por Luiz Alberto Py
“Na década de setenta havia um interesse muito grande por parte do público pela terapia de grupo, que foi refluindo aos poucos ao longo dos anos seguintes por razões que nada tinham a ver com a eficácia do trabalho grupal. O principal fator foi o fato de que em função de uma grande demanda de terapia houve um movimento de formação de um elevado número de terapeutas, o que criou um excesso de oferta de terapia no mercado de trabalho. A pressão pela busca de clientes resultou em uma campanha de descrédito da terapia de grupo”
No texto anterior (clique aqui), expliquei por que a terapia de grupo pode ser mais enriquecedora que a terapia individual.
Nesta segunda e última parte deste texto, falarei sobre outros benefícios da terapia de grupo. Vamos lá!
Outro valioso elemento na minha reflexão foi a compreensão de que a atividade psicoterápica pertence muito mais à área da educação do que ao campo da saúde, pois ensinamos muito mais do que curamos. Uma vez percebido este dado, nada mais natural do que considerar que da mesma forma que o aprendizado é prioritária e predominantemente exercido em grupo, nas salas escolares, a terapia também deveria ser vivida de forma coletiva. Há séculos que já se estabeleceu a ideia de que as pessoas aprendem melhor quando em grupo. Costumo dizer que até a rainha da Inglaterra manda seus filhos para o colégio em vez de terem aula particular em casa.
Assim como o aluno problemático necessita de atendimento individual, também alguns clientes precisam ser consultados individualmente, mas como exceção e não como regra geral.
Na prática verifiquei que a convivência no grupo facilitava a compreensão e superação dos problemas e dificuldades individuais. Os companheiros ajudavam com comentários e estímulos; ajudar era saudável e presenciar a terapia dos outros esclarecia dificuldades próprias.
Muitas vezes tenho ouvido clientes comentarem que entendem muito melhor o que o terapeuta diz para seu colega do que as observações do terapeuta diretamente dirigidas a eles. É compreensível, pois a tensão de estar falando de seus problemas dificulta o entendimento.
Uma questão também importante é a presença do outro no grupo. Em uma terapia individual, o outro é virtual, ele pode ser mencionado ou esquecido, deixado de lado. No grupo, para o bem e para o mal, o outro é presente. As questões de relacionamento são enfrentadas – e resolvidas – na prática do convívio permanente, não há como nem porque fugir delas. Tanto a administração dos sentimentos positivos de amor e carinho, quanto o gerenciamento dos sentimentos negativos de raiva, ciúme, desprezo etc. são foco de atenção e se tornam elementos de evolução emocional.
Finalmente, deve-se levar em conta o fato de que em uma terapia individual o trabalho de estimular o terapeuta e orientá-lo a perceber os elementos emocionais mais relevantes é responsabilidade de uma só pessoa, enquanto que na terapia grupal, todos os membros do grupo fornecem estímulo para o terapeuta.
Enquanto o silêncio do cliente em uma terapia individual pode vir a ser uma dificuldade a mais, tal situação dificilmente ocorrerá em uma sessão de grupo. A vantagem que o cliente do grupo tem sobre o cliente individual reside no fato de que enquanto a responsabilidade de informar e ajudar o terapeuta recai toda sobre uma pessoa só, no grupo está diluída por todas as pessoas que o compõem.
Quando por vezes um cliente de grupo acha que necessita de um atendimento individual, não vejo razão para negar a ele esta oportunidade. Costumo marcar um horário sem questionar, mas uma vez juntos coloco a importância de entendermos a real necessidade de tal entrevista como o assunto inicial a ser tratado por nós. Ao concluirmos pela indispensabilidade da sessão, levamos a mesma avante. Caso contrário, encerramos nossa conversa e nos reencontramos no grupo. Mas acho fundamental que haja esta disponibilidade para atender eventuais necessidades, pois por vezes existem assuntos que a pessoa não consegue falar dentro do grupo, podem ser temas sigilosos ou mesmo comprometedores.
Todos estes elementos me fizeram perceber a terapia de grupo como uma forma preferencial de terapia. Nos primeiros tempos eu me perguntava se o cliente seria passível de ser atendido em grupo, depois de certo tempo de experiência, minha pergunta era oposta – haveria algum impedimento para que ele fizesse parte de um grupo? Haveria algum empecilho que inviabilizasse colocá-lo em um grupo e que, portanto, me levaria a atendê-lo individualmente? Os impedimentos para a grupoterapia não decorriam necessariamente de problemas emocionais das pessoas, mas muitas vezes de circunstâncias desfavoráveis como horários de trabalho irregulares.
Na década de setenta havia um interesse muito grande por parte do público pela terapia de grupo, que foi refluindo aos poucos ao longo dos anos seguintes por razões que nada tinham a ver com a eficácia do trabalho grupal. O principal fator foi o fato de que em função de uma grande demanda de terapia houve um movimento de formação de um elevado número de terapeutas, o que criou um excesso de oferta de terapia no mercado de trabalho. A pressão pela busca de clientes resultou em uma campanha de descrédito da terapia de grupo.
Nessa época ouvi argumentos tais como: “porque andar de ônibus, quando podemos ir mais confortavelmente de taxi?” Os novos terapeutas necessitando de clientes passaram a oferecer terapia individual por um preço menor do que o que estava sendo praticado na terapia de grupo. Era constrangedor para os terapeutas de grupo argumentar a favor de seu trabalho, pois parecia que estavam defendendo seus interesses pessoais e não debatendo clinicamente. Decidi de me abster de contestar o argumento do taxi, embora me ocorresse que para longas viagens – como era o caso de uma psicoterapia – um transporte coletivo costuma ser mais confortável, rápido e eficaz. Tendo de escolher entre um taxi aéreo e um jato comercial para ir à Europa, acredito que a maior parte das pessoas vai preferir o transporte coletivo.
O fato é que a campanha funcionou e aos poucos as pessoas foram tendendo a procurar a terapia individual e com isso não houve reposição de clientes de grupoterapia. No fim do século passado encerrei melancolicamente meu último grupo terapêutico. Porém, como tenho percebido um recrudescimento do interesse pela terapia grupal, neste ano retomei, com alegria, o trabalho com grupos que, espero, daqui em diante venha a ocupar o lugar que merece entre as diferentes formas de psicoterapia.