por Valéria Meirelles
Neste artigo, apresentarei alguns estilos financeiros. Originalmente chamados de Money Styles, são eles que compõem o comportamento financeiro das pessoas.
Tomarei como base teórica o sociólogo norte americano Yablonsky, aliado aos conceitos base da Psicologia do Dinheiro e Psicologia Clínica, e claro, às minhas experiências da prática profissional.
A ideia é que você leitor identifique-se com um ou mais estilos e a partir deles, mantenha ou mude suas atitudes em relação ao dinheiro.
Vamos partir da seguinte premissa: cada um de nós tem o próprio jeito de lidar com o dinheiro, que aprendemos por observação, instrução, educação, por vivências ao longo da vida e também por traços de personalidade.
Nós identificamos esse “jeito” – que é mutável – pela frequência de um padrão de comportamento que determina ou determinou nossa situação financeira. Podemos ser gastadores ou supereconômicos; estar satisfeitos com nossa situação financeira ou querer mais; lutar para isso, não conseguir e sofrer; ou podemos ser insaciáveis e infelizes com nossos resultados financeiros.
Para elucidar os “jeitos”, apresentarei os estilos propostos por Yablonsky, deixando claro que não há necessariamente um único estilo para cada um de nós e que sim, podemos mudar ao longo da vida como parte de nosso desenvolvimento pessoal.
1- Os satisfeitos
Embora soe estranho, sim, há pessoas satisfeitas com o seu dinheiro, com o poder e status que possuem, independente de quanto tenham na conta bancária ou em patrimônio fixo. Ou seja, não são milionárias, mas estão felizes com o que recebem, pois os valores as possibilitam atingir seus objetivos.
Conheci pessoas que embora tivessem um salário regular, estavam felizes, pois conseguiam ter exatamente aquilo que precisavam para uma vida de qualidade, de acordo com seus valores e expectativas. Socialmente não poderiam ser considerados (e nem elas se consideravam) ricos, mas tinham a casa própria, o carro sem financiamento, não tinham dívidas e educaram os filhos. Tinham na verdade, riquezas, o que é bem diferente de muito dinheiro no banco ou em patrimônio.
2 – Os planejadores lógicos
A principal característica dessas pessoas é que possuem clareza de suas metas e podem chegar ao sucesso que almejam. Suas metas são realistas, alcançáveis e as aspirações firmes – não são objetivos idealistas e impossíveis de serem atingidos. Portanto, ainda que possa parecer pouco aos olhos de quem vê, suas metas são sempre atingidas, ampliadas e as pessoas estão satisfeitas com suas conquistas.
Como os planejadores lógicos “dão sempre o passo do tamanho da perna”, coerentes com seus valores e possibilidades, as chances de cometerem alguma irracionalidade no uso do dinheiro é quase nula, por isso mesmo estão sempre tranquilos e satisfeitos com o que possuem.
3 – Os esforçados emocionalmente insensíveis
As pessoas com esse perfil costumam trabalhar duro para ter dinheiro, poder e sucesso e conseguem manter-se emocionalmente equilibradas quando algo não dá certo. Elas diferenciam vida pessoal de profissional e financeira e sabem que “nada arriscado, nada ganho” porque se sentem bem correndo riscos.
São movidas pela adrenalina da conquista, do desafio, mas não se deixam afetar por eventuais perdas. Portanto, não se afligem quando algo não sai exatamente como planejou, pois como sabem onde querem chegar, buscarão (isto se já não tiverem) uma outra alternativa SMART (Specific, Measurable, Achievable, Relevant, Time bound) para definir objetivos sem se sentirem fracassadas por uma perda momentânea.
4 – Os esforçados emocionalmente sensíveis
As pessoas assim são o oposto do estilo acima. Quando perdem dinheiro ou não atingem seus objetivos, sofrem tanto a ponto de chegarem a quadros depressivos, especialmente quando a perda é grande.
