por Ceres Araujo
Mais uma vez é preciso alertar para um problema que está se tornando muito comum na nossa sociedade e na nossa época: filhos que mandam nos pais e pais que obedecem.
Ainda que nem todos os pais, nessa situação, reconheçam ou admitam, o fato é que eles se tornam reféns das vontades de seus filhos.
Por que isso está acontecendo? Quais serão as consequências no futuro?
Os bebês da atualidade, mostram-se muito precoces, pois estão recebendo grande quantidade de estímulos de ordens muito diversas, o que faz com que o processamento da informação no cérebro seja muito complexo e necessariamente muito veloz desde muito cedo. O cérebro do bebê de hoje é, portanto, muito diferente do cérebro do bebê de anos atrás.
Estamos criando superbebês. Os pais sabem disso e, com razão, se maravilham com as proezas de seus filhos, que parecem extremamente bem dotados. Eles interagem, andam, falam, leem mais precocemente, quando comparados aos padrões usuais de desenvolvimento.
Os superbebês se transformam nas supercrianças. São observadoras, curiosas e utilizam os meios eletrônicos de comunicação com destreza impressionante. Apreendem e aprendem tudo rapidamente, realizando associações e generalizações que nos surpreendem.
As supercrianças crescem e se transformam nos superadolescentes. Constroem seu conhecimento, manipulando inúmeros recursos tecnológicos quase que simultaneamente e acreditam que sabem tudo, mais que seus pais e professores. Muitas vezes sabem mais mesmo.
Os superfilhos são seres admiráveis sim e precisam do “olhar coruja” de seus pais (clique aqui e leia), que é o olhar que incentiva e impulsiona o crescimento. Entretanto, eles necessitam também de princípios, valores, normas, regras que dirijam seu desenvolvimento e que lhes oriente o aprendizado da vida. Esses são os limites, tão necessários, que protegem e fortalecem a mente do bebê, da criança e do adolescente, ensinando a lidar com frustração, a tolerar esperas, a levar em consideração as outras pessoas e a fazer trocas afetivas e intelectuais.
Longe de afirmar que todas as famílias não estão funcionando bem. Existem pais que valorizam muito bem seus filhos, mas que também os educam para se transformarem em seres civilizados, disciplinados e eficientes na sua adaptação ao mundo.
Entretanto, existem famílias disfuncionais. Dentre elas, as famílias onde há uma inversão de papéis. Os pais, encantados com as habilidades de seus filhos, os colocam na posição de serem venerados. Essa posição não faz bem para ninguém, pois ao serem venerados, os filhos mandam, ganham um poder que não sabem administrar e tendem a manter seus pais em uma relação de domínio e subjugação. Os pais dominados têm medo de seus filhos: do escândalo das birras quando bebês, dos desafios e oposições quando crianças e da agressão e do desdém quando adolescentes. Os pais não reagem, se submetem e ainda justificam as atitudes dos filhos, dizendo serem eles donos de “personalidade forte”, “lideres natos”, etc.. Na realidade, estão confundindo teimosia e obstinação com perseverança; falta de educação com movimentos de afirmação; agressividade com força.
O fato é que a vida futura desses superfilhos não será nada fácil, pois pais são modelos de identidade e também modelos de autoridade. Pais frágeis, desvalorizados e desrespeitados são péssimos modelos para seus filhos. Esses crescem sem um adequado sistema interno de referência para a vida. São frágeis, sem consistência interna, pobres do ponto de vista psíquico. Apenas estão acostumados a mandar e esperam ser obedecidos. Tendem a encontrar dificuldades nos grupos onde se inserem, desde grupos sociais até grupos de trabalho. São marginalizados com freqência. Não foram ajudados a desenvolver suas competências necessárias às trocas interpessoais. Transformam-se em adultos que precisam ser tolerados muitas vezes, mas que não serão respeitados e queridos.
Assim, os filhos precisam ser amados e não devem ser venerados. São, nos dias de hoje, seres admiráveis, espertos, ávidos de informação e de novidades, mas que precisam aprender a obedecer, a ceder, a perceber e considerar o outro. Se limites são a maior prova de amor que os pais podem dar para seus filhos, um sistema de princípios, valores e de ética, é, com certeza, a maior herança que os pais podem deixar para eles.