por Silvia Maria de Carvalho
“Sou pai de uma linda menina de seis anos. Ela é filha única e brinca boa parte do tempo sozinha. Quando estamos em casa, participamos de algumas de suas brincadeiras. Porém notei uma timidez excessiva: ela se fecha para os nossos amigos, não dá nem um oi. Às vezes fico bravo e acabo por falar mais grosso com ela. Nunca a repreendi de forma mais agressiva e nem a deixo de castigo. Será que sou o responsável? Deveria levá-la a um psicólogo?”
Resposta: Não nascemos prontos. Nem tímidos ou extrovertidos. Vamos aprendendo ao longo da vida. E com a assertividade e comportamentos sociais não é diferente.
Aprender a se comunicar exige trabalho contínuo dos pais. A interação social adequada e saudável requer treino e persistência.
Consideremos que sua filha tem seis anos de idade. Ela também está aprendendo a seguir suas instruções e pedidos. O poder dos comandos dados às crianças ainda é muito pequeno. O não cumprimento de uma ordem não significa, necessariamente, que ela queira te desrespeitar ou que seja tímida. Elas, crianças, precisam de repetição de exemplos, de modelos, no processo de aprendizagem.
Na maioria das vezes em que os pais têm dúvidas de como ensinar os filhos a lidar com situações difíceis, eles próprios não sabem como se comportar nesses momentos.
Imagine você em alguma situação social ou em algo novo que ainda não esteja habituado. É importante avaliar nossa história de aprendizagem, para que possamos ensinar as crianças. E observando nosso processo de repetição, erros e acertos, aceitar o tempo necessário de cada um.
Quando um pai ou uma mãe diz a si mesmo: “Vou acabar com essa birra ou má educação de uma vez por todas”, tem grandes chances de se frustrar. Os pequenos, assim como nós, não aprendem em termos de “uma vez por todas”. Aprendem em termos de “agora e daqui a pouco” e “daqui a pouco outra vez”.
Cuidado também ao rotular sua filha de tímida.
Segundo o Dicionário Aurélio, timidez é o caráter de quem é tímido; falta de coragem. Insegurança; acanhamento; inibição. Timidez é algo maior que não cumprimentar os amigos dos pais.
Há outros fatores que necessitam de observação:
Como sua filha se relaciona na escola, com os amigos de classe?
Ela diz que gosta ou não gosta de algo que lhe falaram ou fizeram?
Como vocês conversam com ela?
Como ensinam o que ela pode ou não pode fazer?
Como está o canal de comunicação entre a família?
Não há culpados ou inocentes. O importante é ter cuidado e considerar as diferentes variáveis que influenciam naquele comportamento que você está observando. Não se limite a uma ocasião específica.
Quando dizemos a uma criança que ela é tímida, lenta ou malcriada, por exemplo, corremos o risco que ela se comporte exatamente da maneira que tentamos evitar. Sem intenção, nós apontamos esses comportamentos.
Em “Pais Liberados, Filhos Liberados”, de Adele Faber e Elaine Mazlish; há um trecho que diz assim:
“Não existe esse negócio de criança ‘egoísta’. Existe apenas uma criança que precisa experimentar as alegrias da generosidade. Não existe esse negócio de criança ‘vagabunda’. Existe, sim, uma criança desmotivada, necessitada de alguém que acredite que ela possa trabalhar duro quando se preocupa o bastante. Os filhos – todos eles – precisam que lhes afirmemos o que têm de melhor e que ignoremos ou redirecionemos o que têm de pior.”
Ao invés de apontar o que ela não faz, espere até que ela faça aquilo que você considera adequado, ou seja, até que ela interaja com as pessoas, para dizer como você gosta de vê-la agindo assim. A bronca gera raiva e frustração. O elogio coerente ao comportamento realizado, torna a criança confiante. Certamente ela terá vontade de fazer de novo!
Observação: não é necessário que o problema seja grave para ir ao psicólogo. É uma ótima oportunidade de falar, repensar e aprender novos comportamentos. Se mais pessoas vissem terapia como algo preventivo, não sofreriam tanto na vida adulta. Mas, sempre é tempo de aprender!