Da Redação
Quem é jovem e está na fila de emprego sabe: o momento não é dos melhores para os menos experientes. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) demonstram que os brasileiros entre 14 e 24 anos foram os mais afetados pela redução dos postos de trabalho. Com a alta concorrência, quem possui histórico profissional tímido ou às vezes nenhuma experiência, se torna menos competitivo e fica, muitas vezes, à margem do mercado celetista (formal). E mesmo nas modalidades voltadas especialmente para esse público – ou seja, vagas que não demandam qualquer experiência profissional – a exigência dos processos seletivos também está elevada: com um número cada vez maior de inscritos em programas de estágio.
Em tempos de orçamento apertado, a saída também não é das mais fáceis: investir na carreira, realizando cursos e especializações, foge da realidade de muitos desses jovens. Contudo, a boa notícia é que um estudo realizado justamente com esse público apontou o trabalho voluntário como uma alternativa oportuna para melhorar o currículo. E eles não estão errados: de acordo com especialistas, tal atitude pode agregar habilidades altamente desejáveis e é bem vista pelos recrutadores. Para esses profissionais, a atividade altruísta poderia, inclusive, ser mais explorada pelos jovens brasileiros na hora de impulsionar a carreira.
Saída em tempos de crise
Para muitos jovens, a situação é um paradoxo: para conseguir um trabalho é preciso investir em estudo, o que requer dinheiro; mas para conseguir dinheiro é preciso trabalhar. E essa conta difícil de fechar já não pode contar com um fator decisivo: a ajuda dos pais. Com a crise, o orçamento de muitas famílias foi severamente impactado e, consequentemente, os gastos com educação ficaram em segundo plano. Prova disso é que 30,5% dos jovens deixaram de fazer qualquer investimento na carreira no último ano devido à falta de recursos financeiros. É o que aponta um levantamento exclusivo realizado pela Companhia de Estágios – consultoria e assessoria especializada em programas de estágio e trainee.
Contudo, dentre aqueles que alegaram ter investido na carreira neste período, 11% apontou as iniciativas sociais, em especial o voluntariado, como alternativa. A atividade aparece atrás de especializações na área de formação e cursos complementares de idioma, porém, à frente de opções como uma Pós Graduação ou MBA (1,25%), por exemplo. De acordo com Tiago Mavichian, diretor da recrutadora, esse número poderia ser ainda maior, considerando que quase um terço dos entrevistados afirmou não ter feito qualquer ação para “melhorar” o currículo “Isso demonstra que muitos jovens ainda desconhecem o potencial do trabalho voluntário para a carreira. Embora a atividade tenha cunho altruísta, certamente mais estudantes participariam se tivessem consciência de que a experiência pode contar pontos no mercado de trabalho, pois agrega valores que a maioria das empresas procura em seus futuros colaboradores, como por exemplo: proatividade, capacidade de trabalhar em equipe, consciência coletiva e gerenciamento de tempo etc”.
Atividade pouco explorada
Não é mera impressão – para se ter uma ideia, uma pesquisa realizada em 2015 pela Charities Aid Foundation (CAF), entidade do terceiro setor representada no Brasil pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS); apontou que, embora solidário, o brasileiro ainda não tem o hábito de se voluntariar. No seu Índice Mundial de Solidariedade (World Giving Index), que mapeia ações altruístas (como doações para caridade, voluntariado e até mesmo, a ajuda a desconhecidos) o Brasil ficou no 105º lugar, entre 145 países.
De acordo com o relatório, apenas 13% dos brasileiros dedicam tempo em ações de cunho voluntário, sem fins lucrativos. Conforme o documento, estamos mais inclinados a ações que exijam menos comprometimento, como doações em dinheiro, por exemplo. E quando se trata do perfil dos benfeitores, os jovens são os menos engajados – boa parte daqueles que contribuem em ações solidárias está, justamente, na faixa etária acima dos 25 anos.
Voluntariado é investimento?
Para Rafael Pinheiro, gerente de recursos humanos, é importante que os jovens saibam que a experiência pode render conhecimentos semelhantes ao de cursos pagos “Em nossa pesquisa identificamos, por exemplo, que o domínio de idiomas e o aprimoramento das habilidades interpessoais estão entre os aspectos que os entrevistados mais gostariam de melhorar em seus currículos.
Recentemente, na Copa do Mundo e nas Olimpíadas, por exemplo, quem se voluntariava recebia, além de treinamento, cursos online totalmente gratuitos, inclusive de idiomas. E isso não se limita a eventos excepcionais, muitas ações de voluntariado envolvem um treinamento básico, nas mais diversas áreas, para preparar aqueles que se dispõem ao trabalho, oferecendo, inclusive, certificados que podem – e devem – ser explorados na vida profissional”.
Dia Nacional do Voluntariado
Celebrado em 28 de agosto, o Dia Nacional do Voluntariado foi instituído por Lei (Nº 7.352/85) visando reconhecer, valorizar e estimular a participação solidária e dedicação espontânea de tempo e/ou de talentos que possam ajudar o próximo e/ou a sociedade. O trabalho não tem fins lucrativos, ou seja, qualquer retorno financeiro, e também está regulamentado pela Lei 9608/2008. A atividade não tem vínculo empregatício e não pode, por sinal, substituir postos de trabalho.