por Lilian Graziano
É certo que estamos vivendo um momento de crise em nosso país. A confusão é política, econômica e, até mesmo, de valores. Assistir aos telejornais, ir às compras, consultar o saldo ou enfrentar o mercado de trabalho, tão propenso às demissões, não têm sido atividades das mais agradáveis ultimamente. Resistir a tudo isso e persistir na crença de dias melhores, por sua vez, é um grande exercício de resiliência, essa nossa linda capacidade de superar desafios.
Trata-se de uma habilidade tanto genética quanto aprendida. A vida nos prega as peças e nosso modo de enfrentá-las, com bom humor, pragmatismo e otimismo (e certa dose de autocompaixão) nos faz mais resilientes e, consequentemente, mais felizes. Alguns agem assim naturalmente, outros precisam exercitar tais comportamentos e assim enfrentam cada vez melhor as intempéries que vão surgindo. Essa característica, como já a descrevi e disse algumas vezes aqui, tem pautado pesquisas e práticas da Psicologia Positiva na busca desse movimento por aquilo que nos conduz à felicidade.
O que muito se tem ouvido nesses dias, embora quase um clichê – o bordão do "transforme a crise em oportunidade" – é a própria resiliência posta em prática, seja ela fluida, natural, ou fruto de nosso esforço de aprendizagem.
A citação é posta sob enfoque quase sempre econômico, voltada aos empreendedores da vez, mas penso que, diante do turbilhão que se apresenta, o que se vê é não só a virada do jogo nos negócios, mas também a possibilidade de modificarmos nossos comportamentos como indivíduos e cidadãos.
Negócios: plano B
Pensando nos negócios, não seria nada mau tirar da gaveta o velho sonho da empresa própria, apostar num mercado revelado pelo cenário nacional e que bate à nossa porta. Uma demissão, apesar de traumática, a esta altura, pode ser o gatilho dessa nova realidade. O que se configura inicialmente como saída frente ao desespero, aos poucos se transforma em alternativa viável, despertando nossa coragem e esperança.
Como novos empresários ou sobrevivendo na ocupação de sempre, podemos, contudo, pensar e desenvolver novas maneiras de agir: de modo mais eficiente, mais sustentável, mais ético, mais adequado à nossa essência, mais significativo para nossa sociedade, enfim, de um jeito adaptativo ao contexto ou visionário daquilo que desejamos para os próximos dias, meses ou anos vindouros.
Um momento como este, vale reinventar-se. Não porque somos a razão dos obstáculos à nossa frente, mas porque dessa forma produziremos os comportamentos adequados para os efeitos desejados: um país melhor, um mundo melhor, filhos melhores, cidadãos igualmente evoluídos.
Essa visão abrangente, buscando soluções para além das mazelas do dia a dia, visando a um bem maior e coletivo, também faz parte de um pensamento resiliente e, neste caso, reforça uma característica essencial de nossa humanidade: somos sociais e, sobretudo, evoluímos a partir dessa nossa condição. Numa equação como essa, postos resiliência e preocupação social como denominadores comuns, tendo como raiz nossa atuação individual orientada à mudança, o resultado produzido não é mais crise, mas superação e grandes conquistas.