por Joel Rennó Jr.
É muito comum todos os médicos receberem em seus consultórios pacientes que fazem tratamento homeopático. Geralmente, perguntam a todos nós: "O atual tratamento alopático interferirá com a homeopatia?". Lembro-me que na minha infância eu tinha crises constantes de "enxaquecas" e, em uma determinada ocasião, minha mãe me levou a um tratamento homeopático que funcionou. Por quê? Sinceramente, não tenho a resposta até hoje. Tudo ainda é misterioso e indefinido dentro do paradigma científico que eu adoto como médico.
Vários colegas homeopatas relatam o princípio geral do tratamento: "a cura pelos semelhantes". Isso pode ser traduzido por formulações medicinais obtidas de elementos da natureza (minerais, vegetais e animais) e apresentando os sintomas da doença, com a intenção de estimular os mecanismos de defesa do organismo do paciente. A preparação é feita através de diluições e um outro processo conhecido como dinamização.
Costumam argumentar que a homeopatia funciona, citam vários relatos de pacientes curados por ela, mostram trabalhos científicos, sem metodologia ainda adequada e convincente, para justificar os efeitos benéficos da mesma. Outro aspecto: para alguns homeopatas, eles são os únicos capazes de ouvir o paciente, fazendo uma anamnese (história clínica) e exame físico completos, ao contrário dos demais médicos. O discurso é sempre o mesmo: "Nós nos preocupamos com a pessoa e a doença".
Nesta direção de pensamento, ou seja, a preocupação com a saúde global, surgem também a acupuntura e a fitoterapia (medicamentos à base de plantas).
Sabemos que o vínculo médico-paciente é a base de qualquer medicina, independente dos avanços tecnológicos alcançados. Isto não é uma exclusividade de qualquer prática médica. Deve ser o alicerce de uma medicina de alto nível, social e humanitária. Conheço muitos alopatas, e eu mesmo me enquadro aqui, que fazem consultas médicas de uma hora de duração e abordam todos os aspectos da vida de seus pacientes, escutando-os com atenção, carinho e respeito.
Falar que só o homeopata se preocupa com tais aspectos é uma injustiça para os verdadeiros filhos de Hipócrates, seguidores fiéis dos princípios éticos de uma medicina de qualidade e valores ético-morais.
Embora eu considere e respeite os relatos de pacientes, não posso deixar de relatar o tão conhecido "efeito placebo". Na minha tese de doutorado, eu encontrei um enorme efeito placebo, ou seja, na minha pesquisa, tanto uma pílula de farinha quanto a reposição hormonal tradicional melhoraram o humor e a memória de mulheres na pós-menopausa. Nos estudos envolvendo o efeito benéfico dos antidepressivos, a resposta ao placebo gira em torno de 30% a 40%. Portanto, outros fatores, além das questões farmacológicas, podem, sem dúvida, explicar a melhora em relação a certas doenças. O próprio curso clínico natural de algumas doenças que remitem espontaneamente, após determinado período, independente de tratamento, também pode explicar alguns resultados da homeopatia.
Já presenciei pacientes com doenças graves, como câncer ou infecções, literalmente tendo um avanço da doença clínica por não se submeterem a tratamentos com comprovação científica.
Não se trata de uma guerra contra a homeopatia ou divisão em nichos dentro da medicina. Isso é inócuo e sem nobreza. Há espaços para todas as correntes médicas, porém, as pessoas devem ter cuidado com práticas médicas ainda sem comprovação científica, principalmente, para casos clínicos severos.
É claro que há homeopatas sérios e honestos que, em situações complexas ou graves, encaminham os pacientes para os respectivos colegas alopatas. Porém, nem sempre isto é observado, infelizmente. Atribuir, como alguns o fazem, a boa prática médica apenas ao homeopata é induzir as pessoas ao erro, com todo o respeito. Independente de ser alopata, homeopata, acupunturista ou fitoterapeuta, cabe a todos os profissionais da área de saúde sempre buscarem o melhor para os seus pacientes, sem posturas reducionistas ou rígidas. Visão holística do ser humano é obrigação de qualquer profissional, independente de sua especialização ou formação médica. É necessário e fundamental, antes de tudo, que todos nós tenhamos consciência plena dos nossos limites de atuação e indicações clínicas.