Por Aurea Caetano
Seguimos adiante com as considerações acerca dos estágios propostos por Jung para explicar o processo psicoterapêutico.
Como já dissemos esta é apenas uma forma didática usada por Jung, em um momento no qual os conhecimentos acerca da psicoterapia era ainda incipientes, para conversar a respeito deste trabalho.
Depois de falar a respeito das três primeiras etapas, confissão, esclarecimento e educação (veja aqui), chegamos, à quarta etapa, que Jung vai chamar de – transformação. E, pergunta Jung, o que há de diferente neste estágio? O que é que não foi ainda considerado nas etapas anteriores? E, aqui de forma muito interessante, Jung escreve a respeito de normalidade e adaptação introduzindo a questão a respeito da individualidade de cada ser humano.
Diz ele: “As exigências e necessidades do homem não são iguais para todo mundo. O que para uns é salvação, para outros é prisão. O mesmo acontece com a normalidade e o ajustamento.” (OC vol 16, par. 163)
A questão do individual versus o coletivo é aqui colocada trazendo, de maneira enfática, toda a discussão a respeito do que fazemos em nosso trabalho e da importância da personalidade do terapeuta. Se por um lado, como afirma Jung é de “desesperar que na psicologia verdadeira não existam normas ou preceitos universais” é também fato que “no fundo nunca se pode saber de antemão o rumo que vai tomar este ou aquele caso”. (par. 163)
Podemos pensar que o trabalho nas fases anteriores seria o de reconhecimento das questões ou problemas que dificultam o adequando funcionamento da pessoa e o esclarecimento das questões envolvidas bem como sua modificação.
Desta forma, o paciente retoma, por assim dizer, seu fluxo normal de desenvolvimento momento no qual se coloca a importante discriminação acerca do que é o normal para aquela pessoa, naquele momento de sua vida. E então, o terapeuta deixa de ser detentor da verdade sobre o paciente e o que seria melhor ou mais adequado para ele e se permite a entrada no processo, junto com o paciente, na tentativa de compreender o que é verdadeiro para ele.
A relação terapeuta x paciente é sempre uma relação pessoal, dentro do quadro impessoal de um tratamento médico. Ainda de acordo com Jung “nenhum artifício evitará que o tratamento seja o produto de uma interação entre o paciente e o médico, como seres inteiros.” Isto é, o encontro analítico é o encontro entre duas pessoas e tanto o médico/terapeuta quanto o paciente são afetados por esse encontro. “Influir é sinônimo de ser afetado”.
Para que possa acontecer esta quarta etapa, é importante que o médico/terapeuta possa também se transformar, só assim terá a possibilidade de transformar o paciente. Reside aí a necessidade imperiosa de que o terapeuta esteja ele também em análise, portanto em transformação, para poder ser capaz de sustentar e alimentar o processo de transformação daqueles que o procuram.
“… no momento em que uma psicologia que nasceu da medicina, toma o próprio médico como objeto, ela deixa de ser um simples método de tratar doentes. Ela passa a tratar de homens sãos, ou pelo menos, de pessoas que se dão o direito moral de reivindicar a saúde psíquica, e cuja doença pode ser, no máximo, o sofrimento que a todos atormenta”. (par. 174).