por Gilberto Coutinho
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1) O que é meditação yogue?
Resposta: Técnica desenvolvida pelos antigos sábios yogues da Índia, a meditação visa a acalmar a mente, que, quando se encontra serena e centrada, experimenta uma profunda sensação de paz, bem-estar e contentamento. No segundo sutra (*aforismo) do terceiro capítulo do Yoga Sutras (Aforismos do Yoga), o grande sábio e yogue Patañjali (autor do Yoga Sutras; pesquisadores modernos consideram que ele, provavelmente, tenha vivido no século II d.C., embora a tradição hindu o relacione ao gramático que viveu no século II a.C.) conceitua o termo meditação:
Conceito de meditação
“Tatra (eis) pratyaya (do empenho ou esforço mental) ekatanata (contínuo) dhyánam (meditação).” Ou seja: “Do contínuo empenho ou esforço mental (referindo-se à concentração, no sutra anterior), resulta a meditação.” O virtuoso e grande sábio Vyasa (atribui-se a ele a autoria da epopéia Mahábhárata; compilador de quatro hinos védicos, de muitos Puranas e de outros trabalhos, como o Yoga-Bhâshya e comentários sobre o Yoga Sutras de Patañjali) fez o seguinte comentário a respeito desse sutra: “Meditação é um estado de contínua e prolongada concentração no objeto de contemplação, intocável por qualquer outro pensar.”
Dhyana (meditação) é a condição sob a qual se presta ininterrupta atenção ao objeto de contemplação.
É a concentração mais profunda (mais aprimorada) e prolongada. Quando se vivencia o estado de profunda e prolongada concentração, alcança-se a meditação. Durante a meditação, o praticante pode manter a sua atenção (consciência) voltada apenas para um objeto, durante o tempo que desejar, e a distração não mais afeta a sua mente. Nesse estágio, entretanto, ainda existe uma dualidade: o indivíduo (a pessoa que medita) e o objeto de sua contemplação. Uma vez perdida a noção da dualidade, a meditação transforma-se em samádhi (êxtase ou estado de hiperconsciência). A meditação apresenta um efeito calmante e revitalizante sobre o sistema nervoso (hipotálamo) e sobre todo o organismo, desperta “insights”, a “luz” interior e alguns siddhis (poderes psíquicos).
2) Existem outros tipos de meditação?
Resposta: Sim. A Meditação Transcendental, criada pelo Maharishi Mahesh Yogi (em 1967, atraiu a atenção de George Harrison e dos Beatles); a Meditação Vedanta (tradição filosófica predominante no Hinduísmo, que ensina que a “Realidade” é não-dual); Vipassana (antiga técnica de meditação da Índia, praticada por Buddha Gautama); Zen (nesse tipo não existe um ponto focal, o praticante se volta para uma parede nua, que simboliza o vazio); da Medicina Tradicional Chinesa; dentre diversas outras.
O praticante deve optar por aquela técnica de meditação com a qual mais se identificar, que mais lhe aprouver, que lhe seja mais eficaz. Patañjali descreveu e conceituou de forma didática, profunda e muito sábia um caminho efetivo e seguro (dividido em oito partes) para se alcançarem os estados de concentração, meditação e samadhi.
Por 21 anos, utilizo com muita efetividade a metodologia de Patañjali e a ensino há 17 anos aos meus alunos. Aprendi a concentrar e a meditar com a técnica desse grande sábio e mestre yogue. Cultivo a profunda gratidão aos grandes mestres Shiva e a Shri Maharishi Patañjali pelos preciosos ensinamentos do Yoga. A técnica de meditação proposta por Patañjali no Yoga Sutras é tão antiga quanto o próprio nascimento do Yoga, considerada a mãe de todas as outras.
3) A prática regular e integral do Yoga auxilia na meditação?
Resposta: Sim. A meditação é o sétimo passo (anga) do Yoga, é um degrau importante dessa ciência milenar, consiste no próprio Yoga. Como foi explicado anteriormente, Patañjali sistematizou de forma sábia e concisa, em 194 aforismos (sutras, frases de caráter sentencioso que encerram, de modo conciso, um profundo conhecimento ou pensamento), os mais importantes ensinamentos do Yoga e, inclusive, o caminho para se atingir a meditação que passa pela prática sistemática e regular de ásanas (posições psicofísicas), pránáyámas (exercícios respiratórios que visam o controle da respiração e da energia vital) etc.
