Por Edson Toledo
Foi Orkut Büyükkökten, o criador da extinta rede social que levava o seu nome, que profetizou: “a internet transformou a humanidade de muitas maneiras, deixou muitas coisas mais fáceis e eficientes, mas nos tornou mais sozinhos e desconectados do que nunca”.
A cultura do narcisismo promovida pelas redes sociais nos cercou de espelhos que refletem não o que sentimos, mas o que queremos que o mundo queira que sintamos. Facebook, Youtube e Instagram alimentam mais essa fogueira de vaidades fomentando o apocalipse das relações humanas. O que tinha por intenção aproximar pessoas está afastando-as. As expressões e opiniões que outrora na vida real se filtrava antes de proferir, hoje, nas redes, são vomitadas sem medir consequências.
Você já experimentou expor comentários sobre qualquer assunto nas mídias sociais e sentiu a fúria instantânea daqueles que discordam do seu comentário?
Não querem saber de debate, não tem conversa, há apenas ofensa gratuita e o ataque moral que, como uma arma em punho, pode destruir reputações e futuros relacionamentos. Sem citar nomes, mas um famoso jovem humorista pode ser exemplo desse regime de um peso e duas medidas; ele faz piada e é automaticamente massacrado, quando muito não acaba sendo processado. Alguém faz a mesma piada, no mesmo tom de ofensa e é ovacionado. Um exemplo de que como a polarização que tomou conta não só do Brasil, mas do mundo, ou se pensa como o “stablishment” quer, ou acaba sendo rotulado de herege.
Vejamos outros exemplos para ilustrar o que quero dizer. Tentar argumentar algum fato inverídico ou contestar uma notícia falsa e receberá o título de fascista, eleitor daquele militar da reserva ou deputado federal que está no seu sétimo mandato e defende causas polemicas ou adorador de Donald Trump.
Pergunte a algum militante de onde veio à fortuna de R$ 11,7 milhões da finada esposa de um ex-presidente ou de onde surgiram os R$ 24 milhões que o Ministério Público solicitou o bloqueio? Isso do homem que jura ser a alma mais honesta do mundo. Por estas simples retóricas você receberá uma coleção de adjetivos pejorativos. É a Lei Goldwin*, quando, na falta de argumentos, o interlocutor lhe adjetiva de maneira agressiva para terminar a discussão.
A internet condicionou as pessoas a acreditarem naquilo que lhes convêm acreditar, mesmo que seja bem distante da verdade. Por mais ferramentas disponíveis para pesquisar os fatos, a maioria prefere seguir como os voluntários de Stanley Milgram** em seu famoso experimento que comprovou que as pessoas tendem a obedecer a autoridades e seguir a opinião da maioria, mesmo que contradigam o bom senso individual e a mais absoluta razão.
Em sua obra Psicologia das Massas, Freud explicou que a mentalidade das pessoas muda quando elas fazem parte de um grupo no qual há uma busca constante por aceitação, geralmente grupos que levam o sufixo “ista”: fascista, machista, nazista, elitista, feminista, comunista, racista etc. Seguindo o todo, o sujeito elimina a razão e ignora o principio da alteridade (capacidade de se colocar no lugar do outro), dando assim origem ao discurso de ódio embasado na velha história “acuse-os daquilo que você faz e chame-os daquilo que você é”.
Assim, caros leitores, penso que colocar-se no lugar do outro ainda é a das melhores estratégias já que vivemos tempos de incertezas e meias verdades que circulam nos smartphones e quando digo “I am”.
*A lei de Godwin, que conduz ao ponto Godwin é uma teoria de Mike Godwin baseada em: "Quanto mais uma discussão cresce, mais provável encontrar uma comparação envolvendo os nazistas ou Hitler".
Em 1990, na rede Usenet, este teórico estabeleceu esta lei que, em seguida, foi amplamente reutilizada na Internet e nos fóruns. Desde então, quando esta lei é detectada em uma discussão, um ponto Godwin, será dado à pessoa que se desacreditar, se distanciando do assunto original.
Ela saírá do quadro Virtual já que, agora, esta lei e, portanto, o ponto de Godwin, é aplicado a qualquer bate-papo e debate, que derive do seu assunto, para se referir ao Holocausto, Hilter ou o nazismo.
**Na universidade de Yale, nos Estados Unidos, o psicólogo Slanley Milgram conduziu experimentos para investigar como pessoas comuns e sem traços violentos podiam ser capazes de atos atrozes. Sua maior inspiração era tentar entender como pessoas que, até então, pareciam decentes e de bom caráter, podiam ter colaborado com os horrores do holocausto na Alemanha nazista. Milgram acreditava que qualquer pessoa, se submetida à pressão da autoridade, tem tendência a simplesmente obedecer.