por Sandra Vasques
"Tenho muita vontade de ser dominado por uma mulher: ser seu escravo, capacho, submisso, apanhar, ser humilhado, cumprir suas ordens… Isto é normal ou estou ficando doido?"
Resposta: Normal é um conceito muito perigoso. Pode ser utilizado por muitos para impor o jeito de pensar da maioria, ou de quem detém o poder e, consequentemente, discriminar, oprimir e punir.
Assim, tanto na ciência, quanto entre os leigos, é preciso muito cuidado, ética e bom senso quando se fala em normalidade. Assim, devo dizer que a maioria não tem os mesmos desejos que você, mas isso também não significa que esteja ficando doido. Existe um manual para ser utilizado por profissionais da área de saúde mental, que classifica o sadismo como um problema de saúde mental a ser tratado. É classificado como parafilia, perversão, que é um tipo de comportamento sexual em que a principal fonte de prazer não está no ato sexual e sim em ser humilhado e se submeter a vários tipos de sofrimento.
Mas as orientações do manual destacam que para definir a necessidade de tratamento, a pessoa masoquista também deve se sentir incomodada, sofrer com esse desejo e por isso, quer mudar, quer assistência. No entanto, muitas pessoas não sofrem e se sentem satisfeitas em serem masoquistas. E, se elas estão lúcidas, em contato com a realidade, tem condições de fazer escolhas para suas vidas, podem escolher não mudar essa condição, mesmo que pareça estranho para muita gente.
Então vamos falar aqui sobre o desejo masoquista:
– Ele pode ser vivido apenas por meio de fantasias e a pessoa se satisfaz dessa maneira;
– A pessoa pode satisfazer esse desejo sozinho, misturando a fantasia a atos que tragam algumas sensações dolorosas e masturbação;
– O masoquista pode buscar um par para concretizar esse desejo na realidade. Esse par muito provavelmente seria um sádico, que é aquele que sente prazer, se excita por meio do sofrimento e da humilhação que aplica a alguém.
Mas é claro, que nesse último caso os dois, tanto o sádico como o masoquista devem se conhecer, estabelecer um vínculo de confiança e definir limites muito claros sobre o que, como e quanto pode existir de estímulos.
No masoquismo, existem diferentes estímulos que podem trazer excitação e que podem ser diferentes de uma pessoa para outra. As fantasias de humilhação, submissão, tipos e intensidade de estímulos dolorosos podem permanecer estáveis durante o passar do tempo e mesmo se misturar a outras possibilidades. No entanto, para alguns masoquistas, há uma necessidade de aumentar gradativamente a intensidade e qualidade desses estímulos, o que pode se tornar perigoso para a saúde física e até mental.
Como essa prática muitas vezes envolve amarrar as mãos, vendar os olhos, deixar o masoquista sem condições de se defender, apesar de fazer parte do jogo de excitação, é um risco se o seu par não respeitar os limites combinados, se exceder. Pode inclusive colocar a vida em risco.
Assim, se você percebe que está se machucando fisicamente, se sentindo incomodado depois da relação, sente-se aprisionado a essa situação sem possibilidade de escolha, então, mesmo que a princípio não esteja claro, são sinais de que é preciso buscar apoio psicológico para alcançar o equilíbrio.
Assim, o desejo masoquista não será necessariamente um problema se você puder mantê-lo sob seu controle, estiver disposto a lidar com as responsabilidades e consequências dessa escolha e sentir-se satisfeito. Mas atenção, como o sofrimento faz parte, de maneira forte, de sua vida, pode parecer normal ou aceitável sofrer com a situação. Então lembre-se, o que não é normal é sofrer por algo que está em nossas mãos mudar.
Diferença entre masoquismo e fantasia
É importante diferenciar o masoquismo, que é a preferência por esse tipo de excitação, de eventuais brincadeiras onde um dos pares fantasie ser dominado, enquanto o outro o submete.
Em relação a tratar ou não, deve-se considerar como está a satisfação pessoal. Se não gosta do que sente, está sofrendo por isso, quer entender o que acontece, para escolher se quer mudar ou não, então precisa buscar apoio psicológico.
Também deve-se levar em consideração que o predomínio do desejo masoquista restringe a satisfação sexual a essa prática e assim, estará deixando de viver todas as demais possibilidades de satisfação que existem quando o foco está no ato sexual em si, com as demais fantasias e ingredientes que dele fazem parte.
Além disso, se está casado ou namorando alguém que não curte esse jeito de viver o sexo, pode se tornar um problema, com falta de satisfação dos dois lados, o que vai fazendo o desejo de transar desaparecer dia a dia, até mesmo impossibilitando a relação. Isso pode trazer grande sofrimento a ambos. Mas, são escolhas a se fazer.