Transtornos de ansiedade em crianças e adolescentes

Transtornos de ansiedade em crianças e adolescentes:  Pesquisa Nacional de Saúde da Criança (NSCH/EUA), constatou que 7,8% das crianças e adolescentes de 3 a 17 anos têm algum tipo de transtorno

Pesquisa com médicos nos EUA constatou que 76% relataram acreditar na importância de conversar com pacientes adolescentes sobre sua saúde mental. No entanto, apenas 46% disseram que sempre perguntavam a seus pacientes sobre sua saúde mental. Assim, a partir das informações coletada, devemos nos perguntar: Será que quando levamos nossas crianças e adolescentes ao médico/pediatra ele inclui na consulta perguntas sobre a saúde mental?

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Pesquisa Nacional de Saúde da Criança (NSCH) dos EUA, realizada entre 2018-2019, constatou que uma taxa de 7,8% das crianças e adolescentes de 3 a 17 anos tinham algum tipo de transtorno de ansiedade. E só para constar, os transtornos de ansiedade na infância e adolescência estão associados a uma maior probabilidade de um futuro dos transtornos de ansiedade ou depressão.

7 tipos diferentes de transtornos de ansiedade 

Os transtornos de ansiedade são caracterizados por maior duração ou intensidade do comprometimento de uma resposta ao estresse. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM 5ª Edição) reconhece 7 tipos diferentes de transtornos de ansiedade em crianças e adolescentes:

1º – transtorno de ansiedade generalizada (TAG);
2º- transtorno de ansiedade social;
3º-  transtorno de pânico;
4º- agorafobia: a pessoa tem medo de estar em situações ou lugares nos quais ela tem a sensação de que escapar ou obter ajuda em caso de emergência pode ser difícil;
5º – fobias específicas;
6º – transtorno de ansiedade de separação: a criança ou adolescente apresenta preocupações intensas e irrealistas sobre a possibilidade de perder pessoas significativas ou ser separada de casa;
7º- mutismo seletivo Geralmente, essa condição se manifesta em crianças que, em casa ou em situações familiares, falam normalmente, mas em ambientes como escola, festas, ou outras situações sociais, permanecem em silêncio, mesmo que queiram falar..

Você leitor pode facilmente consultar o DSM 5 na internet.

Brigas entre os pais podem exercer impacto no transtorno de ansiedade

Os fatores de risco para transtornos de ansiedade incluem fatores genéticos, de personalidade e ambientais, como dificuldades de apego, *conflito interparental, superproteção parental, separação parental precoce e maus-tratos infantis. Fatores demográficos como pobreza e baixo nível socioeconômico também estão associados a maiores taxas de transtornos de ansiedade. 

Outro dado alarmante da Pesquisa Nacional sobre Saúde Mental de Jovens LGBTQAP+ (lá dos EUA) relatou que 72% das jovens lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e queer (não heterossexuais) e 77% dos jovens transgêneros e não binários descreveram sintomas de TAG. De acordo com o NSCH de 2016, as condições de ansiedade foram mais comuns em crianças mais velhas e adolescentes (de 12 a 17 anos) em comparação com crianças mais novas (11 anos ou menos).

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Experiências adversas na infância podem resultar de uma interação complexa de fatores familiares, de pares ou sociais, incluindo discriminação racial. Essas experiências adversas na infância podem ser flagrantes ou sutis, mas são eventos potencialmente traumáticos que, no contexto de traumas históricos (o evento não foi pacificado, ajustado à consciência histórica), racismo estrutural, e vulnerabilidade biopsicológica, podem piorar os resultados de saúde mental das crianças e adolescentes. Combinadas com um menor engajamento com serviços de saúde mental, experiências adversas na infância podem resultar em altos níveis de necessidades de saúde mental não atendidas em jovens.

Essas condições de saúde mental têm efeitos de longo prazo que podem incluir condições crônicas de saúde mental, física ou somáticas, comprometimento funcional psicossocial, aumento do risco de abuso de substâncias e mortalidade prematura. 

Problemas de ansiedade são mais comuns em crianças mais velhas (12 a 17 anos) em comparação com crianças mais novas (3 a 11 anos) dizem as pesquisas. 

A ansiedade de separação, o mutismo seletivo e o TAG tendem a aparecer mais cedo na infância (pré-escolar e nos primeiros anos escolares), enquanto a ansiedade social e as fobias específicas geralmente aparecem nos anos escolares mais tardios.

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O tratamento para transtornos de ansiedade pode incluir psicoterapia, farmacoterapia, uma combinação de ambos ou cuidados colaborativos. Várias abordagens psicoterápicas têm sido utilizadas para tratar a ansiedade. No entanto, a terapia cognitivo-comportamental, também conhecida pela sigla TCC, é a abordagem mais comumente utilizada. 

A duloxetina, um inibidor da recaptação de serotonina-noradrenalina, é o único medicamento aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA para o tratamento do TAG em crianças com 7 anos ou mais. Outros medicamentos também foram relatados como sendo prescritos off-label** para o tratamento da ansiedade em jovens.

Em geral, sou um forte defensor de tentar explicar para as crianças qualquer diagnóstico comportamental, falando de uma forma que seja precisa, mas não estigmatizante.

Quando se trata de ansiedade, o paralelo que costumo usar é o do nosso sistema imunológico, que a maioria dos jovens conhece pelo menos em termos básicos. Tanto o nosso sistema imunológico como as nossas redes de ansiedade são naturais e importantes; como espécie, não teríamos durado muito tempo sem eles; ambos são construídos para avaliar e responder às ameaças, mas os problemas podem começar a surgir se a resposta for muito intensa em relação à ameaça ou se a resposta for ativada quando não for necessário. O tratamento não é direcionado a se livrar da ansiedade, mas a ajudar a regulá-la para que funcione a nosso favor e não contra nós. Levar alguns minutos tendo uma conversa assim, pode ser muito útil, talvez mais do que fazer um simples resumo dos critérios do DSM-5.

* O conflito interparental se refere aos desentendimentos, discordâncias e tensões que ocorrem entre os pais ou parceiros em um relacionamento.
** Indicação off-label é quando o medicamento ou qualquer outra espécie de tecnologia em saúde não está descrita na bula ou manual registrado na ANVISA.

Coordenador do serviço de atendimento a pacientes com tricotilomania no PRO-AMITI/IPq FMUSP. Supervisor clínico na UNIP. Psicólogo pela Universidade Metodista. Mestre em ciências pela Faculdade de Medicina da USP. Especialização em Terapia Cognitivo-comportamental pelo Ambulim/IPq FMUSP. Especialização em Psicologia Hospitalar pela UNISA