Sofri três agressões físicas de meu marido na frente do meu filho de seis anos. O que faço?

Por Anette Lewin

Depoimento de uma leitora:  

Continua após publicidade

“Bom dia Anette! Estou à procura de ajuda e orientação! Sou casada há 12 anos e nesse período passei por três episódios de agressão física por parte do meu marido! Nenhuma deixou marcas físicas importantes, apenas uma profunda destruição emocional. Nesta ultima, meu filho de seis anos presenciou o ocorrido e entrou em desespero! Muita coisa se passa pela minha cabeça no momento, como o registro das agressões, aconselhamento jurídico etc. Por outro lado, penso que uma atitude mais drástica seria destruidora para meu filho, que é único, muito amável e apegado aos pais! No fundo, quero insistir mais um pouco no relacionamento, mas deixar claro que uma próxima agressão será intolerável. E acho que é aí que me vejo entrando para a estatística das mulheres que sofrem caladas pelo bem da família. Realmente não sei o que fazer.”
 
Resposta: Se a agressão física já se repetiu três vezes, nada garante que ela pare apenas porque você pretende deixar claro que é a última vez. Aliás, ameaças raramente são eficazes para mudar comportamentos. O que pode ajudar é você tentar entender quais os aspectos do seu comportamento que levam seu marido a não conseguir mais dialogar e apelar para a agressão física. Sim, porque a agressão não vem do nada, não é? Provavelmente ela é consequência de uma discussão que se prolonga. Tente entender então quais são os comportamentos ou argumentos que você usa numa discussão que o levam a perder a compostura.

Nessa reflexão, evite pensar ou ressaltar os erros dele. A única pessoa que pode mudar alguma coisa nessa relação é quem se propõe a mudar; é quem acha que a relação não está boa do jeito que está. No caso, você mesma.

Comece tentando entender como as brigas de vocês se iniciam: alguém traz um tema polêmico? O tom da conversa é de briga independentemente do assunto abordado? A discussão é por ciúmes? Brigam por dinheiro? Enfim, tente encontrar o gatilho dessas discussões e, se possível, tente nem começar a falar sobre assuntos que você sabe onde vão parar.

Um ponto importante nessa reflexão, é como e quando as coisas são ditas entre vocês. Às vezes o assunto nem é tão polêmico assim, mas certos tons de voz ou trejeito faciais são provocativos e estimulam o interlocutor a se colocar em posição de defesa antes mesmo de ouvir o que está sendo dito. E muitas vezes a defesa é atacar para se proteger. Assim, tente evitar tons e gestos que você costuma usar; prefira outros; procure em você mesma formas de dizer as mesmas coisas de um modo diferente. Talvez desse jeito você consiga levar as discussões para uma conclusão e não para uma agressão. Afinal, não é lógico esperar que atitudes iguais levem a reações diferentes. Tente o diferente se quiser mudar.       

Continua após publicidade

Tente entender também o que você pode fazer para melhorar sua autoestima. Você diz que quer insistir um pouco mais nesse relacionamento  já tão desgastado , apenas pelo bem de seu filho. E você? O que você está fazendo por você mesma? Alguma atividade agradável? A algum lazer reconfortante? Algum curso interessante? Só investindo em você mesma você poderá se sentir melhor e mais confiante para reconquistar seu marido ou qualquer outro parceiro que venha a aparecer em sua vida. Assim, avalie a si mesma antes de avaliar seu relacionamento. E tente melhorar como pessoa se você achar que ainda não atingiu o seu melhor.

Depois disso tome sua decisão. Veja se o que incomoda você no casamento são as agressões físicas e morais ou elas são apenas o resultado de um casamento que já não funciona mais. Ou se o casamento ainda faz sentido e está apenas passando por uma fase que pode melhorar através de movimentos seus. Veja o que resta de bom na pessoa que você escolheu para ser o pai de seus filhos e seu parceiro de vida. Ou se o casamento, na sua cabeça, era algo muito diferente do que viveu esses anos todos. Se assim for, repense o que é uma vida a dois e se esse modelo serve para você. E tome sua decisão.
 

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.

Continua após publicidade