por Lilian Graziano
“Cerca de três quartos dos trabalhadores e gerentes de nível médio entrevistados (foram dezenas) relataram ter recebido apoio de seus superiores, mas não se sentiam em dívida por isso”
Cada empresa tem sua cultura organizacional, mas uma crença corporativa comum é acreditar que, sendo gestor, aplicar-se em ajudar seus funcionários também com questões pessoais vai gerar maior compromisso deles com o trabalho (além de maior lealdade com a chefia).
O suporte emocional seria um plus pelo qual os funcionários deveriam agradecer.
Em contrapartida, o funcionário costuma ver como prerrogativa da função de gestor, chefe ou líder as atitudes magnânimas nesse sentido. Não seria necessário um contrato adicional de comprometimento e lealdade para com um chefe dito “bonzinho”, afinal, ele não está fazendo nada além de suas obrigações.
Tais constatações de visões opostas sobre uma mesma atuação se encontram em estudo recente da IMD Business School, em parceria com a University College London, feito na Suíça e publicado na última edição do Academy of Management Journal.
Cerca de três quartos dos trabalhadores e gerentes de nível médio entrevistados (foram dezenas) relataram ter recebido apoio de seus superiores, mas não se sentiam em dívida por isso.
O estudo também fala de um ciclo de negatividade que pode afetar a relação entre gestores e funcionários (e a toda a equipe) caso esses primeiros não recebam em troca a lealdade e o trabalho duro que muitos esperam ter quando ajudam os funcionários também com suporte emocional.
Qual é a sua conclusão a respeito, caro leitor, provavelmente inserido em alguma cultura corporativa? E como é possível enxergar a Psicologia Positiva nesse cenário?
Bom, em primeiro lugar, é preciso dizer que um pouco de gratidão por parte dos funcionários não faria mal a ninguém. Gratidão é uma das características humanas amplamente estudadas pela Psicologia Positiva (saiba mais), com evidências de que esse sentimento é capaz, sim, de colaborar na construção de uma vida mais feliz.
Em segundo lugar, há uma outra faceta do estudo, ainda não mencionada aqui que diz respeito diretamente à Psicologia Positiva.
O professor Ginka Toegel, coautor da pesquisa nos conta que outra percepção do estudo é que, de qualquer maneira: “Os gerentes e empregados percebem que controlar as emoções negativas pode ser importante dentro de uma organização”.
Isso vale para os chefes chateados com a “ingratidão” dos funcionários. Mas também vale para o trabalho feito por esses mesmos chefes que, sendo mais “humanos”, também ajudam a construir instituições positivas como propõe a Psicologia Positiva (claro que tudo dentro de um limite que será dado pelo grupo formado e pela própria cultura organizacional).
Instituições positivas, de maneira geral, promovem a felicidade. E, com as expectativas de gratidão dos chefes sob controle, o professor Anand Narasimhan, também da IMD, comenta outro ponto importante da pesquisa: “O fato é que os gestores se beneficiam de uma equipe feliz em termos de produtividade e resultados, mesmo sem contratos adicionais de lealdade e compromisso”.