por Anette Lewin
Depoimento de uma leitora:
"Sofro de síndrome de pânico há 5 anos e nunca tomei remédios. O meu tipo de síndrome é medo de ter medo: tive uma forte crise e pensei que iria morrer. Tive quando estava em casa sozinha. A partir desse dia, nunca mais fui a mesma pessoa. Tenho medo de ficar sozinha em casa, porque tenho medo de ter uma crise de novo e perder o controle e morrer. Meu marido fica em casa comigo, porque tenho medo de ficar sozinha en qualquer lugar. Eu quero voltar a ter uma vida normal. Mas quando meu marido fala que vai sair, eu já começo a ficar nervosa e já começa o pânico. Por favor, como posso ficar sozinha de novo, sem ter medo do medo de ter outra crise. Por favor me ajude, estou grávida de 1 mês. Por favor, me liberte desse fantasma de minha vida."
Resposta: "Estava sozinha em casa, tive uma forte crise e pensei que iria morrer", você diz. Como seu medo não se concretizou, pois você não morreu, você conclui que tem medo de ter medo e associa esse medo a estar sozinha. Morrer ou estar sozinha são apenas tentativas de justificar seu medo. Afinal, por lógica, o medo deve estar ligado a algum perigo, não é? Na síndrome do pânico não! Nessa síndrome a pessoa reage como se estivesse frente a um grande perigo que, na verdade, não existe. A explicação, pelo menos a que temos até agora, é que isso se deve a uma desorganização dos neurotransmissores, ou seja os componentes bioquímicos do cérebro da pessoa se desequilibram e provocam uma sensação e uma reação que não estão ligadas a um fato real.
Certamente, se a questão é bioquímica, um medicamento que reorganize neurotransmissores pode ajudar. Mas você diz que nunca tomou remédio e vai levando sem eles há 5 anos. Isso quer dizer que as crises acontecem, mas passam sozinhas, não é? Talvez você possa usar esse fato para tentar acalmar-se quando entrar em crise. Ao invés de pensar que vai morrer, seu pensamento pode dirigir-se para a constatação que todas as crises que você teve passaram, e a próxima, certamente passará também. Ter consciência que você tem uma tendência a se desorganizar bioquimicamente também ajuda. Durante a crise você pode tentar aceitá-la e dominá-la ao invés de ser dominada por ela.
Outra atitude que ajuda é exercício físico. Mexer-se reorganiza os neurotransmissores e ajuda você a produzir em seu cérebro os elementos que a fazem sentir-se melhor. Assim, quando estiver em crise, evite ficar parada, pensando. Ande, mesmo que seja dentro de casa, faça qualquer coisa que a obrigue a se mexer. É possível que isso a ajude a se sentir melhor.
Quanto ao medo de ficar sozinha quando seu marido sai, tente afastar a sensação de solidão (que para você representa perigo) ligando a TV, batendo um papo pelo computador, enfim, use a tecnologia a seu favor.
Tente convencer-se que os meios de comunicação nos dias de hoje são muito eficientes e ninguém fica realmente sozinha enquanto estiver conectado a eles. Eles estão aí para qualquer pedido de socorro que você quiser fazer.
Você está grávida, e esse fato também poderá ajudá-la a se reorganizar para a nova fase de vida que está por vir. Quando for mãe, você passará de pessoa que precisa ser cuidada e protegida para pessoa que vai cuidar e proteger um novo ser. Ter isso em mente poderá fortalecê-la e motivá-la para tentar direcionar seus pensamentos para os preparativos com o bebê, cuidados com a gravidez, leituras relacionadas à maternidade e outras atividades de quem vai encarar a experiência de ser mãe.
Certamente, tudo o que foi dito não parece fácil para quem sofre de síndrome do pânico. Mas também não é impossível. Vale tentar. E síndrome do pânico nem sempre é fácil de diagnosticar. Muitas vezes é confundida com outros distúrbios fobicos ou ansiosos. Assim, só você pode saber o quanto suas crises atrapalham sua vida para resolver qual a hora de buscar ajuda medicamentosa. Ou ajuda psicoterápica que poderá fazê-la entender melhor seus medos, suas angústias e aprender a lidar com eles.
Não hesite em buscar esse tipo de ajuda caso conclua que não consegue melhorar sozinha. É o melhor que você pode fazer por você, seu marido e o bebê que está por vir.
Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo ou médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.