Um bom exemplo é o caso de pessoas que não possuem perfil para investir em ações, em função das oscilações, mas que insistem em fazê-lo só por que “todo mundo investe”, num típico “comportamento de manada” e passam os dias olhando as subidas e descidas da bolsa com sofrimento tão grande que contamina outras áreas da vida e relações pessoais.
Ou seja, essas pessoas não conseguem se perceber em termos de personalidade, colocam-se metas altas sem saber se de fato conseguirão atingi-las, mas numa conta mental (que normalmente é a conta de nosso desejo, não da realidade), colocam-se em situações financeiras precárias ou insatisfatórias para seus objetivos de vida. E o pior de tudo: sofrem constantemente.
5- Os insaciáveis
Como o próprio nome diz, os insaciáveis nunca estão satisfeitos, por mais que tenham dinheiro, poder e prestígio social. É como se houvesse um abismo interior instransponível que o dinheiro não poderá preencher. Lembra-se de que escrevi no artigo anterior (clique aqui e leia) que os substitutos não nos dão aquilo que precisamos? Pois é o caso dos insaciáveis, cujas histórias no passado certamente nos mostrarão alguma lacuna afetiva.
Os insaciáveis costumam ser pessoas de sucesso, bons profissionais, com dinheiro, mas por mais que tenham tudo que imaginam, esse tudo não será suficiente.
Para elas, os bens materiais estão relacionados com amor ou a falta dele, que geralmente costuma acontecer na infância.
Como bem explica Yablonsky: “É como se elas tivessem um buraco infinito em algum lugar da psique (mente) e pensam que são movidas para preenchê-lo com realização, prestígio e dinheiro; elas nunca poderão fazer o bastante e permanecerão para sempre incompletas”.
Reflexão sobre os estilos
Uma questão importante a ser considerada é que são as pessoas que definem suas aspirações e como querem viver; não o grupo e a cultura ao qual pertencem, embora eles possam influenciar, assim como as fases de nossa vida.
Os estilos financeiros são “democráticos” e podem ser observados em todas as classes sociais. Como explica Yablonsky: “Em cada estrato social as pessoas têm seu próprio nível de aspiração e seu próprio estilo financeiro” que não exatamente é o mesmo de seu grupo.
Eu tenho um exemplo bem próximo a mim, de uma funcionária que trabalha no mesmo prédio que eu: divorciada e com filhos adultos que moram em outra cidade, vive sozinha em São Paulo. Mora em um imóvel alugado de três cômodos, na periferia da cidade, passa quatro horas por dia em ônibus para ir e voltar do trabalho e está sempre feliz. Quando a questionei sobre isto, teve uma resposta na ponta da língua: “Tristezas não pagam dívidas, doutora!”
Recebendo dois salários mínimos por mês, podemos dizer que essa mulher, ao contrário do que muita gente imagina, está satisfeita com seu estilo financeiro “que a deixa ter sempre uma cervejinha gelada e um cantinho gostoso só dela para chegar depois do trabalho”.
E você, já conseguiu identificar qual é seu estilo financeiro mais prevalente?
Bibliografia consultada:
DE VRIES, M. K (2007) Money, Money, Money. In: Organizational Dynamics, Vol. 36, No. 3, pp. 231–243
FERREIRA, V.R.M (2008) Psicologia Econômica: Estudo do comportamento econômico e da tomada de decisão. Rio de Janeiro: Elsevier.
FURNHAM, A; ARGYLE, M (2007) The Psychology of Money. 3rd Reprinted. New York: Routledge.
YABLONSKY, L (1991) The emotional meaning of money. New York: Gardner Press.
NYHUS, E.K; PONS, E (2005). The effects of personality on earnings. Journal of Economic Psychology, vol 26, p. 363-384.
THALER, R.H; SUNSTEIN, C.R (2009) Nudge: o empurrão para a escolha certa: Aprimore suas decisões sobre saúde, riqueza e felicidade. Trad. Marcello Lino.Rio de Janeiro: Elsevier.