por Ceres Araujo
Vivemos hoje em uma sociedade individualista, onde as relações interpessoais passaram a ser mais competitivas que colaborativas. Existe uma luta pela sobrevivência diferente, sem dúvida, da luta de nossos ancestrais.
É um empenho diário para nos afirmarmos nos grupos sociais nos quais nos inserimos, e para nos afirmarmos na profissão e no trabalho. Com certeza, nossos filhos estão sendo contagiados pelos métodos utilizados nessa forma de luta.
O “bullying” está muito frequente nas escolas. Sabe-se que essa forma de provocação e agressividade entre iguais sempre existiu. Ela pode ser observada desde o jardim da infância até ao asilo de velhos. Isto é, a hostilidade dirigida ao outro em função de instintos agressivos mal elaborados em si mesmo, talvez seja inerente ao ser humano.
Provocações na escola sempre existiram na forma de brincadeiras nem sempre bondosas, mas suportáveis. Os apelidos que se ganham na infância e na adolescência, muitas vezes se tornam fixados para o resto da vida, pelo menos no grupo dos pares. São exemplos, entre outros, Sete Dedos, Sem Sangue, Zé Galinha, Bola, Cabeção, Vareta, Dumbo, Baixinho.
Porém, agora presenciamos um “bullying” com uma frequência e uma intensidade nas escolas, jamais vistas. São ações muito agressivas, discriminatórias, que marginalizam e traumatizam as vítimas. Sabe-se que o trauma vivido pela criança muito jovem tem consequências gravíssimas para a estruturação mental.
Em geral, professores, orientadores e pais ficam muito preocupados com a vítima e com o agressor e buscam procurar os atendimentos necessários que possam analisar as condições psicológicas dos dois para que, posteriormente, sejam dados o auxílio à vítima para que ela se fortaleça e a ajuda ao agressor, a fim de que ele adquira os controles necessários sobre seus impulsos. Existem atualmente muitas publicações sobre o “bullying” e orientações para pais e escola. Entretanto, nessas orientações as testemunhas parecem esquecidas.
As testemunhas no caso de “bullying” constituem elementos-wp_posts para o controle do “bullying” no grupo. Ainda que possam se sentir penalizadas pela situação da vítima, as testemunhas tendem a não defendê-la. Elas se omitem com medo de se tornarem a próxima vítima. Urge dar-lhes condições para ação, urge transformá-los em heróis e heroínas solidários.
O aprendizado da solidariedade
É necessário que a criança aprenda sobre solidariedade desde pequenininha e tal aprendizado é internalizado a partir dos modelos fornecidos pelos pais. Na escola, é preciso que se trabalhe a noção de solidariedade desde o maternal. Talvez seja a matéria mais fundamental.
A solidariedade social é a condição do grupo que resulta da comunhão de atitudes e sentimentos, transformando o grupo em uma unidade.
Para aprender o gesto solidário, o ser humano necessita conhecer as possibilidades e as limitações da interação efetivamente comunicativa com os demais. O exercício da solidariedade exige reciprocidade para poder existir. Ao ensinar solidariedade deve-se, na teoria e na prática:
• ensinar a aceitação e a valorização das diferenças.
• desenvolver a capacidade para empatia, para o saber se colocar no lugar do outro, para levar em consideração os motivos e as necessidades alheias.
• estimular as trocas afetivas e de conhecimento, isto é incentivar o aprender com o outro.
• reforçar as condutas positivas de afirmação e, ao mesmo tempo, ensinar que é necessário saber como e quando ceder.
• ensinar condutas de reparação.
• contar histórias sobre solidariedade
Aprender solidariedade é aprender a ser responsável pelo outro. No grupo, os atos solidários modificam as relações interpessoais, dando a base para a convivência pacífica.
É preciso ensinar ética às nossas crianças e é possível iniciar tal aprendizado pelo treinamento de condutas solidárias. Nos dias atuais, existe uma preocupação considerável com o ensino de posturas ecológicas em relação à natureza. Que tal, a mesma preocupação com o ensino de posturas solidárias em relação a si mesmo e ao grupo? Com certeza, com esse aprendizado, evitaríamos, e muito, a prática do “bullying” principalmente entre as nossas crianças e adolescentes.