por Lilian Graziano
Nunca fui de samba e futebol. Isso desde que os jogadores multimilionários fizeram opção pelo marketing em detrimento de jogar como deveriam, dedicarem-se à sua principal função (que não a de posarem de celebridade). Então, na Copa de Mundo, resolvi que o melhor a fazer, nessa época, seria tirar umas merecidas férias.
Foi muito bom estar longe de casa com meu marido. Isso para espanto dos estrangeiros, que percebiam que éramos brasileiros fugitivos da “muvuca” futebolística. Fora isso, pudemos mergulhar na magia dos lugares que visitamos, experiência que me rendeu algumas reflexões, as quais gostaria de compartilhar com você, caro leitor.
A despeito das belas paisagens, não nos damos conta que a magia das viagens reside, principalmente, na postura que assumimos ao viajar, ao olhar diferenciado do qual nos permitimos desfrutar quando estamos em férias. Tendemos a fazer sempre comparações positivas entre aquilo que conhecemos e o novo vivenciado nessas experiências. De férias, os momentos parecem mesmo mais agradáveis, ainda que contenham muito das vivências das quais, no dia a dia, não gostamos tanto.
Comecei a me dar conta disso quando, numa conversa sobre o trânsito nas grandes cidades afirmei, com convicção (!), que não havia trânsito em Nova York. Ao fazer tal afirmação diante dos amigos, experimentei o que em Psicologia chamamos de dissonância cognitiva: algo me dizia que eu estava errada, contudo, genuinamente, minha declaração retratava meus sentimentos.
Foi somente na quarta vez que estive em Nova York que percebi o trânsito de Manhattan. Meu espírito viajante me impediu que, nas três primeiras vezes, eu desviasse o olhar para coisas desagradáveis, como o trânsito que tanto detesto. E isso certamente aconteceu em outras viagens, nas outras experiências em que confrontei a nova visão com aquilo que presenciava em meu próprio país e que me desagradava. E em todos esses casos talvez a experiência não tenha sido, mesmo, tão mais positiva. Talvez eu estivesse, apenas, disposta a enxergá-la dessa forma.
A maioria das pessoas ama viajar. Será que o que elas amam, de fato, não seria os seus “Eus viajantes”? Nesse sentido, talvez, nosso “eu viajante” seja uma versão melhorada de nós mesmos. Pena dependermos das férias para vivenciá-la.