por Roberto A. Santos
Se existe nesta vida um recurso distribuído com total equidade entre os seres deste planeta é o tempo. Todos temos os mesmos 86.400 segundos por dia para tomar uma decisão muito importante ou para perder a oportunidade de sua vida, por não termos agido a tempo. No entanto, a maioria das pessoas reclama da falta desse recurso tão democrático, esquecendo que, às vezes, também lamenta que seja elástico demais.
Einstein explicou sua famosa teoria da relatividade pela comparação de como o tempo voa quando namorados estão juntos e como a mesma quantidade de tempo parece uma eternidade quando sentamos numa pedra em brasa. O tempo psicológico, a sensação interna de sua passagem, nada tem a ver com aquela medição dos relógios.
Essa diferença é bastante real e sentida na pele quando estamos ansiosos aguardando uma resposta, por exemplo, depois de duas ou três entrevistas para uma vaga do emprego sonhado ou para vender um projeto a um cliente importante. Cada toque do telefone, cada e-mail que soa, dispara uma dose de adrenalina da expectativa seguida do amargor da frustração quando era engano ou um spam. Passa um dia, uma semana, e já nos prepararmos para aceitar a decepção final.
Do outro lado da linha, o tempo corre veloz demais para as pessoas darem conta de tudo a fazer nas estruturas organizacionais que já estão prá lá de enxutas – desidratadas até. Nem para contratar um novo e salvador recurso ou serviço conseguem parar e fazer uma ligação telefônica.
Miguelito, um amiguinho da Mafalda, inesquecível personagem dos quadrinhos de Quino, olhava certa vez para seu polegar, tendo ao fundo a torre de uma igreja que pela distância lhe parecia menor que o dedo da criança. Sua amiga tenta lhe explicar os princípios da perspectiva, mas ele contesta: "Não. Meu dedo é maior porque ele é mais importante prá mim do que a torre da igreja".
O valor que damos às coisas, pessoas ou situações, tem um impacto potente sobre a percepção que temos delas. A apreensão dolorida durante a espera por uma resposta crucial para nossas motivações e necessidades vai arrastar os ponteiros dos minutos como a folha de todo um mês do calendário.
No auge da ansiedade, não conseguimos imaginar que o longínquo portador da resposta, esperada ou temida, possa estar mais assoberbado do que gostaria para aplacar aquela dor e ajudar a resolver seus próprios problemas de tempo com um novo recurso.
Todos gostaríamos de enganar os truques do tempo, distraí-lo para esquecer-se de nós nos momentos sublimes ou açoitá-lo para se apressar em nos conceder a terra, ou, pelo menos, a resposta prometida.
Geraldo Vandré cunhou, em seu belo hino dos Anos 60 – "Para Não Dizer Que Não Falei das Flores", a frase: "Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer". A despeito do fato de não conseguirmos fazer mais do que as 24 horas que contem cada dia, somos capazes de saber mais e fazer acontecer mais em cada momento vivido.
Podemos aplacar a tortura da espera, aprendendo e fazendo algo que seja importante para nós e esteja a nosso alcance. Só assim, a definitiva relatividade do tempo atuará a nosso favor.