por Juliana Zacharias – psicóloga do NPPI
Desde há algum tempo, o tema do “vício em internet e computadores” vem recebendo grande atenção da mídia, além de preocupar pais e usuários de computador. Em paralelo, esse tema tem recebido grande investimento por parte de alguns profissionais de saúde no que diz respeito a pesquisas e a criação de serviços que possam ajudar as pessoas que encontram dificuldades na sua relação com esta máquina.
Parece que, depois de um encantamento inicial com essa nova tecnologia (que já não é nem tão nova assim, segundo nossos parâmetros de tempo, cada vez mais acelerados), estamos começando a olhar para os problemas que podem ocorrer a partir de uma maior popularização dessa ferramenta. Contudo, entre a admiração e o temor, acabamos nos perdendo nesse mar de novidades. Por isso, se torna importante falarmos com um pouco mais de profundidade desse tema.
É muito comum a palavra ‘vício’ em informática vir associada a um critério de quantidade de tempo online. Obviamente, o tempo que uma pessoa passa conectada é um fator importante quando se vai avaliar o quadro. Mas, nos dias de hoje, onde o uso do computador e da internet é necessário em boa parte da vida profissional de todos, seria muito simplista reduzir o diagnóstico de vício ao fator “tempo on-line”.
Vocês podem estar se perguntando, então, se tempo de uso não é o mais importante, que outro fator poderia ser destacado?
Essa é uma pergunta difícil de responder de modo simples, uma vez que, também para os profissionais, questões inéditas estão sendo colocadas por meio desse problema. Além disso, como em todos os outros “tipos” de vício, um critério isolado não consegue dar conta de todo o quadro.
Critérios
Por isso, é fundamental consideramos várias características do tipo de uso feito, na hora de avaliarmos a relação que uma pessoa tem com seu computador.
O uso repetitivo e pouco criativo é uma dessas características. Por exemplo, se uma pessoa usa muito intensamente a internet para acessar conteúdos de pornografia, podemos pensar que seu uso se aproxima de um quadro de uso compulsivo, especialmente se comparado a alguém que acessa e-mails, faz pesquisa, conversa no MSN, joga e também acessa sites pornográficos.
Outro critério importante é como a pessoa se sente quando fica off-line: se fica ansiosa, triste, irritada e pensando muito em como e quando será seu próximo acesso.
É fundamental também avaliar como anda a vida presencial dessa pessoa, ou seja: se mantém em pauta seus encontros sociais, amorosos, trabalho, escola, lazer, etc.
O olhar do ‘outro’ também nos ajuda muito nessa avaliação: observar se a pessoa em questão com freqüência recebe reclamações das pessoas com quem convive (seus pais, cônjuges, namorados) sobre o tempo que passa em frente ao computador. E observar também se eventualmente acaba mentindo aos mais próximos, sobre seu uso para evitar conflitos com as pessoas com as quais se relaciona.
Como se pode ver, fazer um diagnóstico sobre esse problema é uma tarefa bastante complexa, e cada caso deve ser olhado de perto, pois um mesmo uso pode ter diferentes significados para pessoas diferentes. E são essas diferenças individuais que vão determinar a abordagem que o seu tratamento deverá seguir.
A partir dessas primeiras considerações podemos perceber a importância de avaliarmos como anda nossa relação com o computador: ela amplia nosso mundo, nossas relações, traz prazer e satisfação, ou tem restringido nossa vida presencial, gerando certo aprisionamento e sofrimento?
A internet apresenta vários atrativos como, por exemplo, a possibilidade de anonimato, o acesso irrestrito a diversos conteúdos, a democratização da informação, a auto-exposição permitida, além de um grande espaço para que as diversas fantasias humanas encontrem um lugar de expressão e satisfação. Isso tudo pode ser muito positivo para o homem, mas também pode aprisioná-lo nas sensações obtidas por essas vias. Para que isso aconteça ou não, é necessário compreender o sentido que cada pessoa dá ao seu computador (e à internet) e como esse dado se integra na personalidade e nas vivências de cada usuário.
Desde agosto de 2006 estamos oferecendo na Clínica da PUC-SP um serviço de orientação via e-mails para pessoas que percebam algumas destas dificuldades no uso que fazem do computador (via internet ou não).
Durante esse atendimento, procuramos orientar cada pessoa de forma individualizada, com o objetivo de ampliar sua compreensão e a auto-avaliação sobre o uso que faz de seu computador; Após esse processo, sendo necessário, procuramos sensibilizá-la para a busca de um acompanhamento presencial. Vale lembrar que não se trata de uma psicoterapia mas, sim, de uma orientação pontual, com duração breve. Por estar inserido na nossa Clínica Escola, trata-se de um serviço oferecido à comunidade de forma gratuita e sigilosa.
Caso você queira fazer uso desse serviço escreva para o e-mail de contato abaixo de nossa logomarca.