por Luiz Alberto Py
Penso que tudo que se fez no mundo começou com um sonho. Primeiro a gente sonha as coisas e depois torna esse sonho realidade.
Aprendi que para tornar um sonho em um projeto, você precisa colocar uma data no seu sonho. Um sonho com data vira um projeto.
Agora, o que é sonhar?
Desejo vira sonho… que vira projeto
Você pode sonhar em ter uma cadeira, a primeira deve ter sido sonhada. Quanto ao nosso comportamento, a primeira coisa que a gente tem de perceber é se o comportamento não é razoável, não é adequado, e querer mudá-lo. Achar que vale a pena mudar. Então a gente tem aí um desejo, um sonho, que é mudar. Aí é preciso estabelecer um projeto para essa mudança, uma data é muito importante. Mas também o como chegar lá é um caminho que tem que ser visualizado.
Se a pessoa quer parar de fumar, por exemplo, precisa trabalhar em cima da ideia de parar de fumar, ver qual o melhor caminho para isso. Eu não acredito nessas coisas meio mágicas de ficar dizendo "vou parar de fumar", essa auto-hipnose de bolso. Não sei se isso funciona.
Passos de um projeto
Penso que quando a gente prepara um projeto, deve prepará-lo cuidadosamente e procurar a melhor maneira de executá-lo. Eu falei em parar de fumar porque vivi essa experiência. Estabeleci um projeto para parar de fumar, defini que eu queria isso, que era importante para mim, para a minha saúde e que eu ia gastar energia, me esforçar e sofrer para conseguir isso. Foi o que fiz.
Demorei. Achei que era melhor fazer lentamente do que abruptamente. Aliás, tentei parar abruptamente, mas não deu certo. Outras pessoas conseguem assim, mas eu não consegui. O sofrimento foi grande demais, insuportável para mim. Eu consegui através de fazer um esforço progressivo. Custava a pegar o primeiro cigarro; comecei a correr, para respirar melhor e não ter vontade de fumar – colocar ar puro nos pulmões, em vez de fumaça. Com isso, comecei a fumar depois do meio-dia. Determinei que fosse importante só fumar o cigarro se eu pudesse aproveitá-lo bem. "Já que vou fazer esse mal para minha saúde, pelo menos que eu tenha um retorno de usufruí-lo ao máximo", pensava.
Porque o cigarro, de todos os vícios, é um dos mais difíceis da gente se livrar. E é um dos que menos te dá recompensa; a recompensa do cigarro é mínima. A maioria das drogas tem um efeito enorme sobre a pessoa. É claro que depois vem as consequências e a pessoa fica péssima, faz um mal terrível à saúde etc. Mas no momento do uso, os efeitos são grandes e há uma recompensa momentânea. A pessoa que cheira cocaína fica se sentindo maravilhosa. Com o álcool, a pessoa que bebe se sente muito bem. Já o cigarro dá muito pouco em troca do mal que faz; é uma relação custo/benefício péssima. Costumo dizer que fumar é coisa de otário. Vejo um fumante como um otário, tolo mesmo.
Mas, então, fiz lá o meu esforço e fui parando, devagarinho. Fumava só os cigarros que eu achava que podia aproveitar, três a quatro por dia. Aí já estava menos intoxicado, menos necessitado de nicotina. Um belo dia, consegui parar e nunca mais quis saber de voltar. Peguei um nojo, um horror ideológico ao cigarro que bloqueou qualquer prazer que eu pudesse imaginar ter ao fumar. Fora o fato que, depois que a pessoa para de fumar, o cigarro passa a ser desagradável. O cheiro é desagradável e, se a pessoa fuma, se sente mal. Penso que é preciso até ter um pouco de persistência para se viciar em cigarro, porque o começo é muito negativo.
Voltando à questão de mudar o comportamento, tem muito a ver com uma decisão racional de que aquele comportamento não é bom. Não é uma questão de se olhar no espelho e ficar conversando consigo. É uma conversa que não precisa de toda essa papagaiada. A gente conversa com a gente mesmo na fila do ônibus, sentado no metrô, à noite antes de dormir, ou de manhã quando acorda.
Projeto 'pessoa melhor': converse com você mesmo sobre seu dia a dia
Faço questão de todo dia separar pelo menos dez minutos para conversar comigo mesmo. Faço um alongamento, um minuto de meditação, e aí vou conversar comigo mesmo. A meditação de um minuto é uma coisa muito interessante; na verdade, levam-se uns três minutos para fazer essa meditação, mas ela te dá um ponto de partida.
– Como foi o meu dia ontem, o que teve de bom e de ruim, o que posso melhorar?
– Hoje, como vai ser o meu dia, o que posso fazer?
Isso quando é de manhã. Quando é à noite, é pensar como foi o dia e como será o outro.
Sempre penso no dia que vivi e no dia que vou viver. E buscando onde haverá uma melhora possível. Estou sempre interessado nisso. Acho que esse interesse, essa vontade de melhorar ajuda muito. E é uma coisa que a gente cultiva.