Por Ana Lúcia Paiga
Ao convivermos com uma pessoa por algum tempo, temos a impressão de conhecê-la bem e até prevemos suas respostas, não é mesmo? Sim, isso é possível, pois estamos diante de sua persona, seu modo condicionado de ser, seu enredo. São atitudes repetidas, padronizadas para cada situação, automáticas, sem nenhuma criatividade. Uns são mais bonzinhos, outros mais chatos, outros mais exigentes, outros mais rebeldes, o fato é que na maioria das vezes, desconhecemos a Criança que se esconde sob essa máscara.
Um belo dia, depois de uns drinks a mais, essa pessoa se revela diferente daquela que você aprendeu a conhecer. O álcool atua “afrouxando” os limites do ego Parental, aquele que contém nossos valores, julgamentos, censuras. Num segundo momento, depois de mais algumas doses (isso varia de pessoa para pessoa), anula também o ego Adulto, nosso contato com a realidade (por isso esquecemos alguns fatos). Quem fica livre para se expressar é a Criança, na sua forma mais espontânea, que estava reprimida pelo enredo.
E aí você vai dizer: “Puxa que legal!! Então isso é bom?!”
Pois é… não é bem assim.
Nosso enredo contém elementos positivos e negativos, que programam a Criança para conviver em sociedade. Valores fazem parte dessa programação. Se eu anulo tudo isso indiscriminadamente, a Criança fica à deriva, sem nenhum limite, e portanto, à mercê de seu instinto puro de sobrevivência e busca pelo prazer. Já viu como pessoas alcoolizadas têm “atitudes sem noção”? Por vezes, ficam irreconhecíveis! – “Parecem um bando de loucos!”.
Mas então qual é o jeito saudável de estar no mundo?
Um indivíduo com autonomia, espontâneo e responsável por seus atos, é aquele que expressa sua essência, sem condicionamentos, porém com consciência de si e do outro, com senso de limites, respeito e amor ao próximo. Para isso, não há que ser necessário o uso de nenhuma droga, mas sim a adequação entre valores, permissões e elaboração de suas frustrações. Esta condição seria suficiente para impedir a maioria dos “desastres” que acontecem nas grandes festas coletivas (Carnaval, por exemplo). A bebida pode ser ingerida como um sabor agradável, sem exageros que tem a intenção de superar alguma dificuldade (timidez, medo, baixa autoestima). Assim como não se come até cair ou passar mal, não se deveria beber até cair, não é? Qual o sentido disso? Se arrepender depois?
Ou seja, Criança feliz, é aquela que conta com a atuação amorosa de um *Pai Nutritivo interno (saiba mais), aliado às informações fidedignas de seu Adulto, e se sente livre para existir, oferecendo suas habilidades e colaborando com o bem geral. Consciente e sem artifícios.
Essa seria a melhor forma de curtir a vida. Só alegria!
* Um Pai Protetor, Nutritivo, vai estimular sim a criança a dar o seu melhor, expressando seu potencial e habilidades, mas respeitando seus limites.