por Monica Aiub
Em “O que é filosofia?”, Deleuze e Guattari apontam como tarefa da filosofia a construção de conceitos. Segundo eles, vivemos um plano de realidade que nos coloca problemas. Um problema filosófico se caracteriza por ser insolúvel diante dos conceitos que constituem seu plano de realidade.
Para responder a tal problema, nossa tarefa consiste em conhecer nosso plano de realidade, assim como elementos de outros planos, para que possamos desconstruir os conceitos que necessitarem de desconstrução e construir – recortando, articulando e sobrepondo estes ou novos elementos – novos conceitos que respondam às questões de nosso plano de realidade.
Quando fazemos isso, criamos um novo conceito que responde às questões e com isso, movimentamos a realidade, tornando-a outra. Novos conceitos, novas questões, novos problemas surgem e recomeçamos tudo outra vez.
Esse movimento parece ser infindável e, portanto, absurdo. Por que o fazemos então? Segundo esses autores, o fazemos porque somos responsáveis pelo mundo que estamos construindo para as futuras gerações. Se apenas repetimos o que nossos ancestrais fizeram – e o fizeram na tentativa de responder às questões de seu tempo – somos responsáveis pelo mundo que construímos com nossa repetição. Se construirmos algo diferente disso, tentando responder às questões de nosso tempo, também seremos responsáveis.
Não podemos exigir que pensadores como Kant estivessem preocupados com a Teoria da Relatividade ou com a mecânica quântica; não podemos querer que Aristóteles trouxesse, entre suas questões, o aquecimento global; nem devemos cobrar de Platão o fato de não ter pensado nos problemas que o sistema capitalista e sua globalização nos trazem. Contudo, esses problemas dizem respeito a nosso tempo, a nosso plano de realidade e, por isso, necessitamos pensar sobre eles, precisamos responder às questões que se colocam para nós, sob a pena de inviabilizarmos a vida em sociedade ou, pior, a vida no planeta.
Se não somos seres totalmente determinados, se podemos participar da construção de nossos mundos e modos de ser, somos responsáveis por nossas escolhas e atitudes, e, conseqüentemente, somos responsáveis pelo mundo em que vivemos e que deixamos de herança para as próximas gerações. O que fazemos por nosso mundo? Construímos modos de ser para a paz? Ou compreendemos a competição e a guerra como uma necessidade e uma determinação e nos tornamos responsáveis por perpetuar uma sociedade de violência e miséria? Quando pesquisamos nossa realidade, quais os nossos objetivos? O fazemos tendo em vista a construção de modos de ser saudáveis? Ou o fazemos visando justificar os modos de ser vigentes? Partindo deste conceito de filosofia, que tipo de filosofia construímos hoje para enfrentar as questões de nosso plano de realidade?
Uma provocação: como são os modos de vida que construímos e qual a nossa responsabilidade sobre eles?
Referências Bibliográficas:
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é Filosofia?Rio de Janeiro: Ed. 34, 2001.