por Patrícia Gebrim
Em tempos urgentes, tendo uma página em branco à minha frente, fecho os olhos por um instante e respiro fundo. Quero que este livro brote da parte mais profunda que habita em mim.
É assim que o que existe de mais significativo surge em nossas vidas, como uma pequena semente de luz, frágil a princípio, com mais potencial para a morte do que para a vida, pois esse tipo de semente não tem em si a força necessária para se fazer brotar. Para isso, precisa de nós. Precisa que acreditemos nela, que derramemos sobre ela nossa esperança, nosso entusiasmo, nossa energia, como faço agora, regando o sonho ao digitar cada linha deste livro.
Pense em quantas coisas belas você já desejou em sua vida. Nas incríveis ideias que teve, nos sonhos que vieram a você, muitas vezes em meio a tormentas e tempestades. Nos anseios que brotaram de seu coração numa tarde qualquer em que a brisa tenha calado sua mente por alguns instantes, a mente destruidora de sonhos. Sim, porque para tornar um sonho realidade, precisamos ser capazes de protegê-lo da ação impiedosa da mente crítica, da exigência que nos faz acreditar que não seremos capazes de fazer algo belo acontecer, das dúvidas que turvam nosso potencial criativo. Estamos aqui para criar.
De onde tiramos essa ideia distorcida de que somos incapazes de produzir o belo?
Como acabamos nos acreditando ser tão menores do que de fato podemos ser?
Lá, nas profundezas de cada um de nós, existe uma fonte inesgotável de beleza, capaz de transformar nossa vida na mais bela melodia, feita de alma e verdade.
Você, acredite, é muito mais do que imagina ser. Quando uma ideia lhe vier à mente, cuide para que seja acolhida e guardada. Tenha uma caixinha preciosa onde você possa acomodar cada sonho e cada anseio que tenha brotado da sua alma. Que sua caixinha seja brilhante por fora, mas macia por dentro. Que seja resistente, pois o mundo ao nosso redor é o grande predador dos sonhos de luz. O mundo de fora tem medo do novo, das sementes, daquilo que não pode controlar. É preciso arriscar. Nunca saberemos exatamente a forma que nossas ideias acabarão por tomar.
Muitas vezes, ao percorrer o caminho que vai da terra dos sonhos à realidade, uma semente sofre uma espécie de mutação. Começa uma coisa. Termina outra. Não importa. Não há necessidade de que a sua criação seja exatamente como você a imaginou a princípio. Mais importante é que você permita que essa energia, que brotou da sua essência, se movimente em direção à superfície da vida, manifeste a si mesma, expanda-se e se expresse como puder. É para isso que todos estamos aqui.
Sem a possibilidade de manifestar nossa essência, a vida se torna uma sequência tediosa de acontecimentos e nos percebemos vivendo, dia após dia, uma vida à qual falta sentido e um significado maior. É assim que vive a maior parte das pessoas.
Às vezes é preciso fechar os olhos para que possamos enxergar o que de verdade importa. Fechei meus olhos agora e, por alguns instantes, vislumbrei um mundo feito de gente que cuida de gente, e de bichos, e de árvores, e montanhas, e rios. Que cuida até mesmo das aranhas, das hienas e dos urubus de cara feia e hálito ruim. Meus olhos se abriram e uma gota feliz rolou em direção à terra fértil.
Sorri, e pensei:
– É assim que regamos sonhos…
Extraído do livro de Patrícia Gebrim “Deixe a Selva para os leões – Inspirações para bem viver nos dias de hoje”