por Silvia Maria de Carvalho
"Estou desempregada há três anos. Nesse meio tempo, fiz muitos cursos e agora resolvi ir atrás de um emprego. Mas sempre quando começo a procurar e surge uma entrevista, sinto muita ansiedade, nervosismo, ao ponto de não ir à entrevista ou não conseguir dormir. Quero muito poder trabalhar, mas esse problema está me impedindo."
Resposta: Você conta sobre uma situação específica de ansiedade: entrevistas de emprego.
Boa oportunidade para falar sobre esse sentimento: um estado normal, incômodo, que avisa sobre um suposto perigo. Medo: fundamental para a sobrevivência.
Fácil entender o quanto uma entrevista é capaz de gerar ansiedade.
Alguém desconhecido vai te olhar de frente, te avaliar e fazer perguntas. E você quer acertar, causar boa impressão. Quer trabalhar. Estranho seria uma noite anterior serena.
Mas algo me chamou a atenção: seu nervosismo é tanto, que você nem sai de casa.
Você já deve ter percebido que, apesar dos cursos que fez (uma ótima iniciativa), chega a hora de fechar os livros e dar o próximo passo. Não há preparação suficiente para mostrar tudo que você aprendeu até hoje. A questão é confiar que esse conhecimento corre em suas veias e já faz parte de você.
Por mais perfeccionista que sejamos, nunca poderemos adivinhar exatamente o que a outra pessoa espera ouvir. Sendo assim: pegue sua mão e leve você mesma para a entrevista. Não espere a ansiedade passar. Vá com ela. Funcione com o medo.
É provável que você não queira enfrentar situações geradoras de “nervosismo”, justamente por que são desagradáveis. E como a maioria das pessoas que sofre com a ansiedade, pode-se pensar que essas sensações vão embora porque foram evitadas.
Acontece exatamente o contrário. A melhora vem com o enfrentamento.
Como diminuir a ansiedade?
Vá ao local da entrevista um dia antes, imagine a conversa com o entrevistador, fale sozinha sobre você mesma ou para alguém de sua confiança. E pronto. Só você conhece sua história.
Quanto mais você viver a situação, menos chance tem de sofrer com ela nas próximas ocasiões.
Ir à entrevista e ficar até o fim é uma vitória por si só, independente do resultado.
Na hora H, perceba a ansiedade indo e vindo, subindo e descendo. Nosso corpo não aguenta níveis altos de estresse por muito tempo.
Já pensou no que pior que pode te acontecer?
Constrangimento ou vergonha. Então, a hora é de treinar o “e daí?”
Não morremos de ansiedade. O grande problema é anterior ao evento. A ideia de algo insuportável ou de catástrofes que, verdadeiramente, nunca chegam a acontecer. Por mais assustadores que sejam seus pensamentos e sentimentos, por mais que pareçam ter vida própria, não são perigosos de fato.
Claire Weekes, uma médica australiana com experiência em transtornos de ansiedade, disse: “A paz está do outro lado do medo.”
Por fim, queria dar um alerta: dependendo do grau da ansiedade, é fundamental procurar um médico psiquiatra. Ninguém escolhe viver num estado de tensão extremo, podendo surgir sem motivo aparente e nem justificativas. Isso não tem nada a ver com fraqueza. Pode ser que seu sistema de alerta esteja precisando de ajustes.