por Rosemeire Zago
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Dando sequência à série de artigos sobre ‘Os Sete Pecados Capitais’: gula, soberba, luxúria, vaidade, preguiça, ira e inveja, irei abordar a soberba.
São Tomás de Aquino considerou a soberba um pecado específico, embora possa ser encontrado em todos os outros pecados. A soberba é a forma básica do pecado. Ela teria sido a responsável pela desobediência de Adão, que provou o fruto proibido com a ambição de se tornar Deus. A soberba leva o homem a desprezar os superiores e a desobedecer as leis. Ela nada mais é que o desejo distorcido de grandeza.
A pessoa que manifesta a soberba atribui apenas a si próprio os bens que possui. Tem ligação direta com a ambição desmedida, a vanglória, a hipocrisia, a ostentação, a presunção, a arrogância, a altivez, a vaidade, e o orgulho excessivo, com conceito elevado ou exagerado de si próprio. Quantas pessoas de nosso convívio conhecemos com algumas, ou todas, essas características?
Em algumas citações dos sete pecados, utiliza-se o termo cobiça, que é ambição desmedida, o desejo veemente de possuir bens materiais. Em outras citações podemos encontrar o termo soberba que é o orgulho excessivo, arrogância, elevação ou altura de uma coisa em relação à outra, e que leva à soberania, que é o poder ou autoridade suprema. E ainda podemos encontrar o termo orgulho, conceito exagerado de si próprio, com amor próprio demasiado. Ou seja, esse pecado tem relação direta com a ambição desmedida pelo poder e o orgulho exagerado.
A soberba no trabalho
No campo profissional aparece com a sensação de que “eu sou melhor que os outros” por algum motivo. Isto leva a ter uma imagem de si inflada, aumentada, nem sempre correspondendo à realidade. Surge com isso a necessidade de aparecer, de ser visto, passando inclusive por cima de padrões éticos e vendo os outros colaboradores ou colegas minimizados.
Geralmente, pessoas com essas características ocupam cargos elevados e utilizam seu poder para impor suas vontades, manipulando as pessoas ao seu redor com o intuito de conseguirem que tudo seja feito conforme seus desejos. Exigem ainda uma disciplina perfeccionista, não respeitando os limites de cada um. Podemos citar o exemplo de gestores que tomam determinadas decisões por questões de orgulho pessoal, ferindo muitas vezes as metas organizacionais, mas com o único objetivo de dar vazão a este sentimento, o que certamente trás resultados desastrosos a longo prazo.
A pessoa com essa característica e por sua necessidade de destaque dentro da empresa, despreza as ideias e decisões da equipe, não reconhecendo a capacidade desta. Toma as decisões, muitas vezes sozinho e, na hora de reconhecer o fracasso, diz que a decisão foi em equipe e no sucesso diz que a ideia foi dele. Típico de pessoas que querem ter sempre o destaque nos grandes projetos. Não percebem que a melhor maneira de estimular o crescimento não é impondo regras, mas fazer com que cada um descubra em si mesmo seu potencial, estimulando a independência. Com isso a equipe passa a não participar de decisões, sabendo que é “voto vencido”. A equipe passa a ter uma postura defensiva, preocupando-se não com as decisões, mas em não absorver culpas.
Quem é acometido pela soberba, em nome do poder, quase sempre sacrifica sua tranquilidade, a convivência com a família, uma relação afetiva saudável, a própria saúde, tudo para conquistar ou manter uma posição de destaque, não importando o preço a ser pago, em geral, muito caro. A pessoa orgulhosa por não suportar a dependência, menospreza os sentimentos das pessoas, se colocando sempre como um “ser superior”, como se estivesse num pedestal difícil de ser alcançado. Com isso, a soberba acaba acarretando muitos conflitos nas relações pessoais, afetivas, familiares, pois quem a comete busca manter o controle, criticando, manipulando e dominando, como forma de manter seu poder e autoridade. Ela precisa fazer com que o outro se sinta diminuído para que ela se sinta superior.
Sede de poder
Não encontramos o poder apenas na política ou nos cargos elevados. O poder como a capacidade de fazer com que outras pessoas ajam na dependência de sua vontade, pode ser encontrando em muitos exemplos em nosso dia a dia. Quantos pais não exercem seu poder com seus próprios filhos? A dona de casa que impõe sua vontade com a diarista? Quantas pessoas que se aposentam não ficam em depressão pela perda do poder que isso acarreta? Não querer abrir mão de uma autoridade que durante tantos anos deu sentido e valor à sua vida, pode trazer muito sofrimento, mas que também não é assumido. Ninguém abre mão do poder, ou sequer, de uma parcela dele, com facilidade e satisfação. A perda do poder, ou de uma parcela dele, muitas vezes é sentida como sendo alguém de menor valor, pois são pessoas mais preocupadas em ter do que em ser.
O conceito exagerado de si próprio, o amor-próprio demasiado, a necessidade de poder, são apenas máscaras que buscam compensar a falta de amor que sente por si mesmo, pois possui em geral uma necessidade de auto-afirmação. O orgulho está diretamente relacionado com a falta de amor-próprio. A ambição pelo poder e a aquisição de bens materiais podem ser uma forma de compensar um sentimento de vazio. Esse impulso para o poder, essa necessidade de querer ter mais, pode ainda ser consequência do sentimento de inferioridade e da sensação de desamparo, fragilidade e impotência, presentes em muitos de nós. Porém, esses sentimentos são mais intensos naqueles que, nos primeiros anos de vida, não encontraram junto aos adultos com quem conviveram, o conforto, o acolhimento e o amor que amenizassem esse desamparo. O que explica o fato da necessidade de poder ser vital para algumas pessoas e de menor significado para outras.
A soberba está muito distante da humildade, característica básica de quem possui algum autoconhecimento. É lamentável que algumas pessoas só percebam esses comportamentos no final de suas vidas, muitas vezes num leito de hospital, quando muito pouco podem fazer para reconstruírem o que destruíram, nos outros e, principalmente, em si mesmas. É preciso desenvolver a consciência que seu valor enquanto pessoa independe da posição ou aquisição, mas que acima de tudo, somos todos seres humanos, em constante processo de evolução, independente do que temos, mas com certeza por aquilo que somos.