4) Quais as oito partes que constituem o Yoga segundo a sistematização de Patañjali?
(1). Yama (5 disciplinas) e (2). Niyama (5 deveres) constituem o chamado “Código de Ética Yogue”; (3). Ásana (posição psicofísica); (4). Pránáyáma (controle da respiração); (5). Prátyahára (desligamento dos sentidos); (6). Dharána (concentração); (7). Dhyána (meditação) e (8). Samádhi (êxtase, iluminação da consciência, estado de hiperconsciência).
A divisão do Yoga em oito partes ou degraus (Ashtânga-Yoga) parece ter sido uma compreensão inovadora de Patañjali e representa o clímax de um longo desenvolvimento da ciência e tecnologia yogue. A maior parte do Yoga Sutras dedica-se ao estudo do Kriya-Yoga (nome que Patañjali dá à prática da ascese (tapas), do estudo (svâdhyâya) e da devoção (ishvara-pranidhâna)).
5) Quais os requisitos necessários ao aprendizado da meditação?
Resposta: Disciplina, perseverança, determinação, interesse, devoção, estudo e prática sob a orientação de um mestre gabaritado, experiente e conhecedor do Yoga e da metodologia de Patañjali (que tenha estudado o Yoga Clássico como é ensinado e praticado na Índia pelas renomadas escolas, evitando-se que a sua essência e seus preciosos ensinamentos se percam), prática regular do Yoga e da meditação sem interrupções, levando-se em consideração o horário mais recomendado.
(1). Num lugar tranqüilo, sente-se numa posição yogue que tenha dominado, ou numa cadeira, e mantenha a coluna vertebral alinhada, preservando a curvatura natural da coluna lombar. Feche os olhos e volte a atenção para o interior. Concentre-se na respiração e procure acalmá-la, respirando de forma lenta, suave e profunda, prolongando a entrada e a saída do ar dos pulmões, e relaxe todo o corpo, removendo as tensões. Adote esse procedimento durante toda a prática de meditação.
Após, una as palmas das mãos em Anjáli Mudrá (“gesto de saudação”, mãos justapostas na altura do peito; o que favorece a reflexão e a interiorização). Sinta que de seu interior emana uma bela luz azul (acalma as emoções, os pensamentos e auxilia no combate das tensões psíquicas e musculares) que se expande ao redor de seu corpo, formando um campo de energia e proteção.
Após alguns instantes visualizando o campo de luz azul ao redor de seu corpo, repouse os antebraços sobre os joelhos, mantendo as mãos em Jñana Mudrá (“gesto do conhecimento superior”, as palmas das mãos voltadas para cima, com as pontas dos dedos indicador e polegar unidas, do nascer ao início do pôr-do-sol; ou, voltadas para baixo, após o pôr-do-sol até o alvorecer); desligue-se, gradativamente, dos sentidos, interiorizando-se e silenciando a mente.
Então, dirija a atenção para o espaço entre as sobrancelhas (bhrumádhya drishti – fixação entre as sobrancelhas –, região onde se encontra a sede da mente e o Ájña Chakra; ao dirigir a atenção para essa região do corpo, torna-se mais fácil de a mente se concentrar), concentre-se, verbalizando ou mentalizando o mantra OM (som muito positivo que simboliza o Absoluto, o nascimento do universo e favorece a purificação da mente e a concentração). Nas primeiras semanas, o iniciante pode repetir o procedimento durante 10 minutos; com o hábito, pelo menos durante 20 minutos diários.
(2). Siga as recomendações preliminares do item (1). Quando o ritmo respiratório estiver calmo, regular e a mente calma e mais centrada, passe para o passo a seguir. Concentre-se na respiração e no espaço entre as sobrancelhas. Ao inspirar de forma lenta, suave e profunda, pelo nariz, mentalize prolongadamente o mantra OM (durante toda a inspiração) e, ao expirar (durante toda a expiração), o mantra SHAM. Nenhuma outra idéia ou pensamento deve ocupar a mente. Persista no exercício de concentração por alguns minutos; com a prática, dedique-se pelo menos 20 minutos diários.
