por Patricia Gebrim
“Algumas mulheres têm optado por não ter filhos e isso tem sido cada vez mais frequente e comum. Muitos são os motivos por trás dessa escolha e para, de verdade, saber o que poderia ter levado cada uma delas a essa decisão, precisaríamos mergulhar em suas histórias”
Já faz tempo que eu penso em escrever sobre isso. Talvez pareça estranho que tenha sido exatamente o tão celebrado Dia das Mães o estopim para que eu resolvesse finalmente escrever este artigo, que fala exatamente sobre as mulheres que não são mães, mais especificamente, sobre as mulheres que fizeram a “escolha” de não ser mães… uma escolha corajosa em uma sociedade como a nossa. Qualquer atitude que fuja à regra é, invariavelmente, uma atitude corajosa.
A maternidade talvez seja a função feminina mais venerada por nossa sociedade, mesmo nos tempos de hoje em que tanto se fala dos avanços da mulher no mercado de trabalho, nos campos de futebol, nas pistas de corridas automobilísticas, na direção de aviões e tratores.
E, convenhamos… é mesmo sagrada a maternidade, isso é!
Vivenciar em seu próprio corpo a vida que vai lentamente surgindo naquele espaço misterioso… de forma tão milagrosa… experienciar o amor que une uma mãe a seu filho. A relação que se estabelece entre uma mãe e seus filhos talvez seja a maior referência de amor incondicional dada a cada um de nós.
No entanto, algumas mulheres têm optado por não ter filhos e isso tem sido cada vez mais frequente. Muitos são os motivos por trás dessa escolha e para, de verdade, saber o que poderia ter levado cada uma delas a essa decisão, precisaríamos mergulhar em suas histórias. Não existe uma resposta simples para essa questão. Só mesmo pensando assim para que não se corra o risco de escorregar na superficialidade afirmando:
– Ah, não quiseram filhos porque são… egoístas. Infelizmente, há quem pense assim!
Eu tenho uma grande amiga, uma dessas que escolheram não ser mães. Outro dia ela me contava que foi a um chá de bebê. Na rodinha das mulheres que falam de sopinhas e andadores, meio “boiando” no assunto, ela se esforçava para acompanhar a sequência correta de ingredientes para uma refeição leve e saudável para o bebê, até que uma das simpáticas mulheres perguntou a idade de seus filhos.
– Eu não tenho filhos! – disse minha amiga, sem naquele momento perceber o impacto que suas palavras teriam.
Foi então que viu nas faces daquelas mulheres uma incrível série dos mais estranhos olhares, que minha amiga catalogou e assim os descreveu a mim: tinha o olhar piedoso: coitada! não pode ter filhos… o olhar casamenteiro : ihhhhh… ficou para titia, vou apresentar o Carlinhos a ela! … o olhar indignado: como uma mulher pode ser tão horrível a ponto de não gostar de crianças?… o olhar de superioridade: é uma egoísta, só pensa nela, não é generosa o suficiente para querer dar-se a alguém…o olhar inquisidor: que absurdo ir contra a natureza e recusar-se a propagar a espécie… que heresia!…
Quantos julgamentos…
Uma mulher que escolhe não ter filhos pode sim gostar de crianças, e pode ser até mais maternal do que outra que tenha dez filhos. Uma mulher que escolha não ter filhos pode direcionar essa energia maternal para outros caminhos, pode ser cuidadora de outras pessoas, pode ser extremamente criativa de outras formas… Enfim, é importante que sejamos capazes de superar os preconceitos e olhar de forma mais aberta para essa questão.
Os novos tempos nos lançam o desafio de abrir nossas mentes para além das programações de nossa sociedade e cultura. Só assim nos libertaremos enquanto “seres”, só assim, livres, poderemos fazer escolhas mais sintonizadas com nossas verdades, poupando a nós mesmos (e a quem nos rodeia) da infelicidade de termos escolhido nossas vidas pelo que “os outros” nos disseram que deveríamos fazer. Lembre-se: quem terá que conviver com as suas escolhas será você!
É preferível optar por não ser mãe, a meu ver, do que assumir esse papel por pura obrigação ou inércia, sem sentir que existe uma verdade por trás dele. Não é uma escolha fácil, eu sei. Ser mãe é algo que deve brotar do coração…
… pense nisso quando for avaliar as suas escolhas.
… pense nisso ao avaliar as escolhas das outras mulheres.