por Gilberto Coutinho
Estruturas muito frágeis, paredes delgadas, as veias são vasos sangüíneos que transportam o sangue da periferia, dos tecidos e dos órgãos para o coração. As válvulas em seu interior (em menor número na região da cabeça e pescoço) impedem o sangue de retornar para as extremidades do corpo e garantem seu trajeto em um único sentido.
Originando-se do latim varicosus, o termo varicosa, relativo às varizes, significa dilatada. Considerada uma doença crônica, muito freqüente entre os 30 e 50 anos, as veias varicosas afetam quase 50% dos adultos de meia-idade. As mulheres apresentam cerca de duas a três vezes mais varizes do que os homens. Nos países orientais, a incidência é bem mais baixa: cerca de 20% para mulheres e 10 % para os homens. Alguns estudos mostram maior freqüência entre brancos do que em negros e mulatos. Não obstante, a pele negra pode encobrir varizes de pequeno calibre, gerando-se a impressão de que a incidência da doença seja menor nos negros.
As veias se dilatam por acúmulo de sangue, o que contribui para aumentar a pressão no seu interior, sobrecarregar as válvulas e distender as paredes dos vasos. A fragilidade e a diminuição do tônus dos tecidos, que constituem interna e externamente as veias, dentre outros possíveis defeitos e fatores, predispõem à dilatação das veias e causam danos às válvulas. Quando as válvulas são danificadas, a integridade e o tônus da parede dos vasos sanguíneos tornam-se comprometidos; então, surgem as veias varicosas.
As varizes, dilatações das veias, acometem principalmente os membros inferiores (as coxas e pernas), mais comum na maturidade e durante a gravidez, mas podem também ocorrer em outras partes do corpo: ânus, testículos, região pélvica, esôfago, etc.. Podem ser muito pequenas (microvarizes), moderadas, acentuadas, externas ou internas.
Na antiga Índia, os problemas de varizes eram conhecidos, e a cirurgia plástica já era praticada cerca de 800 a.C.. O grande sábio e terapeuta cirurgião indiano Sushruta, autor do famoso livro de cirurgia Sushruta Samhita (escrito no século IV ou V a.C.), viveu na antiga cidade de Kasi, atualmente conhecida como Varanasi; desenvolveu com perfeição a ciência da cirurgia e plástica, 121 instrumentos cirúrgicos e diversos procedimentos: extração de catarata e amígdalas, cirurgia dentária, reconstituição plástica do nariz e orelha, operações de fístulas anais, drenagem de abscessos, tratamentos de fraturas, amputação de membros, flebotomia (incisão de uma veia) etc… que se tornaram a base dos conhecimentos cirúrgicos e ainda hoje fazem parte da moderna cirurgia. Tal alteração vascular também foi registrada no antigo Egito, por volta de 1550 a.C., no papiro de Ebers e, bem posteriormente, foi citada pelo médico grego Hipócrates, nascido em 460 a.C..
Com a redução da função das veias, a de fazer o sangue retornar de forma efetiva ao coração, ocorre a estagnação sangüínea em diversas regiões onde elas se encontram dilatadas; isso predispõe à inflamação da veia (flebite) e ao agravamento desse quadro, ao surgimento de úlceras na pele (úlceras varicosas) sobre as dilatações e à erisipela (doença cutânea infectocontagiosa aguda, causada por estreptococos). A patologia mais grave das veias encontra-se associada à flebite, que pode conduzir a um quadro de embolia pulmonar. As ulcerações nas veias, em geral, provocam hemorragias de lento escoamento, facilmente detidas por compressão.
Os sintomas mais observados são: sensação de peso nos membros inferiores e dores eventuais de intensidade leve a moderada. Os sinais: veias dilatadas, salientes, azuladas, sinuosas, pequenas ou grandes, presença ou não de protrusão (parte de uma veia que, em condições anormais, encontra-se empurrada para frente) e membros inferiores edemaciados – acúmulo patológico de líquido proveniente do sangue em qualquer tecido ou órgão.
As formas mais graves envolvem a obstrução e defeitos de válvula das veias mais profundas da perna, o que pode ocasionar tromboflebite(inflamação de uma veia associada à formação de um ou de vários coágulos no interior de um vaso sangüíneo, trombose), embolia (obstrução) pulmonar, infarto do miocárdio e apoplexia (perda súbita da consciência associada à parada brusca e mais ou menos completa das funções cerebrais, causada por uma hemorragia cerebral, ou por uma obstrução de uma artéria cerebral).
