por Jocelem Mastrodi Salgado
Um alimento à base de soja, desenvolvido pela nossa equipe (Hospital das Clínicas – USP) em parceria com a Fundação de Gastroenterologia e Nutrição de São Paulo – FUGESP, está sendo considerado hoje a mais recente alternativa no combate dos sintomas da menopausa.
A comprovação veio através de um estudo com mulheres, realizado por médicos do Departamento de Ginecologia da USP. A pesquisa comprovou que o alimento testado à base de soja e rico em isoflavonas, é tão eficaz no tratamento dos sintomas da menopausa quanto um medicamento usualmente utilizado para a reposição hormonal (TRH). De acordo com os médicos-pesquisadores, o alimento testado reduziu os sintomas da menopausa como calor, insônia, nervosismo, dores de cabeça e palpitação e não apresentou nenhum efeito colateral.
Atualmente, o tratamento mais comum para a menopausa empregado pelos médicos é a TRH – Terapia de Reposição Hormonal, cujo objetivo é administrar de forma adequada os hormônios que o organismo não produz mais. No entanto, um grande grupo de mulheres não pode se beneficiar deste tratamento por conta de contra indicações existentes, além de haver uma grande preocupação quanto ao risco aumentado de câncer de mama.
Recentemente, estudos científicos divulgados nos EUA, levaram o FDA a um anúncio oficial determinando que os fabricantes dos hormônios estrogênios e progestogênios, empregados na TRH, alertem médicos e pacientes sobre os riscos de as drogas causarem câncer de mama e problemas cardíacos.
Na procura de alternativas para o tratamento de mulheres sintomáticas na menopausa e que estão contra indicadas para o uso de TRH, os médicos do HC-USP testaram de forma científica e comparativa os benefícios de um alimento desenvolvido por nossa equipe da ESALQ-USP de Piracicaba, em parceria com a FUGESP – Fundação para o Estudo da Nutrição e da Gastroenterologia, em relação a um medicamento utilizado usualmente em TRH.
Em forma de leite em pó, o composto avaliado apresenta um conteúdo significativo de isoflavonas e proteínas de soja, além de ser enriquecido com cálcio, para a proteção óssea.
A pesquisa concluída em março deste ano, e que resultou nesse estudo apresentado agora pelo HC, mostrou que esse alimento é mais seguro e tão eficaz quanto o medicamento testado no combate aos sintomas da menopausa, e confirmou também, que não existe nenhum risco colateral para a saúde.
O estudo comprovou ainda que esse alimento é ideal para o grupo de mulheres que têm contra-indicação para a TRH, principalmente aquelas com histórico anterior de câncer ginecológico, câncer na família, mioma uterino, alterações mamárias de risco, trombose vascular, colesterol, hipertensão elevada, diabete de difícil controle e problemas hepáticos graves.
Os resultados obtidos pelos médicos do Hospital das Clínicas reforçam as informações científicas de que as isoflavonas da soja, substâncias com a mesma ação do estrogênio produzido pelo organismo, são capazes de atuarem sobre os sintomas indesejáveis da menopausa. Associadas ao cálcio e às proteínas de soja, essas substâncias agem ainda como protetoras da osteoporose e das doenças cardiovasculares.
A pesquisa
O objetivo da pesquisa foi comparar os efeitos do alimento à base de isolado protéico de soja com um medicamento empregado para TRH.
Do grupo estudado participaram 98 mulheres saudáveis que relatavam sintomas da menopausa. Desse total, 48 receberam o repositor hormonal à base de estrógeno associado à progesterona, em pílulas de uso oral.
Outras 50 mulheres receberam duas doses de 30 gramas do alimento à base do isolado protéico de soja, rico em isoflavonas, consumido com água, leite ou sucos. A pesquisa durou 4 meses, tempo considerado amplamente suficiente para se avaliar os efeitos sobre os sintomas da menopausa e os efeitos adversos.
No final do estudo, os pesquisadores tiveram uma grande surpresa ao constatar que o alimento testado havia demonstrado a mesma eficácia do hormônio sintético, utilizado para comparação. Em ambos os grupos, os sintomas da menopausa foram reduzidos significativamente em todas as mulheres avaliadas.
Outro resultado importante foi a ausência de reações adversas no grupo que utilizou o alimento. Treze mulheres (ou 26,5% do grupo que recebeu a TRH) abandonaram o estudo relatando problemas como tromboflebite, mastalgia (dores nas mamas), retorno da menstruação, entre outros.
No grupo que recebeu o alimento, apenas 16% não concluiu o tratamento. De acordo com os médicos, as razões alegadas pelo grupo que recebeu o alimento não foram efeitos adversos, mas esquecimentos ou dificuldades em comparecer ao hospital para retirar o alimento, o que significa uma adesão praticamente total.
A pesquisa conduzida pela equipe da Faculdade de Medicina da USP está sendo publicada em revista especializada e será divulgada nos próximos congressos de ginecologia e climatério no Brasil e exterior.