Sociedade líquida e redes sociais: ilusão de conexão

Nunca estivemos tão conectados, mas também nunca estivemos tão sozinhos. Assim, as redes sociais acabam refletindo a liquidez da sociedade moderna. Entenda como as redes sociais dissolvem os vínculos de afeto e amizade.

Zygmunt Bauman (1925-2017) – sociólogo polonês – descreve o conceito de “sociedade líquida” como um mundo onde tudo é fluido, efêmero e instável.

Vivemos em tempos de transitoriedade, em que relações, carreiras e valores são constantemente reformulados, e os laços humanos se tornam cada vez mais frágeis. Essa visão ganha ainda mais força quando analisamos o impacto das redes sociais nas relações sociais contemporâneas.

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As redes sociais prometem proximidade e conexão em um mundo globalizado. O que antes demandava tempo e esforço – como manter uma amizade ou construir um vínculo profundo –, agora parece acessível com um simples “curtir” ou mensagem instantânea. No entanto, como Bauman observou, essas interações carecem de profundidade e comprometimento, dois pilares essenciais para as relações autênticas e duradouras. 

Nas plataformas digitais, as pessoas frequentemente exibem versões idealizadas de si mesmas, criando um ambiente onde o “ser” é substituído pelo “parecer ser”. Assim, o que deveria ser um espaço de encontro, torna-se, muitas vezes, palco de solidão compartilhada, em que os indivíduos sentem-se pressionados a performar felicidade, sucesso e pertencimento.

Para Bauman, a liquidez da sociedade se reflete na superficialidade das conexões online. Amizades e relacionamentos que antes exigiam presença física, diálogo e compreensão mútua agora se transformam em trocas rápidas e efêmeras de mensagens, muitas vezes sem compromisso. O “amigo” em uma rede social pode ser deletado ou ignorado com um clique, um reflexo da descartabilidade que permeia a nossa era. Uma era de relações líquidas.

Essa facilidade de criar e romper laços transforma as relações humanas em meros contratos temporários, moldados pela conveniência. Em vez de lidar com os desafios inerentes a uma relação presencial, afinal isso é trabalhoso e demanda tempo, muitos preferem o distanciamento seguro das interações digitais. Assim, a promessa de conexão se transforma em isolamento emocional.

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Vivemos em uma era paradoxal

Nunca estivemos tão conectados, mas também nunca estivemos tão sozinhos. As redes sociais, ao invés de fortalecerem vínculos, frequentemente os dissolvem, refletindo a liquidez da sociedade moderna.

Retomar a profundidade das relações humanas exige coragem para desacelerar, desconectar e priorizar aquilo que realmente importa – o outro, em sua plenitude e presença. Como Bauman enfatizou, a modernidade líquida não nos condena a uma existência vazia, mas nos desafia a encontrar um novo equilíbrio entre o digital e o humano. É nesse esforço que reside a verdadeira transformação.

Psicóloga Clínica Cognitivo-Comportamental; Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde - UFP - Universidade Fernando Pessoa em Portugal. Defendeu a sua dissertação com excelência e nota máxima sobre: “A interferência das redes sociais nos relacionamentos”. Especialista em Psicologia da Saúde, Desenvolvimento e Hospitalização – UFRN; Especialista pela Faculdade de Medicina do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP – SP. Foi professora da Pós-graduação em Psicologia – Terapia Cognitivo-Comportamental (Unipê). Há 20 anos atendendo na clínica a adolescentes, adultos, casais e famílias. Membro da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas - FBTC. Mantém o Blog próprio desde 2008. Mais informações: www.karinasimoes.com.br. Atendimentos com consultas presenciais ou online