por Thaís Petroff
“Segundo Beck, o pai da Terapia Cognitiva, a depressão é considerada um transtorno de pensamento e não um transtorno emocional”
Tristeza é algo comum no dia a dia das pessoas e é bom que elas a sintam, pois é uma resposta emocional a algum estímulo que a mente interpretou como causador da mesma.
Demonstra que está tudo bem com o processamento e interpretação das informações recebidas, assim como é também uma maneira de exprimir o que se sente. Já a depressão vai muito além da tristeza, por ela ser constante, estável e muitas vezes desprovida de um estímulo iniciador.
A depressão é um dos transtornos psiquiátricos mais comuns. Afeta pessoas de qualquer idade, gênero ou nacionalidade.
A incidência da depressão na população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é de 10% – em torno de 121 milhões de pessoas. Em São Paulo a taxa é de 12% para homens e 25% para mulheres*
Mesmo nos dias de hoje, a depressão é ainda, em inúmeros casos, não diagnosticada e nem tratada de maneira correta. A OMS estima que cerca de 75% das pessoas com depressão não recebam tratamento adequado. Segundo a (OMS), é a quarta causa global de incapacidade e a previsão é que até o ano de 2020, torne-se a segunda maior causa de incapacidade e perda de qualidade de vida.
Muito desse resultado se dá pelo preconceito e falta de informação da população sobre o transtorno. Somente um psiquiatra ou psicólogo podem diagnosticá-la. É importante que se conheça um pouco sobre seus sintomas, pois através dessa identificação, pode-se buscar ajuda**.
Do ponto de vista biológico há alterações do apetite e do sono, ambos podendo ser tanto para mais quanto para menos. Há também diminuição da libido.
Quanto ao comportamento, há maior passividade, inatividade, aumenta-se a dependência e o isolamento, assim como as reclamações e o choro.
A pessoa com depressão tem sua motivação alterada, perdendo seu interesse pelo lazer, amizades, trabalho assim como podendo ter um comportamento maior de esquiva, como o suicídio.
Com relação à cognição (capacidade de apreender e reter informações), a concentração diminui, há um déficit de memória, o pensamento fica mais lento e ineficiente e há uma maior dificuldade na tomada de decisões.
O humor fica deprimido, daí o nome do transtorno – depressão – e sua classificação psiquiátrica como um “transtorno afetivo”.
A terapia cognitiva tem uma contribuição diferenciada para auxiliar no tratamento de depressão. Segundo Beck, o pai da Terapia Cognitiva, a depressão é considerada um transtorno de pensamento e não um transtorno emocional. Ele propõe que os depressivos “sofrem” de uma vulnerabilidade cognitiva (como se fosse uma falha no processamento da ideias, que causará portanto uma falha no conteúdo das mesma) o que os faz cometer três erros (gerando as distorções cognitivas abaixo:
• Sistematicamente distorcem a realidade, aplicando um viés negativo (catastrofização e rotulação).
• Processam seletivamente determinados recortes do real, os quais combinam com seu negativismo e, descartam os outros (abstração seletiva e desqualificação do positivo).
• Um vez cometida uma distorção, resistem à desconfirmá-la.
Segundo essa teoria, a cognição é que seria o fator central da depressão, pois seria influenciada por ela (pelas distorções) que o humor se deprimiria e não o contrário – do humor deprimido causar os pensamentos pessimistas. Segundo essa hipótese teórica, na qual a TCC se apoia, o paciente depressivo passa a ter mais possibilidades de ação, podendo atuar sobre o causador de seu transtorno, ao invés de ficar à mercê do seu humor, como se não houvesse o que fazer ou como controlá-lo.
Na Terapia Cognitivo Comportamental, além das técnicas comportamentais que estão inclusas nesse processo (e que auxiliam o depressivo principalmente na parte motivacional e comportamental) o maior trunfo é flexibilizar os pensamentos com viés negativo e chegar a reestruturação cognitiva***, essa que previne a recaída e mantém o paciente bem, mesmo após a retirada da medicação.
Segundo um estudo feito em Minnesota****, que tinha como intuito comparar a efetividade da Terapia Cognitiva versus a Farmacoterapia, teve como resultados:
• Ambos os tratamentos isoladamente tiveram os mesmos resultados.
• Os tratamentos combinados (terapia + medicação) não tiveram um resultado significavelmente superior aos tratamentos ministrados isoladamente.
• A terapia cognitiva reduz o risco de recaída sendo tão efetiva quanto o uso contínuo da medicação.
• Nas fases de tratamento as condições dos resultados são próximos, mas na fase pós-tratamento, o fato da TCC reestruturar a parte cognitiva traz um grande diferencial e ajuda em relação ao risco de recaída.
*Lima MS, Béria JU, Tomasi E, Conceição AT, Mari JJ. Stressful life events and minor psychiatric disorders: na estimate of the population attributable fraction in a Brazilian community-based study. Int J Psychiatry Med 1996; 26:213-24.
** Para que haja um diagnóstico de depressão, diversos desses sintomas acima precisam ocorrer por no mínimo 2 semanas e manterem-se constantes durante esse período.
*** A reestruturação cognitiva é uma reformulação e reorganização da maneira do indivíduo de pensar e conseqüentemente do conteúdo de suas cognições. Tendo crenças e pensamentos disfuncionais o sujeito distorce a realidade e frente a isso tem emoções e comportamentos também disfuncionais. O objetivo da reestruturação cognitiva é de auxiliar o paciente a pensar e agir de forma realista e adaptativa.
**** Hollon et al., 1996.