Por Regina Wielenska
Na coluna anterior (veja aqui) fiz menção aos tratamentos farmacológicos e agora vou comentar sobre a psicoterapia como outro precioso recurso.
Na medida em que estressores intensos ou prolongados podem favorecer o surgimento ou a exacerbação da ansiedade, precisamos intervir sobre a forma como o indivíduo lida com essas fontes de sofrimento. A pessoa percebe que fontes são essas? Ela tem habilidades e condições motivacionais de enfrentar a situação que vive?
Um casamento conflituoso, a pressão por desempenho na empresa, o bullying no ambiente escolar e social, transtornos de aprendizagem com fracasso escolar, a violência urbana, os motivos são muitos e podem vir de modo associado.
Parte da terapia é descobrir as fontes do sofrimento e experimentar novas formas de lidar com isso tudo. Parafraseando o lema dos Alcóolicos Anônimos, seria o caso de aprender a enfrentar o que pode ser enfrentado e transformado, de aceitar que certas coisas são o que são e não poderão ser mudadas (que decisões se toma a partir daí?) e de aprender a diferenciar uma instância da outra. Essa jornada de autoconhecimento, tomada de decisões e transformação pode ser difícil e desafiadora. Os terapeutas buscam prover apoio, sempre garantindo autonomia para o cliente, que ele se responsabilize pelas decisões e cresça numa direção existencialmente significativa para ele.
A terapia também precisa oferecer uma psicoeducação sobre o transtorno de pânico, o cliente precisa entender seu inimigo, ser reassegurado, por exemplo, de que a sensação de morte pode vir e que, de fato, não se morre de pânico, a despeito das sensações intensas. O cliente receberá informações relevantes, e por meio da ação do terapeuta pode ter acesso a sites e livros com informações confiáveis, até sua família poderá ser orientada adequadamente.
As sessões de terapia também ensinam ao cliente como lidar com o ataque de pânico propriamente dito. Há uma forma de expiração lenta excelente para evitar o estado de hiperventilação que alguns indivíduos experienciam. Sentem o nó na garganta e acham que falta oxigênio. Daí começam desesperadamente a “puxar o ar”, numa sucessão de inspirações curtas, rápidas e totalmente ineficazes. Agindo assim surge a tontura, o formigamento das extremidades ou na face, a visão fica distorcida. O terapeuta precisa ensinar o oposto da hiperventilação ao cliente, este aprenderá uma expiração lenta, acompanhada de algum relaxamento muscular. Explica-se ao cliente o motivo pelo qual deve preferencialmente permanecer onde estava quando o ataque começou. Se o cliente vai embora para casa e se sente melhor a seguir, acaba achando que o único local seguro serão as dependências do lar. As orientações visam prevenir a agorafobia.
Caso a agorafobia já tenha se estabelecido como parte do quadro clínico, será necessário planejar com o cliente o enfrentamento planejado, gradual e progressivo das situações e locais que passaram a ser evitadas desde que surgiram os ataques. Locais amplos, locais cheios, locais fechados, estar longe de casa, metrô, túneis, cinema, teatro, piscina, banheiro com porta fechada, para cada cliente há uma lista de barreiras a transpor. Também para isso existe a terapia, a meta é recuperar a vida, com qualidade e liberdade.
Clientes inassertivos, com dificuldade de comunicação, pouco resilientes, inábeis frente a frustrações, com timidez excessiva ou outros tantos problemas deverão receber ajuda para enriquecimento de suas habilidades deficitárias. Do mesmo modo, o tratamento deverá levar em conta excessos como abuso de substâncias, jogo patológico, ou alcoolismo. A terapia visa o desenvolvimento global do indivíduo, com foco inicial no pânico.
Encerro assim minha a série de pequenos artigos sobre pânico e agorafobia, esperando que essas informações iniciais tenham colaborado para a disseminação de informações corretas para um maior número de pessoas. Informação nunca é demais!