por Aurea Afonso Caetano
Através dos sonhos temos nosso olhar ampliado, nossa vida expandida, somos maiores e melhores. Como diz a letra da música: “Sonho meu, vai buscar quem mora longe”.
Sonhar é uma forma de ir em busca do que nos falta ou de quem nos falta. É poder imaginar um mundo diferente, um futuro melhor, uma vida compartilhada um verdadeiro sonho.
Conte-me seus sonhos, diga o que deseja, quais seus anseios, o que pretende para sua vida. Vá buscar lá longe aquilo que te completa ou o que acha que te completa. Essa também é a função do sonho. E daí, várias metáforas, vários filmes, vários livros, vários contos e poesias.
E que tal pensar também no sonho como esperança, algo inatingível, uma utopia: “Os sonhos mais lindos, sonhei. De quimeras mil, meu castelo ergui.” A quimera, ser mítico que solta fogo pelas narinas, hibrido de dois ou mais animais, temida por sua capacidade de destruição. Atemorizava os gregos antigos, aterrorizando também seus sonhos.
Como discriminar aqui as várias possibilidades do sonhar- aquele que nos move em direção a nossos desejos possíveis, que nos alimenta, funciona como combustível para caminhar mais e mais; ou aquele que de tão utópico pode nos manter paralisados – como um desejo inatingível, mas que não nos move em direção a um caminho. Ou sim, move, mas nos aprisionando em uma espiral da qual é difícil sair, que nos mantêm como que inebriados, com o olhar turvo presos a uma imagem inatingível, porque é irreal, quimérica.
E não é também desta mesma forma que a realidade em demasiado dura pode também aprisionar? Muito de nosso trabalho em análise está fundamentado neste “espaço”. O da discriminação absolutamente necessária e quase cotidiana do que é essa realidade e o que é o sonho quimérico, ou irreal, ou melhor como transitar entre essas possibilidades nos alimentando do material dos sonhos e caminhando em direção a um mundo possível, um mundo melhor (para nós) no qual possamos cada vez mais nos expressar de forma íntegra e forte, exercendo nossas potencialidades de forma ética.
Ética, outra palavrinha que tem sido muito usada e pouco praticada. Será ela também uma quimera? Não acredito que possamos ampliar nossas possibilidades reais de existência sem que consideremos a relação com o outro, com o mundo que nos cerca. Para crescer como ser humano, é preciso trabalhar na relação entre o que chamo de eu e meu mundo interno, e o que sou e a realidade externa. Imprescindivel considerar que o outro que partilha este mundo comigo tem os mesmos direitos e deveres. A dimensão da ética aplicada ao meu mundo e ao mundo compartilhado deve ser considerada, não pode ser uma quimera inatingível, tem de ser um sonho possível, um sonho grande, mas possível.
Mas, isso fica para outro momento!