por Angelo Medina
Sua principal ferramenta de trabalho é a essência da própria vida e o ser humano em sua intrincada existência. Nem filósofa e nem psicóloga mas, acima de tudo, ESCRITORA, ou será transgressora?. Dona de um texto primoroso regado à: simplicidade, naturalidade e uma aguda sensibilidade.
Esta é a irrequieta Lya Luft, misto de prosa e poesia em linhas que retratam, de maneira personalíssima, verdadeiras pepitas do autoconhecimento e do 'bem-viver', acima de tudo, com muita maturidade e bom senso.
Lya Luft é um fenômeno editorial. Seus dois últimos livros são sucesso de vendas. "Perdas e Ganhos" lançado ano passado, está está na 25ª edição e ruma para os 400 mil exemplares vendidos. Seu último livro "Pensar é Transgredir" lançado há cinco meses, já está na 7ª edição e já vendeu cerca de 150 mil exemplares. Ambos se encontram na lista dos mais vendidos de VEJA, onde Lya também é colaboradora.
Nesta entrevista exclusiva ao Vya Estelar, Lya Luft explica por que transgredir o superficial, o sexo, o amor e a religião trazem enorme bem-estar. Lya mostra sua visão sobre maturidade e explica por que a "felicidade não está dentro da gente". Ela fala sobre a importância de se reprogramar a cada dia e revela quais foram suas perdas e quais foram os seus ganhos.
Vya Estelar – O que é para senhora transgredir o superficial? A senhora já disse que: "viver não é só transar, nascer, pagar contas e morrer". Seria mais ou menos por aí?
Lya Luft – Viver é também de vez em quando parar para pensar na vida, no valor da vida, no que estamos fazendo com ela e conosco.
Vya Estelar – Homens e mulheres sofrem hoje muitos conflitos de ordem amorosa e sexual. A senhora atribui isto a quê?
Lya Luft – Aos modelos ridículos e patéticos que nos são apresentados, e que aceitamos por infantilidade e imaturidade. Uma vida sexual boa não é atletismo nem campanha ou competição por número de orgasmos ou coisas fantásticas na cama. Uma vida sexual feliz tem a ver com carinho, ternura e amor. Não são só os belos é que são felizes. É preciso pensar nisso. Nem os excêntricos ou delirantes.
Vya Estelar – De que forma Deus, religião ou misticismo se inserem na sua vida ou até mesmo esta dualidade entre carma (ou fatalidade) X livre-arbítrio?
Lya Luft – Sempre me considerei uma pessoa com profunda visão religiosa da vida, do ser humano e do mundo. Enfim… do sentido da vida. Da transcendência da nossa vida. Mas não me ligo a nenhuma religião institucionalizada que queira me ensinar como pensar ou me portar. Só isso.
Vya Estelar – O que é para senhora viver com maturidade?
Lya Luft – É simplesmente deixar-se levar pelo fluir da vida sem demasiada teorização aflitiva, mas também prestando atenção à vida, isto é: não como um animal que não pensa, mas também não como quem imagina que vai saber tudo ou que precisa controlar tudo.
Vya Estelar – Para a senhora onde está a felicidade?
Lya Luft – Não vou repetir o chavão tolo de dizer que a felicidade está dentro de nós. Ser feliz é ter afetos e projetos, sentir-se razoavelmente bem dentro da própria pele, gostar de si apesar dos defeitos e limitações, acreditar que o bem existe e é possível, esse tipo de coisa. Um estado geral, uma visão geral do mundo e da vida, apesar dos horrores que acontecem.
Vya Estelar – O que seria na prática se reinventar ou se reprogramar a cada dia?
Lya Luft – Certamente não é acordar a cada dia pensando: "Hoje preciso me reinventar. Mas não ser resignado, conformado, não viver como se a gente não valesse nada, como se a vida não valesse a pena, como se não fosse preciso lutar para melhorar, como se a gente não merecesse nada melhor.
Vya Estelar – Como fazer escolhas corretas espontâneas já que, a cada momento de nossas vidas, estamos consciente ou inconscientemente escolhendo o tempo todo?
Lya Luft – As escolhas são em geral inconscientes, e escolhemos segundo o que inconscientemente pensamos merecer. Por isso é preciso educar ou reeducar-se para maior respeito por si mesmo, acreditar mais em si e na vida. Achar que sim, merecemos respeito, alegria e felicidade. Não sou dos que acham que o sofrimento enobrece, mas que a felicidade é que nos torna melhores.
Vya Estelar – Nos dias atuais qual seria o legado mais importante que teríamos para caminhar em direção ao bem-estar integral?
Lya Luft – O bem-estar integral não existe, é utopia, mas podemos desejar e trabalhar para melhorar nosso modo de viver, de conviver, de amar e de trabalhar. Cada um dentro de seus limites e possibilidades. Temos uma ilusão de que felicidade é dinheiro, viagens, coisas espetaculares, beleza estonteante, corpo atlético, sei lá. E com isso perdemos tempo, dinheiro e energia tentando o impossível ou desistindo até do que seria possível.
Vya Estelar – Simplicidade e naturalidade, essas duas palavras deveriam andar juntas frente às nossas angústias ou problemas do cotidiano? Por quê?
Lya Luft – Porque a vida em si já é complicada o bastante, a gente precisa tentar descomplicar, ser mais alegre, mais natural, gostar mais das coisas, dos outros, de si mesmo, da vida, do trabalho. Vivemos nos queixando, ressentidos, mal humorados, e isso não ajuda a ninguém.
Vya Estelar – O que a senhora sugere para lidar com uma grande perda, como a perda de um grande amor ou de um grande ente querido?
Lya Luft – Na hora da perda nada há a fazer senão sofrer.Tudo fica horrível, e não há consolo. Aos poucos, as memórias boas predominam, e a gente volta a viver. E começa a compreender que a maior homenagem que se pode prestar a quem se foi é voltar a viver, e viver da melhor forma possível, em vez de continuar espalhando sombras e dor ao seu redor. É por aí…
Vya Estelar – De um lado o ambiente duro em casa e do outro as sólidas raízes de afetos. Como os pais deveriam, na sua opinião, se posicionar frente a essas duas possibilidades?
Lya Luft – Maternidade e paternidade são duro ofício, mas também grande fonte de alegria, energia e esperança. Cada filho é um ser humano diferente, com exigências e necessidades diferentes, e isso complica muito. É preciso paciência, mas também firmeza. Carinho, mas também limites. Alegria, mas também seriedade. Colo, ombro e abraço, mas também às vezes severidade. Enfim, não é brincadeira. Mas eu acho que vale a pena.
Vya Estelar – Por Lya Luft
Perdas – As pessoas que amei e perdi, como meu pai Arthur, o pai de meus filhos Celso Pedro, meu companheiro de breves anos Helio Pellegrino, alguns amigos como Érico e Mafalda Veríssimo, inesquecíveis e outros. Sempre pessoas queridas.
Ganhos – Meus três filhos, Susana, André e Eduardo; meus sete netos e netas; meu companheiro Vicente Pereira que certamente estará comigo pelo resto de meus dias, todos os amigos e leitores, a arte, a beleza do mundo… Enfim, cada dia de minha vida que sempre foi de tantos ganhos.