(3) Siga igualmente as recomendações preliminares do item (1). Concentre-se na respiração e no espaço entre as sobrancelhas. Quando o ritmo respiratório estiver calmo, regular e a mente calma, mais centrada, e o corpo livre de tensões, concentre-se na repetição verbal e prolongada das vogais dos seguintes fonemas em ordem seqüencial: NA, MÁ, SHÍ, VÁ, YÁ. Repita o procedimento durante alguns minutos. Durante o exercício, nenhuma outra idéia ou pensamento deve distrair a mente. Com a prática, medite nesse poderoso mantra pelo menos durante 20 minutos diários.
(4) Quando o ritmo respiratório estiver sereno, regular e a mente calma, centrada, e o corpo relaxado, concentre-se para visualizar um pequeno ponto luminoso de cor violeta no espaço entre as sobrancelhas e concentre-se nele de forma prolongada. Nenhuma outra idéia, pensamento ou figura devem ocupar a mente.
7) Quais os benefícios que a meditação traz à saúde?
Resposta: Modernos estudos científicos, realizados na Índia, China, Japão e em outras partes do mundo, demonstram inúmeros benefícios da prática regular da meditação e comprovam o que já afirmavam, há milhares de anos, os antigos sábios e yogues da Índia e Zen Budistas:
1º) – mente calma (desacelera as ondas cerebrais);
2º) – aumento da capacidade de concentração, produtividade e criatividade;
3º) – combate do estresse (neutraliza a produção de hormônios a ele relacionados) e as tensões musculares e psíquicas; relaxa a musculatura;
4º) – promove centralidade psicológica;
5º) – apresenta efeito tônico (revitalizador) sobre o sistema nervoso e órgãos;
6º) – diminui e regulariza os batimentos cardíacos (combatendo arritmias e taquicardia);
7º) – normaliza a pressão arterial (combatendo a hipertensão, pois durante o relaxamento e a meditação ocorre uma redução na produção de hormônios ligados ao estresse, tais como: angiotensina (de poder vasoconstritor) e vasopressina (favorece a reabsorção da água ao nível dos rins, contrai as arteríolas e artérias e eleva a pressão arterial);
8º) – combate a produção de radicais livres que predispõem o organismo ao envelhecimento precoce e a doenças degenerativas; fortalece a imunidade;
9º) – melhora a auto-estima e a autoconfiança; alivia as dores agudas e crônicas;
10º) – promove bem-estar e contentamento. Isso acontece devido ao aumento da produção de endorfina, que é um neurotransmissor e também hormônio – composto de 31 aminoácidos –, descoberto em 1975, produzido durante a prática de exercícios físicos, do Yoga, de relaxamento neuropsíquico e muscular – Yoganidrá – e de atividades prazerosas, cujos efeitos principais no organismo são: melhoria da memória e do estado de espírito – bom humor, elemento terapêutico indispensável para melhorar a saúde física, emocional e mental –; aumento da resistência e da disposição física e mental; estimula a imunidade; apresenta efeito antienvelhecimento, pois combate os radicais livres; apresenta propriedades analgésicas; e bloqueia possíveis lesões dos vasos sangüíneos.);
11º) – combate a irritabilidade, a agressividade, a depressão e as doenças de natureza psicossomáticas;
12º) – muito beneficia as pessoas que sofrem de insônia, síndrome de ansiedade e distúrbio do pânico;
13º) – promove economia da energia orgânica; diminui os níveis do mau colesterol sangüíneo;
14º) – aumenta o fluxo sangüíneo no coração;
15º) – auxilia na regularização da glicose (açúcar no sangue) de diabéticos do tipo II;
16º) – melhora o controle respiratório (o que muito beneficia pessoas portadoras de problemas respiratórios e asmáticos);
17º) – auxilia no combate e na reversão das doenças coronarianas, etc.
* aforismos: frases de caráter sentencioso que encerram, de modo conciso, um profundo conhecimento ou pensamento