por Thaís Petroff
Os jogos de azar podem se tornar patológicos e estão no espectro de Transtornos de Controle do Impulso.
Eles ganham atenção crescente, provavelmente por uma combinação de fatores:
1) fazer apostas é um comportamento comum, mesmo entre indivíduos que não apresentam problemas com isso;
2) o impulso pelo jogo pode ter consequências devastadoras tanto para a pessoa como para sua família;
3) a grande disponibilidade dos jogos de azar tradicionais (loterias, corridas de cavalos, jogos de carta, cassinos, etc…) e a crescente introdução de novos jogos (pôquer, roleta e caça-níqueis pela internet, jogos online de videogame, etc…)
4) os jogos de azar facilitam a lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e financiamento indireto do crime.
Para a OMS (Organização Mundial da Saúde) o jogo somente passou a ser reconhecido como uma doença (jogo patológico) a partir de 1992. Ele é definido pela incapacidade em controlar o hábito de jogar, mesmo com todos os inconvenientes que isso possa proporcionar: problemas pessoais, financeiros, familiares, profissionais, sociais, etc.
Critérios diagnósticos
Segundo o DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – Quarta Edição) os critérios diagnósticos para o Jogo Patológico são:
Comportamento de jogo mal-adaptativo (sem controle), persistente e recorrente, indicado por cinco (ou mais) dos seguintes quesitos:
(1) preocupação com o jogo (por ex., preocupa-se com reviver experiências de jogo passadas, avalia possibilidades ou planeja a próxima parada, ou pensa em modos de obter dinheiro para jogar);
(2) necessidade de apostar quantias de dinheiro cada vez maiores, a fim de obter a excitação desejada;
(3) esforços repetidos e fracassados no sentido de controlar, reduzir ou cessar com o jogo;
(4) inquietude ou irritabilidade, quando tenta reduzir ou cessar com o jogo;
(5) joga como forma de fugir de problemas ou de aliviar um humor disfórico (por ex., sentimentos de impotência, culpa, ansiedade, depressão);
(6) após perder dinheiro no jogo, frequentemente volta outro dia para ficar quite (“recuperar o prejuízo”);
(7) mente para familiares, para o terapeuta ou outras pessoas, para encobrir a extensão do seu envolvimento com o jogo;
(8) comete atos ilegais como falsificação, fraude, furto ou estelionato, para financiar o jogo;
(9) coloca em perigo ou perde um relacionamento significativo, o emprego ou uma oportunidade educacional ou profissional por causa do jogo;
(10) recorre a outras pessoas com o fim de obter dinheiro para aliviar uma situação financeira desesperadora causada pelo jogo.
Dependência
É possível perceber em pessoas com Transtorno do Jogo Patológico todos os aspectos da dependência. Isso é causado pelo uso repetitivo de uma “substância química”. Onde estaria então a “droga” no jogo? Pode-se dizer que estaria na aposta. O jogador no caso torna-se dependente da excitação causada pelo ato de arriscar algo de valor (ex. dinheiro).
Essa sensação já é bastante forte e quando o jogador consegue resgatar o prêmio, esse se torna então ainda mais reforçador. O que ocorre é que nem sempre ele ganha, o que o faz buscar novamente essa sensação prazerosa, arriscando-se mais e aumentando o valor das apostas. Tem-se início o acúmulo das dívidas.
No intuito de reverter esse quadro, o jogador aumenta ainda mais as apostas para recuperar o dinheiro perdido. Os problemas se acumulam: atrasos de pagamento, reclamações dos familiares, dificuldade de concentração e esgotamento em função de preocupações, noites em claro em frente a uma máquina ou mesa de carteado. Quando o dinheiro acaba ou os familiares intervêm o jogador se vê ainda mais inquieto, angustiado em função dessa abstinência forçada e, assim com mais vontade de apostar.
O que se percebe é que é nesses momentos que o jogador pede dinheiro emprestado (escondido da família e amigos) e começa a mentir. Esse círculo vicioso pode ser manter por anos a fio.
Por que uns podem jogar sem problemas de dependência e outros não?
Há diversas hipóteses, mas ainda poucas repostas conclusivas. No entanto, através de algumas pesquisas e estudos desenvolvidos, foram percebidos alguns fatores comuns aos jogadores patológicos: ter sofrido abuso emocional ou abandono na infância, ser portador de outros transtornos emocionais e psiquiátricos e ter história familiar de dependência química ou de jogo na família.
Parece haver uma associação inegável entre ter pessoas na família com problemas de jogo e de dependência química. Ou seja, essas duas variáveis caminham muito próximas.
Desse modo, leva-se a pensar em um componente genético nessa interação. No entanto, o que está sendo transmitido pelos genes não é a doença, já que ela depende do contato com fatores externos para se desenvolver. Acredita-se que o que é passado, seja uma vulnerabilidade para a doença, a qual poderá se manifestar, ou não, dependendo da história de cada pessoa.