por Patricia Gebrim
Hoje acordei com uma pergunta em mente. O mundo anda tão conturbado, e parece existir tanta coisa para ser curada… Pensei então.
– Será que existe um 'eu' dentro de todos nós que seja sábio o suficiente para nos ajudar a curar a nós mesmos?
– E será que, ao assumirmos esse eu, podemos participar da cura do mundo?
Como sempre, a caneta respondeu…
Existe um curador dentro de você!
Como despertá-lo?
Todos podemos ajudar a criar um mundo mais pacífico e harmonioso, mas isso deve começar dentro de cada um de nós. Imagine que exista em você uma parte sábia e amorosa. Eu o chamarei de seu 'eu curador'.
Se você olhar só para o que se passa lá fora, corre o risco de ficar perdido no medo, na dor, na desesperança. Logo, para despertar seu 'eu curador', deve aprender a voltar o seu olhar para dentro, não importa o que esteja acontecendo ao seu redor.
Para despertar seu 'eu curador' é preciso conhecer as próprias feridas, pois elas fazem parte da verdade mais profunda que nos ensina que é através da nossa própria dor, que podemos sentir a dor do mundo e nos sentir parte dele também. É preciso ser capaz de acolher as próprias lágrimas, embalar os próprios medos, aceitar os momentos de raiva e hesitação.
É preciso conhecer as paredes da própria prisão, sem deixar de pressentir a luz que chega através das grades. É preciso reconhecer-se também nessa luz, e nas estrelas, e nos rios, e nas montanhas, e no canto dos pássaros, e no sorriso de uma criança. É preciso sentir-se parte da natureza e não conseguir deixar de suspirar ao assistir à beleza de um silencioso pôr-do-sol. É preciso ter senso de humor, saber criar alegria e leveza sem precisar negar a dor e a tristeza. Um 'bom curador' é um equilibrista e sempre tem um pouco da alma do artista. É preciso ter amado profundamente um outro ser humano, e ter sido capaz de entregar-se totalmente a esse amor.
Tudo isso é preciso para despertar o seu 'eu curador' e muito mais.
Um 'curador' oferece a si próprio como instrumento e cuida para que sua vida contenha momentos de silêncio, paz e contemplação. Sabe que é preciso fazer silêncio dentro de si para que o universo possa se manifestar.
– Sabe que cada pessoa com quem convive é uma alma precisando ser descoberta e faz disso seu maior desafio.
– Olha através dos olhos e reflete de volta a luz que encontra dentro de cada ser humano.
– Não cai nas armadilhas do tempo e sabe que qualquer pessoa é sempre uma pessoa a ser conhecida, mesmo que já se tenham encontrado muitas vezes.
– Nunca se cansa de descobrir o outro, não se guia pelo passado, não cristaliza histórias. Ajuda a criar movimento e libertação.
– É capaz de dar asas à imaginação e compartilha a memória de que todos somos seres maravilhosos, capazes de criar tudo aquilo que pudermos imaginar. Assim, ajuda as pessoas a descobrirem o dom de reinventarem a si próprias a cada momento.
– Gosta de viajar por terrenos desconhecidos. Oferece sua companhia para desvendar cavernas sombrias, mergulhar em regiões profundas ou nas matas mais densas. Em troca, procura companhia para voar entre os brilhantes astros do universo, cavalgar em caudas de cometas e depois voltar à Terra escorregando por entre as cores do arco-íris.
– Confia na sabedoria intuitiva presente dentro de cada pessoa, e nunca contraria essa sabedoria. Sabe respeitar o NÃO do outro. Sabe respeitar os momentos de dor e silêncio. Sabe respeitar a raiva ou qualquer sentimento que se faça presente. Não tenta suprimir, desviar ou controlar o que não compreende. É capaz de suportar sua incapacidade de compreender todas as coisas, pois muitas vezes é isso o que acontece. É capaz de, nesses momentos, acreditar que existe um sentido maior no que se passa, e apenas estar presente, permitindo que o universo faça sua dança de cura.
.- Acredita na simplicidade de ser apenas quem é, e faz disso sua oferenda. Seus maiores recursos são a sensibilidade e a reverência que sente ao se encontrar frente a outro ser humano, a profunda compaixão que sente por sua dor e o vislumbre do potencial infinito de sua essência.
Quando olha para um outro ser humano, um 'curador' não vê apenas o que existe, mas também as maravilhosas possibilidades de vir a ser. Vê na semente adormecida toda a beleza da flor já aberta para o mundo. O maior dom de um 'curador' é ser capaz de compartilhar essa visão.
Um 'curador' é capaz de abrir mão de anos de estudos e teorias em troca de um momento de verdade sobra a qual ninguém nada escreveu ainda, pois é a verdade do momento, a verdade do sentimento, a verdade que se esconde além dos conceitos. É capaz de ouvir as pessoas com seu coração, vale sagrado que existe além do certo e do errado, encontrando a presença do divino em qualquer manifestação. É capaz de permanecer incondicionalmente ao lado do outro para ajudá-lo a aceitar e compreender que sua vida é o fruto doce ou amargo de suas próprias escolhas. É capaz de ajudar o outro a reencontrar sua capacidade de sonhar, para que dessa forma ele possa fazer escolhas diferentes, que tornem mais doces os momentos de sua vida.
Importante! Um 'curador' nunca desiste. Nunca desiste de seu caminho, da possibilidade de um mundo melhor com mais harmonia, mais vida e mais alegria. Nunca desiste de si mesmo. Nunca desiste de ninguém.
Um 'curador' às vezes se sente frágil e cansado e nesses momentos sabe procurar ajuda. Sabe que muitas vezes ainda se sentirá impotente e fracassado e que não será capaz de fazer muitas das coisas que são esperadas de um 'curador'.
Eu reli tudo o que tinha escrito, e me senti pequena, incapaz de tarefa tão grande.
Foi então que encontrei a luz…
Para ser um 'curador' é preciso, antes de mais nada, Ser.
Não um “bom curador”, Ser quem você é.
Talvez não tão perfeito ou tão equilibrado quanto gostaria, talvez muitas vezes inseguro, ou confuso, ou assustado; talvez muitas vezes triste, ou com raiva, e ainda assim você.
E mais.
É preciso que você se sinta Divino mesmo assim, que tenha uma crença na bondade infinita de um Deus que nos ama, apesar de termos nos distanciado dele, apesar de termos esquecido quem somos, apesar de tantas vezes sermos incapazes de amar.
Ser um curador é um ato de amor, e como qualquer ato de amor, deve começar por aceitarmos e amarmos a nós mesmos.
Despertar o seu Eu Curador é o que de melhor você pode fazer pela paz.