por Aurea Afonso Caetano
À época de seu primeiro encontro com Freud, Jung havia lido “A interpretação dos Sonhos” que Freud publicara em 1900. Neste livro, Freud colocou uma importante e nova forma de compreender não apenas os sonhos mas também todo o assim chamado “aparato psíquico”.
Embora os sonhos tenham sido estudados desde a antiguidade, é Freud quem vai trazer a noção de que eles são conteúdos de um processo inconsciente, isto é, material que não estaria de outra forma disponível à consciência.
Jung à época, jovem psiquiatra, leu este trabalho com profunda admiração e começa a partir de então seu relacionamento com Freud. Diziam os dois pensadores “o sonho é a via régia para o inconsciente”. A grande novidade é a possibilidade colocada então de usar o material onírico para compreender o funcionamento da psique (mente) do paciente em questão e com isso auxiliar sua cura. Freud utiliza o que chama de associação livre a partir dos conteúdos do sonho que chamava de conteúdos manifestos.
Importante colocar aqui a diferença (que já abordei aqui) em relação a esse olhar. Para Jung o sonho diz o que tem de dizer, sem disfarces, sem mentir; ainda, pensando na “economia” psíquica, para um conteúdo ou questão colocado na consciência (um polo) outro de igual valor será constelado no inconsciente. Então, para compreender um sonho é preciso compreender como está o sonhador, e deve-se sempre fazer algumas perguntas básicas:
Como está a vida do sonhador?
Em que contexto surgiu este sonho?
Quais as associações que o sonhador faz com o conteúdo do sonho?
Quais suas sensações ao acordar?
Que tipo de sentimento o sonho provocou no sonhador?
Estas questões não são arbitrárias, porquanto podem ser aplicadas a qualquer atividade psíquica. Em qualquer circunstância, é possível perguntar-se “por quê?” e “para quê?” ou ainda “qual o sentido de (alguma coisa)?
Muitas vezes um sonho nos traz algum tipo de questionamento, um desconforto. Jorge Luiz Borges em um pequeno livro intitulado “O livro dos sonhos” nos conta a seguinte história:
Conta a lenda que o sábio taoísta Chuang Tzu, ao dormir, sonhou ser uma borboleta, mas ao acordar se perguntou: será que eu era antes Chuang Tzu sonhando ser uma borboleta ou sou agora uma borboleta adormecida, sonhando ser Chuang Tzu?”
E o que é mais real? O sonho nos mostra conteúdos que são nossos, estão aí mas não iluminados pela luz da consciência. E durante o período de vigília (já diz o nome) estamos despertos e atentos ao que está agora iluminado. Sábio e borboleta como uma única realidade, sonhador e sonho, consciente e inconsciente. Duas facetas, dois polos de um mesmo processo.
Conte-me seus sonhos.