por Regina Wielesnka
Certa vez, numa entrevista, a chef de cozinha Roberta Sudbrack contou o quanto de legumes ela cortava diariamente em Nova Iorque, nos seus tempos de formação numa importante escola de gastronomia. Uma enormidade. Cubinhos, lâminas, mil formas de corte com nomes franceses, e os vizinhos e amigos diariamente acabavam por ganhar sua cota de vegetais prontos pra cozimento. Assim ela ganhou familiaridade agilidade e destreza no manejo de facas e vegetais.
Assisti Oscar Schmidt contar do dia em que o filho, na época atleta adolescente do basquete, chegou bravo em casa: o time da escola perdeu uma disputa e ele havia jogado mal. O garoto queria se recolher, ir pro quarto curtir fossa. O pai deu um “pera lá” no filhote e quis saber o que havia ocorrido de errado. Falhou em quais estratégias e fundamentos? O filho se explicou, cometeu erros em alguns fundamentos. Oscar disse ao filho que ficar no quarto não mudaria suas habilidades. O jeito era ir pra quadra e praticar até quando não desse mais. Convidou o filho a treinarem juntos naquela mesma hora. E assim o garoto melhorou suas habilidades.
Hoje escutei o escritor Fabricio Capinejar poeticamente homenagear sua professora de Português, a qual não hesitava ao corrigir suas redações de modo rigoroso. O poeta entende que ela foi sua primeira leitora, e o levava a sério, dava o melhor de si. Era trabalho árduo, persistente, de professora e aluno.
Ouvi de um cirurgião como era seu treino para se tornar qualificado na execução de cirurgias robóticas, nas quais o médico usa as mãos para operar um paciente que será tocado pelas “garras” de um sofisticado equipamento. Uma infinidade de horas, manipulando objetos, pinças, tesouras, bisturis e outras tantas coisas que não sei nomear. Foram dezenas de cirurgias simuladas até chegar ao primeiro caso real.
Já deu pra entender meu ponto?
A excelência exige muito tempo de prática, perseverança frente à aprendizagem de etapas cada vez mais complexas, tolerância para se deparar com o erro e transformá-lo numa lição. A família, principalmente, e a escola e centro desportivo são as instâncias em que provavelmente esse treino pode acontecer. Não se trata de desenvolver uma aprendizagem pautada em gritos, ameaças e humilhações. Há que se amorosamente incentivar a persistência, bloquear aquelas crises em que se deseja jogar tudo pro alto sem mais nem menos, dosar empenho firme e descanso.
O tempero é a paixão pelo que se faz, a vontade de aprender, crescer, dominar um desafio, sob a liderança de um educador ou familiar.
Vejo adultos que fogem ao primeiro desafio, vivem entediados – seu padrão comportamental tangencia a depressão -, sentem que são incapazes e se julgam fadados ao fracasso em tudo o que fizerem. Faltou a eles o treino que acabo de descrever. Só acerta e vira hábil em algo os que persistirem e aceitarem encarar suas fraquezas, de forma a, mais para a frente, darem cabo delas.