por Edson Toledo
Recentemente, li um artigo que me chamou muito a atenção, pois aconselhava os professores universitários a emitirem avisos prévios antes de ensinarem matérias potencialmente ofensivas aos seus alunos.
A história é relatada na revista “Atlantic Montley” e seus autores, Greg Lukianoff e Jonathan Haidt, dizem crescer nos Estados Unidos os casos de microagressões (palavras, conceitos, meras alusões) que põem em risco o “bem-estar emocional” dos alunos.
Os alunos têm direito a esse “bem-estar”?
As universidades devem ser “zonas de conforto”, onde nunca se deve escutar aquilo de que não se gosta?
Isso tudo porque se questionou a expressão “VIOLAR a lei” usada em faculdades de Direito; ou mesmo a palavra “violar” pode ser defensiva para alunas e alunos, despertando em alguns deles memórias automáticas que devem permanecer nos calabouços da consciência, perguntam os autores.
Você, caro leitor, pode pensar que estou alucinando, mas queria eu estar. O fato aconteceu mesmo em Harvard, isso mesmo, alunos do curso de Direito desconfortáveis com o termo solicitaram aos professores para o evitarem.
Em consequência a tal pedido, os professores da renomada universidade são aconselhados a emitirem avisos prévios antes de ensinarem matérias potencialmente ofensivas a seus alunos.
Se você acha estranho, vejamos um exemplo do artigo: se o assunto é literatura, o professor deverá avisar previamente a turma que “misoginia” e “abuso físico” fazem parte da clássica obra “O Grande Gatsby”, de F. Scott Fitzgerald para que nenhuma alma mais sensível possa desmaiar em plena aula e a carreira do professor estará sendo questionada ou encerrada. A pergunta a qual eu faço é a mesma dos autores: como se chegou até aqui?
O artigo levanta a hipótese de que a culpa é os pais dos universitários de hoje, que educam seus filhos com uma obsessão pela segurança que não existia em gerações anteriores.
Um livro intitulado “Como educar um adulto” (publicado pela Editora Rocco) escrito pela mãe de dois filhos e decana da Universidade de Stanford, Julie Lythcott-Haims, nos ajuda a entender esse fenômeno ao fazer uma leitura dolorosa ao traçar o caminho que a parentalidade assumiu nas ultimas duas décadas. A autora é taxativa: antigamente, os pais preparavam os filhos para a vida; hoje eles preferem proteger os filhos da vida – e isso não se vê só nas pequenas coisas e nas grandes coisas também.
De inicio na infância, quando o perigo de pedófilos, sequestradores ou lobos-maus obrigam os pais modernos a aprisionaremos os filhos em casa. Resultado: a epidemia da obesidade infantil, alimentada por horas de sedentarismo, ou por horas de uso do computador, suplantou em muito os acidentes normais das antigas brincadeiras da infância, tão distante da realidade nos dias de hoje.
Mas a obsessão por segurança dos chamados “pais-helicóptero” (estão sempre sobrevoando a vida dos filhos para afastar perigos e sofrimentos) não fica na infância. Depois de proteger os filhos nos primeiros anos, é preciso continuar a tratá-los como frágeis bibelôs na escola e até na universidade.
Como? Simples, escolhendo por eles (cursos, amigos, até como usar o tempo livre); pensando por eles (com exércitos de explicadores para todas as matérias curriculares); e até vivendo por eles (de preferência, medicando qualquer comportamento “desviante”, como a preguiça saudável ou o excesso de energia). Essa atitude tem um preço e o preço encontra-se na quantidade de alunos que a autora encontrou na universidade literalmente à deriva: insones, deprimidos, ansiosos, incapazes de tomarem uma decisão por medo psicótico de fracassarem. E, quando a decisão era inevitável, o comportamento era uniforme: sacavam o telefone celular de última geração e um telefonema aos pais para que eles decidissem qual decisão tomar.
Para Lythcott-Haims, a educação “moderna" fez dos “adultos” de hoje seres “existencialmente impotentes”. Porque os pais, na ânsia de tudo protegerem e controlarem, alimentaram nos filhos uma mentalidade de vitimas: seres frágeis e amedrontados que simplesmente não sabem como “funcionar” no mundo que existe fora do aquário.
Não será de admirar que, educadas perpetuamente como crianças, os universitários de hoje vejam “microagressões” em cada frase, curso ou professor. Tudo é ameaça para quem foi constantemente protegido de qualquer ameaça: um livro, uma frase, um conceito, e claro, um preconceito.
Portanto, fica a dica e a reflexão para que os pais de plantão incentivem os seus filhos a levantarem voos, com vista a formar adultos mais seguros, independentes e capazes de lidar com sucessos e fracassos.