por Alex Botsaris
Em meados de agosto, um grupo de neurocientistas americanos liderados pelo Dr. David Strayer, professor da Universidade de Utah, viajou para uma área do Glen Canyon, nesse mesmo estado, ao longo do Rio San Juan. Essa é uma das áreas mais remotas e selvagens dos Estados Unidos, contudo o objetivo da viagem não foi passar umas boas férias na natureza.
Os pesquisadores foram para esse local longe da civilização e da tecnologia com um propósito de pesquisa: aprofundar o conhecimento sobre o impacto das tecnologias de informação no cérebro humano. Eles também avaliaram os benefícios que uma boa dose de natureza aliada à interrupção do bombardeio de tecnologia pode propiciar.
Ao longo de várias semanas de isolamento, os cientistas vão monitorar vários parâmetros como qualidade de sono, concentração, memória, raciocínio e acuidade sensorial, para saber o quanto o cérebro pode modificar o seu funcionamento, sem a interferência da tecnologia.
Outros estudos, feitos por médicos e neurocientistas têm sugerido que o excesso de estímulo ao cérebro pode causar ansiedade, redução da concentração e irritabilidade. Contudo, esses resultados têm sido questionados por um grupo de céticos, que afirmam que os dados das pesquisas até o momento não são conclusivos. Os novos dados, gerados nessa viagem, vão ajudar a colocar mais luz nesse problema.
Eu me incluo entre aqueles que estão convencidos que a exposição excessiva à tecnologia está causando problemas à saúde cerebral. Em 2003 lancei um livro chamado “O Complexo de Atlas”, que consistia num estudo sobre as consequências do estresse contemporâneo sobre a saúde dos indivíduos. Entre vários tipos de estresse que a sociedade atual tem gerado, identifiquei o estresse cerebral, justamente aquele resultante da superestimulação do cérebro que as tecnologias de comunicação e informação estão causando.
Mostrei que existe um aumento da incidência de várias doenças ao longo da segunda metade do século XX, como depressão, insônia, transtorno obcessivo-compulsivo, transtornos alimentares e distúrbio da ansiedade generalizada, e relacionei esse aumento à exposição excessiva aos estímulos cerebrais. Entretanto, é preciso comentar que essa opinião não é a principal entre os psiquiatras, e eles preferem atribuir o aumento da incidência dessas doenças a mudanças nos critérios de diagnóstico e melhorias nas avaliações estatísticas.
Agora nos últimos 5 anos, novas evidências geradas por neurocientistas estão vindo ao encontro dessas afirmações que fiz no “Complexo de Atlas”. E todas essas evidências ainda ganharam um novo reforço com as conclusões do meu livro mais recente, lançado mês passado, onde faço uma avaliação do contexto de várias doenças, incluindo as psiquiátricas, sob o ponto de vista das mudanças ambientais nos últimos 100 anos. Esse livro, chamado de Medicina Ecológica (Nova Era) explora os conceitos da medicina a partir da visão da ecologia. É uma nova tendência mundial e estou trazendo como uma base conceitual e filosófica que visa melhorar a qualidade da medicina.
Do ponto de vista ecológico, sempre que o meio ambiente se modifica de forma rápida, os indivíduos que ali habitam são exigidos a se adaptarem às novas exigências do meio. Seres humanos foram criados na savana africana, e depois ficaram habitando o planeta por milhares de anos em pequenas comunidades e com uma rotina de vida que modificou lentamente. Cidades grandes, luz elétrica, motores à explosão e automóveis, rádio, televisão, telefone, computador, internet, telefones celulares, etc, são todas inovações introduzidas nos últimos 100 anos. Isso não é nada em termos evolutivos.
Nesse período a vida dos seres humanos modificou radicalmente. No início do século XX as pessoas iam para casa, jantavam, liam alguma coisa e iam dormir. Hoje em dia, no século XXI, chegar em casa não significa mais relaxar. Há problemas e trabalho em casa, o celular toca, a TV traz para dentro de casa todas as desgraças que ocorrem no mundo em tempo real, além do apelo da internet e de uma caixa de e-mails que nunca esvazia.
Recomendo aos meus pacientes com depressão, ansiedade, insônia e outros problemas decorrentes do estresse cerebral, que aprendam e façam uma técnica de meditação, todo os dias, ao chegar em casa (clique aqui e leia).
Recomendo, além disso, exercícios físicos regulares, massagem e parar para ouvir uma música e relaxar. É preciso dar um limite e não ligar a TV e o computador todos os dias. Costumo ainda fazer uma suplementação com alimentos que contenham vitaminas, minerais, aminoácidos e lipídeos importantes para o metabolismo cerebral, e dessa forma compensar, em parte, esse aumento de demanda.