Por Guilherme T. Ohl de Souza – Psicólogo componente da equipe do NPPI
Desde o surgimento da Internet, diversos serviços vêm se utilizando deste espaço e criando novas formas de integração com seu público. Os serviços da Internet comercial começaram basicamente a ser oferecidos pelos bancos e pelo comércio de modo geral (vendas on line), mas se diversificaram para muitas outras áreas, como a educação, direito e saúde. Entre os serviços em saúde, surgiram sites de ajuda psicológica. No início destas ofertas, não havia ainda nenhuma pesquisa em andamento a respeito desta forma de atendimento, e nem regulamentação. Alguns psicólogos montaram sites com ofertas de psicoterapia e orientação psicológica mas, pela falta de uma diretriz ética e de fundamentação teórica ou de pesquisas, percebeu-se que uma parte significante prestava um serviço de qualidade duvidosa, algumas destas pessoas nem sequer tinham formação em Psicologia.
Quando o NPPI iniciou suas atividades, nossa intenção era apenas criar uma página da clínica da PUC-SP, visando facilitar o contato entre a comunidade e a clínica-escola, divulgar cursos e lançamentos editoriais, etc. No entanto, mesmo não sendo essa a nossa proposta, começamos a receber várias mensagens solicitando esclarecimentos sobre questões de conteúdo emocional e sobre dificuldades nas relações pessoais. Diante desta novidade, fomos levados a refletir sobre as questões éticas e técnicas envolvidas nesta nova forma de interatividade, pois toda a estruturação dos serviços psicológicos conhecidos até então estavam pautados no esquema presencial tradicional.
O atendimento online acarreta algumas limitações, como por exemplo, os próprios limites desta via de comunicação. Por conta destas e de outras questões, percebemos que não seria adequada a simples transposição da regulamentação do atendimento tradicional para o mediado pelo computador. Era necessário observar mais atentamente quais as implicações envolvidas na realização de um atendimento feito por esta via de contato, o que era possível observar e analisar nas mensagens recebidas e qual a abrangência deste novo tipo de atendimento. Mas, porque tomar estes cuidados antes de se realizar serviços psicológicos pela Internet, como por exemplo, a psicoterapia?
Assim como qualquer serviço em saúde, o atendimento em psicologia está fundamentado em teorias e pesquisas na área. Podemos dizer que a psicologia moderna começou no final do século 19, e ao longo de todo este tempo, as práticas psicológicas foram sendo questionadas, delineadas e aprimoradas (para que se presta este tipo de serviço? Qual é a função do psicoterapeuta? Quais são seus limites? No que ele pode intervir e no que não pode?).
As modalidades de psicoterapia on-line – bem como as pesquisas sobre esse tema – são relativamente recentes, e ainda não se chegou a um consenso sobre alguns pontos. Segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP), ainda não há fundamentação suficiente que assegure a fidedignidade desta prática (de uma maneira geral, se ela é realmente “eficiente”, se não traz algum perigo para o paciente). Por essa razão, o CFP liberou a realização de psicoterapia via Internet apenas para fins de pesquisa, mas proibiu a oferta desta forma de atendimento de forma profissional. A psicoterapia é um processo complexo, que exige atenção a diversas questões, em especial a relação terapeuta-cliente, que se torna mais profunda durante uma terapia.
Para a atividade profissional regular, o CFP considerou que os atendimentos em caráter de orientação já têm a citada fundamentação necessária para assegurar a fidedignidade do serviço.
A orientação, diferentemente da psicoterapia, tem duração menor e geralmente delimitada. Por e-mail, por exemplo, em geral responde-se uma única vez e em alguns outros casos mais uma ou duas trocas. Na orientação de caráter afetivo (pessoas com problemas emocionais, de relacionamento, etc..), o orientador faz uma análise da situação em que se encontra, aponta questões psicológicas que estão permeando seu problema e, quando pertinente, encaminha para um outro tratamento (psicoterapia, psiquiatria, pedagogia, etc…) ou até mesmo alguma sugestão de cunho mais pragmático.
A orientação psicológica se ramifica em diversas modalidades. Além das orientações voltadas às questões emocionais em geral, já existem, por exemplo, a orientação sexual, familiar, vocacional, de aprendizagem, suporte organizacional (para empresas) entre outras, lembrando sempre o caráter pontual e não-duradouro destas modalidades.
Sobre o selo e o credenciamento pelo CFP
Para poder realizar as várias modalidades de orientação psicológica via Internet, o psicólogo deve encaminhar previamente o site no qual apresenta a sua oferta para uma análise, análise essa que é feita por uma comissão especial do Conselho Federal de Psicologia. Esta comissão composta por profissionais da área, verifica se o serviço em pauta está de acordo com as normas que regulamentam tal tipo de serviço. Uma vez feita esta verificação, o site receberá – do CFP – um “selo de credenciamento”. Assim, se você leitor estiver interessado em buscar um atendimento deste tipo, é importante observar a presença desse selo no site que estiver visitando, antes de utilizá-lo!
Uma nota final: Os leitores interessados em conhecer os textos integrais das resoluções citadas acima, podem acessar o site do Conselho Federal de Psicologia (https://www.cfp.org.br/selo/Inicial.php). Ou ainda, para saber mais sobre os Serviços Psicológicos mediados por computadores, poderão consultar o livro “Psicologia e Informática: O Ser Humano Diante das Novas Tecnologias” organizado pela equipe do NPPI. Detalhes sobre este livro podem ser obtidos no site www.pucsp.br/clinica.