por Luiz Alberto Py
"Os grupos heterogêneos ofereciam a vantagem da riqueza de pontos de vista. Podíamos ter, em um mesmo grupo, pessoas mais jovens e mais idosas, de diferentes sexos e posições sociais trazendo questões relativas a suas situações específicas"
Hoje pretendo falar sobre uma forma particular de psicoterapia: a psicoterapia de grupo, também chamada de grupoterapia. Trata-se de um procedimento que foi sendo desenvolvido na segunda metade do século passado com muito sucesso.
Deixado de lado entre nós há alguns anos, está voltando a se tornar uma das formas mais procuradas de terapia. É um método rápido, barato e eficaz de ajudar as pessoas a lidarem com suas dificuldades emocionais.
Existem muitas modalidades de grupoterapia, com diferentes referenciais teóricos. Aqui vou me referir especificamente à psicoterapia psicanalítica de grupo.
Na época em que, depois de uma longa formação profissional, me qualifiquei como psicanalista, considerava-se que o tratamento psicanalítico deveria ser exercido em quatro a cinco sessões semanais. Isso implicava que, trabalhando oito horas por dia, um psicanalista poderia atender a nove clientes em média. Levando-se em conta que o tratamento de cada cliente durava cerca de quatro anos, chegava-se ao cálculo de que após quarenta anos de duro trabalho um analista teria atendido em torno de 90 pessoas. Todo o enorme investimento em tempo e energia para a formação, e para a necessária atualização, do psicanalista era pouco aproveitado ao ficar limitado a essas 90 pessoas. Era uma visão claustrofóbica – um analista encerrado em seu consultório por 40 anos para atender a mais ou menos 90 pessoas apenas.
Quando ouvi falar pela primeira vez em psicoterapia de grupo meu interesse foi enorme. Atender grupos terapêuticos significava multiplicar a possibilidade de interferir positivamente com meu trabalho junto a um número muito maior de pessoas. Era a libertação do claustro do consultório e a sonhada possibilidade de ampliar o alcance de meu trabalho. Uma forma de democratizar o conhecimento psicanalítico então restrito às poucas pessoas com acesso aos poucos analistas. Rapidamente me envolvi com esse tipo de terapia.
Na investigação dos parâmetros referenciais para a constituição dos grupos terapêuticos, algumas conclusões foram obtidas através da vivência prática adquirida pelos diversos terapeutas pioneiros. A primeira delas foi a de que quanto maior a heterogeneidade do grupo, melhores eram os resultados obtidos. Os grupos heterogêneos ofereciam a vantagem da riqueza de pontos de vista. Podíamos ter, em um mesmo grupo, pessoas mais jovens e mais idosas, de diferentes sexos e posições sociais trazendo questões relativas a suas situações específicas.
Era comum se ver pais falando de problemas com seus filhos ao mesmo tempo em que filhos se queixavam dos pais. Idem, em relação a maridos e mulheres, patrões e empregados, professores e alunos, etc. todos trazendo suas diferentes formas de ver os conflitos de seus relacionamentos. Naturalmente que não se tratava de pessoas que se relacionavam entre si, mas representantes de uma condição humana encontrando com representantes da condição oposta.
Inicialmente, considerávamos que a terapia grupal seria uma forma menor de terapia, sem a profundidade e sem o alcance da terapia individual. Mas com a vantagem de poder oferecer terapia a um número muito maior de pessoas, principalmente porque havia estabelecido que as sessões de grupoterapia (onde eu atendia dez clientes) ocorressem apenas uma vez por semana (por cerca de duas horas) em contraposição às quatro ou cinco sessões semanais de psicanálise individual.Ou seja, com as quatro horas semanais que dedicava a um único cliente individual, eu podia atender a 20 clientes em grupo.
Porém, após três ou quatro anos de trabalho, para minha surpresa, comecei a constatar que um grande número de meus clientes de grupo apresentava um resultado mais positivo em comparação com muitos dos meus clientes de psicanálise individual. Refleti bastante sobre o assunto em busca de explicações para um fenômeno tão inesperado.
Minha primeira observação importante foi da existência, nos grupos, de uma energia fraterna que se manifestava sob dois aspectos um negativo outro positivo: a rivalidade e a solidariedade. Na medida em que capitalizávamos a solidariedade em favor do trabalho terapêutico e aprendíamos a administrar a rivalidade de forma a evitar que a mesma atrapalhasse, tivemos ao mesmo tempo, importantes evoluções na capacidade dos membros do grupo de explorar positivamente a fraternidade solidaria – que é útil em muitas situações da vida e também na capacidade de neutralizar situações de rivalidade que poderiam ser prejudiciais.
Na segunda e última parte deste texto, falarei mais sobre os benefícios da terapia de grupo. Até lá. Um abraço!