Sofro um pouco agora para me beneficiar depois?

Você conhece alguém que…

… foi ao baile/balada na véspera de prova e perdeu a hora de ir ao colégio?

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… gastou além do devido no cartão de crédito e depois se enroscou com juros exorbitantes e foi parar no cadastro de inadimplentes?

… preferiu descumprir ordens médicas e se entupiu de açúcar, álcool, gorduras ou farináceos e sofreu um bocado depois?

… abandonou um curso e disse a si mesmo que no ano seguinte voltaria a estudar e nunca voltou, se arrependendo depois?

… teve relações sexuais sem camisinha e depois precisou encarar gravidez indesejada ou infecção sexualmente transmissível?

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… deu mil desculpas para não fazer exame de próstata e depois se deparou com um tumor avançado?

… sabia estar namorando um(a) criminoso(a) e depois parou numa prisão?

… comprou um imóvel sabendo que a documentação estava irregular e depois perdeu anos de economias suadas e o próprio imóvel?

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Acho que já dei exemplos suficientes para caracterizar um padrão comportamental de risco que se evidenciou imensamente nos tempos de pandemia. Em diferentes nações, em algumas mais do que em outras, as pessoas tiveram enorme dificuldade para usarem máscara, manterem as mãos limpas e longe de olhos, nariz e boca e ficarem à boa distância uns dos outros. Estou excluindo o caso de pessoas forçadas a irem trabalhar num ônibus lotado, claro, bem como aquelas que ficam próximas umas das outras, sem máscara, simplesmente por não terem acesso a recursos materiais minimamente melhores.

Máscaras favorecem a erupção de acne, ocultam nossa eventual formosura (kkkk) na hora da paquera, dificultam respirar, nos deixam encalorados, atrapalham comer, beber e conversar. E SALVAM VIDAS! No entanto muitos indivíduos raciocinam mais ou menos assim: usar máscara é cem por cento desagradável todo o tempo, enquanto que contrair Covid-19 ou contaminar outras pessoas é algo probabilístico, pode ou não ocorrer. E, se ocorrer, não lhe parece alta a chance de complicações ou óbito.



Onipotência e negacionismo frente ao novo coronavírus   


Cirurgiões aprenderam a usar luvas, máscara cirúrgica e outras EPIs, eles se acostumam ao que é essencial e tem função protetiva. Mas quem desafia as regras e fica perto das pessoas é alguém que hiperestima o desconforto da máscara, recusa viver as frustrações produzidas pelo distanciamento social e despreza, minimiza os riscos. Em alguns casos a pessoa justifica que se acha suficientemente saudável, afirma que está fora do grupo de risco. Sentindo-se onipotente, acaba acreditando que nada vai lhe afetar. E assim o vírus continua a se espalhar bem mais facilmente, com contribuições de quem teria como usar máscara e aderir ao distanciamento social, mas não o faz.

Como lidar com as crianças?


Aprender a se comportar no presente sob influência de consequências temporalmente distantes e de natureza probabilística é algo que pode ser ensinado a crianças, por meio de ações promovidas pela família e escola. Isto dá algum trabalho, crianças farão de tudo para conseguirem o que for mais prazeroso a elas na hora exata em que assim desejarem. Choram, esperneiam, ficam se opondo, física e verbalmente. Se o meio social não souber ser empático, perseverante e firme com a criança, colocando limite para suas urgências e impulsos, a criança pode se tornar alguém com baixa resistência à frustração, imediatista, mimada e que apenas se foca nos prazeres imediatos e no bem-estar de si mesma.

Pode-se ensinar a um filho valores como prezar o bem coletivo. Fazemos isso por meio de muitos exemplos e especificando a razão pela qual preferimos agir do jeito B em detrimento do jeito A. Estimulamos a criança a se inspirar em gestos altruístas e a apoiamos em suas tentativas.

Para a criança aprender a reagir no presente a consequências futuras podemos lhe propiciar pequenas experiências, fazê-la esperar um pouquinho mais em troca de um benefício bem mais legal do que se não esperasse, por exemplo. Educar é para os fortes!