por Edson Toledo
Que não existe pessoa sem personalidade é fato, mas uma pergunta básica, o que seria essa tal de personalidade?
Ao longo da história, filósofos, cientistas e pesquisadores se debruçaram sobre a questão e, hoje, uma teoria amplamente aceita indica tratar do resultado da combinação e da interação entre dois componentes: o temperamento e o caráter (discutiremos o primeiro componente mais adiante). Outro fato inegável é o de que a personalidade é considerada uma organização dinâmica, resultante de fatores de ordem biopsicossocial e religioso.
Por se tratar de um tema complexo, hoje falaremos sobre o temperamento.
Nascemos com as sementes do bem e do mal, mas como elas vão germinar, crescer e dar frutos depende de uma série de fatores que irrigarão a nossa existência. Basta observar a personalidade de gêmeos idênticos. Eles têm bagagens genéticas idênticas, mas interagem, apreendem e assimilam fatos e situações de forma única.
Podemos resumir o temperamento como sendo a predisposição biológica para as sensações, motivações e reações automáticas no plano emocional. Ele é à base do nosso humor, o ingrediente que nos dá o tempero e o colorido emocional, permanecendo estável ao longo da vida. A ciência já comprovou que nossa herança genética também influencia nossas tendências e respostas comportamentais.
Desde os primeiros anos de vida, podemos observar o "temperamento" de uma criança, isto é, a maneira peculiar como ela percebe, sente e reage às experiências. Umas são mais tolerantes a frustrações, outras são tímidas, há as extrovertidas, as ansiosas, as calmas… Enfim, cada uma tem sua natureza no plano emocional, tanto que dizemos: ele é uma pimenta… Ela é um doce.
Atualmente uma das definições mais aceitas para temperamento, é a proposta lá nos idos de 1990, classificada pelo psiquiatra americano Robert Cloniger, que categoriza o temperamento em quatro dimensões: evitação de danos, busca de novidades, dependência de recompensa e persistência.
Vamos entender um pouco sobre estas quatro dimensões do temperamento:
– A "Evitação de danos" é a tendência a se retrair ou a parar de agir diante de uma adversidade. Está relacionada ao pessimismo, à apreensão, ao medo e à timidez. O indivíduo evita situações que possam ser ameaçadoras ou frustrantes. a cautela o protege do perigo real. em contrapartida, cria um freio natural a experimentações. Alguém com baixa tendência à evitação de danos é um sujeito ousado, otimista, extrovertido e cheio de energia para o que é novo.
– A "Busca de novidades" está relacionada à propensão a novas atitudes diante de estímulos externos, ou seja, uma tendência à excitabilidade, à impulsividade e ao comportamento exploratório. É o que move e moveu o ser humano a deixar a caverna e descobrir o mundo lá fora. É um traço que torna o indivíduo empreendedor e capaz de iniciar projetos. Por outro lado, quando impedido de buscar o novo, ele tende a sentir tédio e raiva e a agir de forma impensada ou agressiva. Pessoas com baixa tendência à busca de novidade são retraídas, discretas, resignadas e reflexivas.
– A "Dependência de recompensa" implica manter comportamentos previamente associados à conquista de prêmios ou recompensas. É uma característica atrelada às relações sociais e se manifesta na tendência à sensibilidade, ao sentimentalismo e à necessidade da aprovação de terceiros. Esse traço facilita os trabalhos em grupo, a comunicação e o entrosamento. Indivíduos pouco inclinados à tendência de recompensa são frios, reservados e excessivamente independentes.
– A "Persistência" é a capacidade que o sujeito apresenta de se dedicar a tarefas e atividades de longo prazo, mesmo contando apenas com uma promessa de recompensa no futuro. Os indivíduos tendem a se adaptar a uma rotima e a segui-la, por acreditar que ela servirá à sua realização pessoal. Em contrapartida, a baixa tendência à persistência pode ser sinônimo de preguiça e apatia.
Cabe destacar que cada pessoa pode apresentar uma ou mais dessas dimensões, em maior ou menor grau e esses temperamentos também tendem a ser mais ou menos adaptativos e a se sobressaírem ou a se retraírem de acordo com a situação.
O fato é que quando uma dessas dimensões da personalidade for muito inflexível, mal ajustada… essa prejudica a adaptação do sujeito a situações que ele tem de enfrentar, causando sofrimento e incômodo a ele próprio ou, mais comumente, aos que estão próximos. A isso podemos chamar de traço patológico de personalidade.
Aqui não comentei um outro componente da personalidade: o caráter. Ficará para outro post! Porém, se o tema lhe atrai, consulte "Psicopatas do cotidiano" de Katia Mecler (2015), que apresenta um texto bem didático sobre o tema.