Por Rita Stella
A terceira e última gravidez de Luciene Paula Pereira foi tranquila; ela chegou ao parto sem os medos e dúvidas que haviam cercado as duas primeiras gestações. E a experiência dos partos anteriores não a ajudou muito; pelo contrário, ela conta que seus filhos já estavam mais velhos e ela não se lembrava mais de nada. O que garantiu a segurança de Luciene foi o acompanhamento recebido através do projeto Prenacel.
A auxiliar administrativa Luciene foi uma das 1.210 gestantes que fizeram pré-natal, entre abril e junho de 2015, em uma das 20 UBS de Ribeirão Preto escolhidas para receber o piloto do Prenacel. Desenvolvido por uma equipe da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, o projeto oferece informações às gestantes e seus parceiros sobre os períodos pré-natal e pós-parto por meio de mensagens curtas de texto (SMS) pelo celular.
Conta João Paulo Souza, professor do Departamento de Medicina Social da FMRP e um dos responsáveis pelo Prenacel, que houve uma notável diminuição da mortalidade materna no Brasil nos últimos 25 anos. As últimas estimativas da OMS, para o ano de 2015, sugerem que ocorram cerca de 44 mortes maternas por 100.000 nascidos vivos, redução de aproximadamente 60% nos últimos 25 anos. Mas muito ainda precisa ser feito para alcançar a meta de 22 mortes por 100.000 nascidos vivos, estabelecida pela Agenda 2030, nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas. Garante o professor que os fatores determinantes da mortalidade materna são complexos e multifatoriais e que para essa redução é fundamental melhorar a qualidade dos cuidados pré-natais.
É justamente na esteira desses cuidados que o Prenacel avança. Pois, embora 98,7% das gestantes brasileiras tenham acesso a programa pré-natal, “garantir a qualidade desses atendimentos continua a ser um desafio”. Souza lembra que condições evitáveis, como a sífilis congênita, continuam sendo questão de saúde pública. Levantamentos recentes mostram que 27% das gestantes compareceram a menos de seis visitas médicas de pré-natal, 11,9% não passaram por testes para sífilis e 18,3% não foram testadas para o HIV.
Acredita o professor Souza que o investimento em educação dirigida às próprias gestantes, como no modelo proposto pelo Prenacel, permite que elas reconheçam quando estão recebendo uma boa assistência pré-natal. E mais, elas conseguem verificar suas próprias deficiências de cuidado, identificando possíveis pontos negligenciados no atendimento básico ao pré-natal e “são encorajadas a se tornarem campeãs de sua própria saúde”.
Foi através das informações recebidas pelo celular, respondendo às suas principais dúvidas, que Luciene passou tranquilamente pelos meses de gestação e chegou ao hospital para o parto sentindo-se segura. Ao falar de sua experiência, ela diz que teria sido ótimo se pudesse ter tido contato com o apoio do Prenacel nas gestações anteriores.
A equipe da USP desenvolveu um sistema de informação e comunicação capaz de distribuir automaticamente mensagens de texto relacionadas ao tema (cuidados pré e pós-natal). Durante um ano, entre abril de 2015 e maio de 2016, as gestantes participantes receberam essas mensagens por SMS pelo celular e também enviaram suas dúvidas, respondidas pela equipe da USP. No total, o sistema enviou 21.703 mensagens programadas e recebeu 1.087 com dúvidas, sugestões ou comentários sobre o serviço. As respostas somaram 1.230 mensagens.
O projeto avaliou e comparou a adesão aos cuidados recomendados para o pré-natal entre as mulheres que receberam as informações do Prenacel. Após três meses de recrutamento, 116 mulheres receberam o pacote de SMS do Prenacel.
Após a avaliação realizada ao final nas maternidades, os pesquisadores verificaram que, entre as mulheres que receberam o conteúdo enviado por SMS, estava o maior porcentual de gestantes que aderiram aos cuidados recomendados, particularmente as consultas pré-natais e a triagem sorológica para sífilis e HIV.
Com a aprovação do sistema de mensagens pelo celular, a equipe da USP acredita que o Prenacel “é um componente útil a ser adicionado na rotina do cuidado pré-natal no Brasil” e trabalha agora para que o projeto seja adotado pelo Ministério da Saúde e pelas Secretarias de Estado e Municipais de Saúde.
Mais informações: (16) 3602-2516
Fonte: Agência USP