por Elisa Kozasa
Recentemente durante uma visita em um hospital, vi um grupo de amigos que estavam aguardando a hora em que poderiam subir para o quarto e conversar com um paciente. Eles pertenciam a um grupo religioso ao qual o referido paciente pertencia. Ao que parecia eles já estavam fazendo uma corrente de orações para a recuperação do companheiro internado.
Será que faz alguma diferença ter algum tipo de fé ou crença na hora da doença?
Será que eu teria mais chances de me recuperar se eu acreditasse em um Deus ou em um plano espiritual? Ou na intervenção de um plano divino para minha saúde e bem-estar?
Em primeiro lugar, pessoas que apresentam alguma crença parecem atribuir maior significado para o que acontece em suas vidas, buscando extrair lições ou melhores comportamentos a partir de eventos negativos. Dessa maneira, parecem conseguir superar adversidades de maneira mais suave, evitando cair em processos depressivos patológicos.
Alguns estudos apontam também para o caráter preventivo da espiritualidade quanto a determinadas doenças, pois em geral irá gerar hábitos de vida mais saudáveis. Há pesquisas que apontam, por exemplo, que jovens que frequentam grupos religiosos possuem menor incidência de abuso de drogas e álcool.
Práticas regulares de rezar o terço, cantar mantras, meditar, aliviam o estresse e reduzem a ansiedade de acordo com *diversos estudos, trazendo um equilíbrio mental e emocional para seus praticantes.
Ter santos, messias, bodisatvas (ser de sabedoria elevada), heróis como exemplos de vida, nos trazem um alento, pois percebemos que mesmo sendo humanos podemos manifestar características divinas e superar grandes dificuldades.
Há estudos que mostram também os benefícios da prática espiritual para o bolso. Uma pesquisa com meditadores citada por Ramesh Manocha, médico e pesquisador que atua na Austrália, mostrou que eles custam menos para os sistemas de saúde. Tenho uma conhecida que certa vez me disse que lá na Califórnia onde ela mora, há um plano de saúde que dá descontos para meditadores.
Por outro lado, a literatura científica apresenta dados contraditórios quanto aos efeitos da prática de orações realizadas por terceiros. Há estudos que mostram um efeito positivo, porém, um estudo realizado por Herbert Benson, um dos pioneiros no estudo da espiritualidade, não conseguiu correlacionar orações realizadas a um grupo de pacientes, que não sabia que recebia essa intervenção, com alguma melhora no estado de saúde.
Talvez seja importante em primeiro lugar você mesmo acreditar em algo, além de saber que está recebendo algum tipo de apoio espiritual com uma oração. Para aqueles que não possuem algum tipo de fé, todo esse fenômeno pode ser explicado como um efeito placebo (aquele em que a pessoa acredita estar sendo tratada e melhora). **Ou seja, pacientes que têm alguma doença e que são tratados apenas por meio da ingestão de uma pastilha inócua, contendo nada mais do que farinha e talvez um pouco de açúcar, acabam se curando da doença, a uma taxa maior do que aqueles que não recebem tratamento algum
De qualquer maneira, placebo ou intervenção divina, os resultados da crença na melhora de sua saúde tem um efeito bastante benéfico.
* Sanchez ZM, Nappo SA. A religiosidade, a espiritualidade e o consumo de drogas.
Rev. Psiq. Clín. 34, supl 1; 73-81, 2007
** Oswaldo Pessoa Jr. – filósofo da ciência, com doutorado sobre física quântica
Dicas de leitura:
Benson, H & Stark, M. Medicina Espiritual: o poder essencial da cura. Editora Campus.