por Patricia Gebrim
Quem nunca foi feito de bobo ao menos uma vez na vida?
Quem nunca foi enganado por alguém… traído… ferido… humilhado talvez?
Quem nunca saiu para passear com um meigo cordeirinho, de pelos brancos como a neve, e acabou caindo nas bocas do lobo mau de olhos vermelhos e baba maldita?
Confesse… uma vezinha ao menos já deve ter acontecido com você! Cada um de nós já passou por uma situação como essa na vida.
Eu vejo, todos os dias, coisas assim acontecerem. Vejo pessoas serem feridas por outras, cujos valores seriam impublicáveis. Fiquei pensando… Por que isso acontece? Por que as pessoas se permitem serem enganadas assim?
Três palavras antilobo mau: maturidade, sabedoria e autoestima
O problema é que não nascemos com tudo isso, vamos conquistando cada qualidade dessas aos poucos pela vida. Quanto mais amadurecemos, mais sábios nos tornamos e vamos aprendendo a perder a ingenuidade, a reconhecer e evitar os perigos… isso se gostarmos o suficiente de nós mesmos (autoestima) para nos afastar do que nos faz mal.
Assim, com o passar do tempo, acreditem, acabamos aprendendo a reconhecer o cheiro de lobos maus… Eu já senti! É um cheiro ácido, um pouco enjoativo, uma mistura de tabaco, estrume e fel, que traz um amargor à nossa boca e um descompasso ao coração.
Nem todos têm logo de cara um bom olfato. Isso só se aprende vivendo, logo é impossível evitar sofrer uma queda dessas de vez em quando. É impossível evitar alguns encontros com aquele monstro medonho e sua boca fedida, ornada por uma fileira de dentes afiados. É impossível passar pela vida sem um ou outro arranhão.
Ok, o arranhão aconteceu, a mordida está ardendo na sua pele… A questão é: o que fazer depois disso?
O que fazer quando percebemos um animal horrendo e cheio de dentes rasgando a nossa pele sem dó? O que fazer ao perceber que fomos enganados, feridos, maltratados? O que fazer quando alguém trai nossa confiança, nosso maior bem, ingênua e docemente depositado em mãos, ou patas, erradas?
O primeiro impulso é bem ruim, acreditem.
Primeiro vem uma vontade de matar a nós mesmos! COMO PUUUUDE SER TÃO IDIOOOOOTA?!!!
E depois – a ordem não precisa ser essa – uma vontade de matar o lobo!!!! CADÊ O LENHADOOOOOR???? (aquele que na estória da Chapeuzinho Vermelho jogou o lobo na panela de óleo fervente, lembra?)
Em um primeiro momento queremos acabar com o lobo maldito, arrancar sua pele, matá-lo, esquartejá-lo!
Se você já foi atacado por um lobo saberá do que estou falando.
Mas será que vale a pena? Vai mudar o que já aconteceu?
Se fizermos isso não estaremos vivenciando uma outra traição? Não estaremos traindo “a nós mesmos”, aos nossos valores, às nossas crenças? Será que temos que deixar de ser quem somos só por que um bicho peludo agiu de forma ruim?
Ah, quer saber? Não se traia. Não se abandone. Não se puna pelo que ocorreu, nem fique aprisionado em uma tentativa de punir o outro. Resista à tentação de se vingar… Isso aprisiona você!
A meu ver vale mais a pena usar o ocorrido para aprender. APRENDA!!!!!!
É a única coisa que poderá evitar que isso se repita. Aproveite a proximidade do lobo e dê uma boa cheirada nele, inspire profundamente aquele odor assustador e registre-o em suas células olfativas, pregue em cada uma delas uma plaquinha vermelha: PERIGO!!!
Perceba qual foi a sua participação em permitir que aquilo lhe acontecesse (não há vítimas, apenas falta de consciência), e siga em frente. Ouça… apenas “perceba”sua participação, sem se culpar. Seja doce consigo próprio, é muito importante que você seja carinhoso com seu próprio ser em um momento assim.
Não permita que ninguém, ou nenhuma situação, mude a crença positiva que você tem a seu respeito. Se o outro mentiu, traiu, feriu você… foi “ele” quem fez isso, e será ele que terá que conviver consigo próprio por cada momento de sua odiosa vida. Não siga o mesmo caminho.
Apenas afaste-se, o máximo que puder. Corte todas as possibilidades dessa pessoa ferir você novamente. Vire a página, volte a prestar atenção em sua própria respiração, em seu próprio Ser… volte a criar a sua vida como acredita que ela deva ser.
Se me permite uma opinião…
Não se torne um lobo também, por favor, não faça isso. Digo isso porque sei que todos nós temos também uma parte “lobo” (ninguém é só “cordeirinho”, acredite!). Mas não a desperte por vingança. Não por vingança…
Se um dia você a trouxer à tona, se quiser sentir a pele de seu lado lobo… que seja para proteger você, e não para atacar… que seja para te fazer correr livre e selvagem pelos campos, e não para abocanhar… que seja para te fazer sentir o prazer da vida, e não para matar!
O mundo já tem lobos demais, um bando de gente que baba e morde sem razão, mas no final das contas o que de verdade importa é quem cada um de nós escolhe ser. Esse é o único lugar onde podemos ser livres de verdade. Escolher está além de “reagir”. Se você reage, não está escolhendo, pense nisso. E se não escolhe, não exerce a sua liberdade.
Escolha continuar sendo quem você é, não importa quais sejam as escolhas das outras pessoas!