criança eu sempre gostei de sentir o gosto de ferro. Eu pego um clips, lacre de latinha ou anel e fico mastigando como se fosse chiclete. Alumínio é muito bom, mas ultimamente eu tenho tido vontade de tomar sangue… Por que eu amo, gosto de sangue?
Eu queria saber se isso afeta em algo na minha vida, principalmente na parte de saúde. Estou com 20 anos. Grato desde já.”

Resposta: Os comportamentos de ingestão/mastigação de itens não comestíveis são altamente complexos e heterogêneos, principalmente entre aqueles que manifestam fissura intensa por tais itens.

Os itens per si também variam bastante, incluindo metais, unhas, pedras, terra, papel, plástico, sangue etc. Em alguns casos, tais comportamentos, especialmente aqueles nos quais o indivíduo começa, insidiosamente, a desejar ou mesmo mastigar ou ingerir ferro ou até sangue, problemas hematológicos (tais como anemias) devem ser investigados. Outrossim, alguns desses comportamentos podem estar intimamente associados com diferentes transtornos neuropsiquiátricos bem como com condições físicas ou mentais transitórias.

Tais comportamentos recebem o nome técnico de Pica, Malácia ou mesmo Alotriofagia. Nos estados gravídicos, não é incomum o surgimento de desejos temporários de ingerir itens não nutritivos ou mesmo não comestíveis. Isso também pode ocorrer quando o indivíduo apresenta alguma infestação parasitária intestinal.

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A prevalência desses comportamentos na população geral não é conhecida com precisão. Entretanto, são mais frequentemente vistos em crianças menores de 12 anos de idade. É importante ressaltar que muitos adultos que manifestam esses comportamentos acabam por não reportar para terceiros, o que dificulta o registro da ocorrência.

Outrossim, a ingestão/mastigação de alguns itens não nutritivos ou mesmo não comestíveis pode ser aceita em certos contextos culturais, naturalmente que justificados por conceitos implícitos dessas comunidades específicas. Por exemplo, a ingestão de argila por algumas tribos aborígenes australianas é considerada culturalmente aceitável, visto que membros dessas tribos associam esse material com a fertilidade.

Muitos estudos já publicados têm associado o quadro de Pica com a deficiência de ferro sanguíneo. Um dos comportamentos mais citados nos gêneros textuais médicos é a fissura pela mastigação/ingestão de gelo, conhecida também como Pagofagia.

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Na verdade, a deficiência de ferro sanguínea pode estar relacionada com a redução de receptores cerebrais para o neurotransmissor conhecido como Dopamina (particularmente os receptores do tipo D2) e, com isso, comportamentos de busca por novidades e sensações podem aparecer. Por outro lado, devemos considerar também que, caso o comportamento de Pica seja persistente, outros itens alimentares e nutritivos poderão deixar de ser consumidos, levando, assim, o indivíduo a apresentar deficiência de ferro bem como de vários outros elementos essenciais para o organismo.

Esses comportamentos, especialmente quando o indivíduo ingere determinadas substâncias de forma persistente e continuada, podem ser extremamente danosos, uma vez que itens não comestíveis podem conter diferentes intoxicantes.

O portador de um quadro de Pica ou Malácia deve realmente procurar um especialista psiquiatra e realizar rigorosa investigação. Exames físicos (incluindo exames de sangue, claro) e psiquiátricos têm que ser realizados para que se possa determinar o mecanismo de causalidade ou mesmo de correlação com o quadro.

Se uma anemia for identificada, o tratamento adequado e específico é mandatório. Se o comportamento de mastigação/ingestão dos itens não comestíveis for compulsivo, medicações apropriadas poderão ser prescritas. Dependendo do diagnóstico médico, diferentes formas de modificações comportamentais bem como identificação de situações disparadoras do comportamento deverão ser desempenhadas.

Você está percebendo que seu comportamento não está adequado. Dessa forma, procure um médico especialista e reporte para ele todo o seu quadro, sem esconder quaisquer detalhes. Não perca tempo !!!

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.