por Patricia Gebrim
Outro dia algo mágico aconteceu comigo. Contratei para trabalhar, como diarista em minha casa, uma pessoa dessas que sabem intuitivamente das coisas. Apesar da vida difícil e de mil desafios, aquela mulher manteve a alma limpa e extraiu da vida lições preciosas que se transformaram em uma sabedoria surpreendentemente bela.
Grata pela surpresa que eu tinha ao descobrir, a cada dia, uma nova faceta dessa pessoa, deixei sob seus cuidados minha casa quando tive que viajar.
Uns dez dias depois, ao voltar, encontro sobre minha mesinha de canto uma linda orquídea, uma flor que por si só já é maravilhosa, mas acreditem, aquela orquídea sorria.
Confesso que me tocam muito as singelezas da vida, mas receber aquele presente causou em mim uma deliciosa sensação de gratidão e uma profunda confiança no ser humano. O gesto carinhoso abriu meu coração, e nunca ficou tão claro:
– Generosidade gera generosidade, carinho gera carinho, respeito gera respeito.
Isso foi o que pensei ao receber aquela linda flor de presente.
Isso não é o que nos dizem por aí. Em geral nos dizem que os generosos são bobos e serão passados para trás. Dizem que os carinhosos são fracos e serão massacrados, e que os que respeitam serão traídos na primeira esquina. Bem, cada pessoa é livre para acreditar no que quiser.
Cada um de nós escolhe, através de suas crenças, o mundo em que deseja viver. E de acordo com nossas crenças, uma realidade se constela ao nosso redor, a cada gesto, a cada escolha, a cada momento de nossas vidas. Quando vivemos na expectativa de que coisas ruins acontecerão, de alguma forma as colocamos em andamento. Somos assim poderosos, acreditem!
Mas quando olhamos para o mundo com olhos que brilham, tudo de repente parece brilhar de volta em nossa direção, e isso é algo lindo e mágico que não pode ser explicado ou ensinado. Isso é algo que só pode ser vivido por aqueles que forem corajosos o suficiente para baixar as defesas, derrubar os muros e escolherem experimentar algo novo.
Tudo poderia ser tão harmonioso. Eu sempre me pergunto, ao observar as interações humanas, o motivo pelo qual acabamos vivendo qualitativamente tão menos do que poderíamos viver.
Vamos lá… Pense em um relacionamento, de qualquer natureza. Pode ser uma amizade, um relacionamento de negócios, ou uma relação afetiva.
Na minha visão, ambas as partes poderiam entrar nessa relação de forma aberta e o contrato poderia ser mais ou menos assim:
– Farei o meu melhor, e você fará o seu melhor também. E quando tivermos alguma dificuldade, nos uniremos e juntos passaremos por ela, e sairemos disso mais sábios, maiores, mais unidos.
– Não seria bacana?
Na minha visão isso seria o melhor para todos, e tão possível que até me dá uma sensação de bolhinhas de espuma saltitantes ao pensar na beleza de relacionamentos tão belos assim.
Mas o que observo, em grande parte das vezes, é que não é isso o que acontece. As pessoas se dão ao luxo de desprezar essa maravilhosa oportunidade de criar harmonia e crescimento mútuo e acabam estabelecendo relacionamentos pobres e medíocres, tão inferiores ao que poderiam ser. São pouco cuidadosas umas com as outras, têm pouca disponibilidade para o outro e tentam conseguir vantagens mesmo quando isso prejudica as outras pessoas ou a coletividade.
E aqui podemos incluir desde atitudes egoístas e mesquinhas nos relacionamentos, até as atitudes pouco cuidadosas com o planeta. Tomar banhos intermináveis (e daí que a água é escassa?), jogar lixo na rua (eu moro longe daqui, qual é o problema?), ocupar vagas de idosos ou deficientes (tem tantas livres, qual é o problema de eu ocupar apenas uma?).
– Por que as pessoas fazem escolhas assim?
É o que sempre me pergunto.
Creio que nos falta consciência. A consciência que nos mostra uma verdade simples, mas que parece invisível para a maioria das pessoas:
– Somos mais felizes quando somos felizes juntos!
A palavra-chave aqui é “JUNTOS”. Apenas quando compreendermos o significado da palavra JUNTOS é que poderemos começar de fato a transformar a nossa vida e a vida do planeta. Porque quando compreendemos o que significa esse “JUNTOS”, abreviamos nosso banho, pois sabemos que se “JUNTOS” fizermos isso, a mudança será significativa. E JUNTOS, seremos capazes de respeitar mais as outras pessoas, e a natureza, e a nós mesmos.
Mas para chegar ao “JUNTOS” precisamos abrir mão de nossa visão individualista, daquela partezinha burra de nós que pensa no EU antes do NÓS. Daquela partezinha arrogante de nós que se crê mais merecedora ou especial do que as outras pessoas. Daquela parte que nos impede de criar uma vida harmoniosa e mais justa para todos.
É incrível a cegueira das pessoas. É difícil conceber que as pessoas não saibam mesmo que só empobrecem quando se separam das outras pessoas a fim de ganhar mais ou se sair melhor; quando competem, em vez de cooperar; quando tentam tirar vantagem, quando mentem, enganam, traem e mantém agendas ocultas.
Não posso dizer a ninguém que caminho seguir. Apenas posso eu mesma fazer minhas escolhas, ser fiel ao que acredito e, antes de dormir, fechar os olhos por alguns instantes e imaginar o planeta rodeado por um imenso círculo de pessoas, de mãos dadas, fazendo, cada uma delas, o seu melhor…