por Eduardo Yabusaki
Sempre que se fala sobre traição, de imediato, constrói-se a imagem de um mau caráter ou de um destruidor de relacionamento. Entretanto, deixa-se de pensar no que possa ter acontecido com o indivíduo que comete a traição, o que estava se passando no relacionamento que, talvez, pudesse ter favorecido a ocorrência do ato de trair.
Por mais que existam ‘n’ motivos para ocorrer uma traição, ela jamais será plenamente justificada. Embora nada justifique um ato de infidelidade dentro de um relacionamento, entretanto, compreendermos o que possa ter acontecido, talvez possa nos trazer subsídios para um enfrentamento, reconhecimento e superação da traição.
Diferentes faces da traição e como superá-las:
1. Existem pessoas que mesmo vivendo um relacionamento estável como um casamento e simplesmente não conseguem permanecer dedicadas única e exclusivamente a ele. Elas sentem necessidade ou gostam de viver situações em que experimentam novas conquistas, ou envolvimentos fortuitos sem maior comprometimento, só para sentirem-se desejadas ou conquistando. Nessa busca não avaliam as consequências para o seu relacionamento e nem consegue frear os seus ímpetos sexuais ou galanteadores.
Muitos associam essa situação a um desvio de caráter, o que pode ou não ser verdadeiro. Para que um par possa enfrentar uma traição dessa natureza, é preciso que ambos reconheçam a necessidade de um cuidado e vigilância permanente para que essa não volte a acontecer e que zelem pela convivência e cuidado um para com o outro.
2. Há situações em que a traição acontece de forma oportunista, ou seja, num descuido de uma das partes, em que se veja afetivamente, sentimentalmente ou mesmo sexualmente vulnerável, se depara com uma situação de fragilidade em que acaba induzido a viver a situação de infidelidade. Exemplificando: o casal briga por motivos corriqueiros, comum aos relacionamentos, ele (a) que anda impaciente e estressado (a) por causa do trabalho, fica num estado de angústia e sofrimento profundo e sai pela noite para espairecer e relaxar. Entretanto, se depara com o seu ponto fraco: a bebida, que o (a) deixa ainda mais vulnerável e suscetível a vivências não favoráveis ao relacionamento. Sob efeito do álcool fica mais leve e descontraído (a) se expondo de forma bastante simpática a situações de socialização com garotas (os) que habitualmente não faria. E numa dessas abordagens acaba que conquistando o interesse de alguém, a situação evolui ao ponto de acabarem a noite em êxtase sexual.
Claro que em nada alivia o sofrimento de ambos ou a culpa do (a) infiel. Entretanto, podemos aqui levar em conta muito mais a fragilidade, ou mesmo, a falta de pulso e consciência do que traiu, do que propriamente uma personalidade comprometida ou uma estrutura de relacionamento ruim. Não se pode amenizar as consequências da traição, mas talvez possa se compreender o que essa pessoa precisa para que o relacionamento possa permanecer.
3. Acontecem traições que por vezes são favorecidas pelo próprio relacionamento, do que estamos falando: situações em que o par convive de forma tão ruim ou negativa que uma das partes acaba buscando algo diferente daquilo que vive por não suportar tamanha angústia e sofrimento dentro do seu relacionamento. Não é incomum observarmos casais que convivem se tratando de forma muito adversa do ideal, ou seja, mais se destratando do que cuidando: com ironias, sem carinho, com falas ríspidas ou grosserias, com falas acusatórias. Enfim, situações que muitas vezes saltam aos olhos de quem observa, mas que se torna comum para quem as vive. É comum suportarem tais situações calados (as), mas altamente tensos (as), angustiados (as) ou tristes e insatisfeitos (as), e que numa oportunidade em que o outro não esteja, busca ou se expõe a situações nunca antes imaginadas.
O parceiro (a) viaja e ela se vê em casa sozinha (o) e só por curiosidade acessa um aplicativo de paquera online, e se depara com uma situação que jamais pensara como possível ou interessante e se vê cortejada (o) e assediada (o) por inúmeros candidatos (as). Não bastasse tamanho assédio e, de novo só por curiosidade, resolve responder a um deles (as) e marcar um encontro só para ver como é. Marca e inevitavelmente quer saber como seria se estivesse com outra pessoa que não o seu par. Mesmo que nada aconteça ou que ela não permita que evolua, isso já está interferindo em sua visão e posicionamento frente ao seu relacionamento, o que pode vir a ser tentador e pode até criar um abalo na estrutura do relacionamento, ao ponto de ela (ele) propor mudanças ou busca por melhora.
4. Outros vivem a traição convictos de que isso faz parte da natureza humana e que não veem problema algum para o relacionamento, que isso em nada afeta o outro, enfim convivem bem com tal ideia e comportamento sem que isso traga maiores prejuízos às suas vidas. Nesses casos há pouco o que se fazer, afinal são crenças enraizadas e que não vão mudar se não houver uma predisposição de se rever seus valores.
Não quero aqui me ater exclusivamente às situações apresentadas e descritas, pois são algumas de tantas outras. Quero sim ressaltar a dor, o sofrimento, a angústia e catástrofe que pode representar a traição para as pessoas e para os relacionamentos e, que por terem tal dimensão, precisam ser bem avaliadas e refletidas quando acontecem ou não, quando ainda são apenas ideias e conceitos que precisam ser levados em consideração como possíveis de acontecer. Portanto é saudável saber o que cada um pensa a respeito do assunto.
Enfim a traição é sempre tema de muita discussão, polêmica e reflexão. Portanto, pratiquemos todos nós em nossos relacionamentos a paciência, o respeito e tolerância, estes podem ser bons passos para o entendimento.