Diferentes formas de tratamento das varizes foram propostas por diversas culturas ao longo dos séculos. O tempo e a prática se incumbiram de mostrar que a ressecção parcial ou total de uma veia safena (safenectomia) não protegia os portadores de varizes de novas recidivas. Os quadros complicados, quando não tratados adequadamente, podem muito dificultar a vida do portador.
Quais as possíveis causas?
Influência hereditária, fragilidade capilar, perda da integridade da estrutura venosa, mau funcionamento das válvulas, hábitos dietéticos errôneos e estilo de vida nada saudáveis, sedentarismo, gestação (aumenta-se a possibilidade de formação de varizes e de agravamento das já existentes, devido ao aumento da pressão venosa nas pernas), obesidade, permanência em pé por longos períodos, levantamento de grandes pesos, estresse, deficiências nutricionais e de fibras dietéticas, alcoolismo, esforço na defecação (o que pode causar hemorróidas), aumento da produção de radicais livres, uso de drogas e de medicamentos alopáticos em excesso, etc.
Terapêutica
Adotar uma alimentação saudável, rica em vegetais, carboidratos complexos, fibras e frutas. Amoras azuis e pretas, acerola e cerejas são ricas em bioflavonóides (compostos amplamente encontrados no reino vegetal, apresentam ação semelhante à da vitamina C), muito benéficas na prevenção e no tratamento das varizes e hemorróidas, pois fortalecem as paredes dos vasos sangüíneos. Abacaxi, alho, cebola, gengibre e caiena também são recomendados. Praticar exercícios físicos com regularidade e moderação (evitar sobrecargas e impactos). Caminhada, hidroginástica, yoga e andar de bicicleta são atividades físicas extremamente benéficas, pois estimulam os músculos das pernas e coxas a se contraírem e a empurrar o sangue estagnado de volta para a circulação sangüínea. Evitar a permanência em pé por longos períodos. Combater a obesidade. Empregar medidas naturopáticas que possam contribuir para aumentar a integridade do tecido conjuntivo e da parede das veias. Usar meias elásticas.
O tecido conjuntivo, responsável por nutrir, preencher, sustentar, envolver, proteger e reunir os órgãos, os tecidos e as estruturas anatômicas, renova-se a cada três meses. Portanto, para se ter uma resposta terapêutica satisfatória e eficaz, o tratamento das veias varicosas deve prolongar-se no mínimo por seis meses ininterruptos. Somente se deve fazer uso de remédios e medicamentos sob a orientação e a prescrição terapêuticas. Combater a automedicação.
Remédios botânicos: Aesculus hippocastanum (Castanha-da-Índia): aumenta a resistência e o tônus das veias, alivia a dor, ativa a circulação sangüínea, favorece o retorno venoso, previne acidentes vasculares, apresenta propriedades anti-hemorrágicas, antiinflamatórias e vasoconstritoras, diminui a permeabilidade e a fragilidade capilar;
Centella asiatica: (Centela): indicada no tratamento da insuficiência venosa dos membros inferiores e das veias varicosas, combate os processos degenerativos do tecido venoso, melhora a integridade dos vasos sangüíneos, normaliza a circulação venosa de retorno, é antiirritante, refrescante, anticelulítico e previne rugas;
Ginkgo biloba (Ginkgo): estimulante da circulação sanguínea (arterial, venosa e capilar), apresenta ação antiinflamatória, diminui a hiperagregação plaquetária (combatendo processos trombóticos), regulariza a permeabilidade capilar, previne o envelhecimento e combate desordens da memória;
Suplementação nutricional: Beta-caroteno, Vitaminas do complexo B, Vitamina C, Vitamina E, Bioflavonóides, Selênio orgânico, Zinco, extrato da casca do pinheiro Pinus maritimus (poderoso antioxidante, indicado nos distúrbios circulatórios, varizes, fragilidade capilar, edema dos membros inferiores e flebites), bromelaína (princípio ativo das plantas bromeliáceas, onde se destaca o abacaxi; basicamente, é uma enzima que exerce a ação de quebrar a cadeia molecular das proteínas; aplicado no combate das veias varicosas, flebites, tromboses, celulite, insuficiência pancreática e, topicamente, em úlceras externas).